passas
mas te assentas em mim
como ideal de eterno feminino
minto
vejo-te como só um clarão repentino
e subitamente
és o esboço de um segundo de sombra
E embora eu tivesse tudo de mim pra te contar
e embora do todo de ti quisesse saber
fugiu-se até a idéia de pegada das tuas trilhas
mas um zunido no ar ecoa
berro de voz de nuvem
são os diamantes de acaso que forjei
a partir das inúmeras ilusões que imaginei de ti
sem nem saber seu nome
e hoje tens toda uma roupa de inverno
e amanhã, no meio da avenida,
vens toda de nu
e me ajoelho
e no outro dia sequer você existiu mais do que um segundo
nossos corpos não seriam suficientes para as incertezas da carne
para a ilusão do contrato pelo corpo
do físico como compromisso
E ao invés disso
te festejo como o insólito das coisas
dou-te a parte inteira do desconhecido de mim
espero o personagem que fazes de mim e que farás de novo e de novo
e novamente a qualquer instante
Pois sei bem que indubitavelmente farei o mesmo de ti e refarei
mas passas
e quando passas te carrego
e esqueço
mas voltas
em voltas
intermitências
Não és exata e nem quero que sejas
não és amor
tampouco desejo-te desta maneira
não és também contemplação artística
e por não saber te definir
te sigo pela rua
sou um flaneur de teu debuxo imponderável
quero mesmo é conhecer jamais
o nunca que saberei de ti.
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
terça-feira, 29 de setembro de 2009
uma coisa
Eu me escorrego
de mim mesmo
me chamam
Carlos
Cadu
Ranea
Eduardo
Carlos Eduardo
Frango
Carlão
Adolfo
Felipe
branco
Brancão
Limão
Macarrão
thuchithuchi
du
dudu
edu
amor
cá
menino
...
e por vezes até me mentiram belo
e me homenagearam mal.
e por vezes até me chamaram de ridículo
insinuando algumas vezes: filho da puta
- talvez até no sentido bom de tudo isso.
Mas o que sei ( ou será que fingi?)
na verdade,ou pode até ser mentindo
é que não pertenci a nemhum destes nomes
e emprestei-os a mim mesmo às vezes
- sem querer e adorando...
e no lidimo da vida
sequer sei se fui
ou se sou( Será?)
simplesmente uma coisa.
de mim mesmo
me chamam
Carlos
Cadu
Ranea
Eduardo
Carlos Eduardo
Frango
Carlão
Adolfo
Felipe
branco
Brancão
Limão
Macarrão
thuchithuchi
du
dudu
edu
amor
cá
menino
...
e por vezes até me mentiram belo
e me homenagearam mal.
e por vezes até me chamaram de ridículo
insinuando algumas vezes: filho da puta
- talvez até no sentido bom de tudo isso.
Mas o que sei ( ou será que fingi?)
na verdade,ou pode até ser mentindo
é que não pertenci a nemhum destes nomes
e emprestei-os a mim mesmo às vezes
- sem querer e adorando...
e no lidimo da vida
sequer sei se fui
ou se sou( Será?)
simplesmente uma coisa.
Antropolofábula
Era uma vez ou fora talvez. O antropólogo observava a apropriação do forno à lenha, tão obsoleto para suas mãos finas de controles remotos e seus dedos grossos de apertar botões.
Quem se apropriava era a tribo de bichos. Pensados provavelmente como alienígenas, visto o caráter imensamente repentino de sua aparição.
Eles olhavam o objeto. Contemplavam-no. E o antropólogo os admirava em sua contemplação. Queria entendê-los, investigá-los. Não podia sê-los, mas desejava ao menos conhecer o composto que dava aquela cor inexprimível de suas peles, se é que ele podia chamá-la disso.
O que não percebia, no entanto, era que ele também passava por uma tentativa de interpretação, que quem sabe cheiravam-no, quem sabe pensavam-no , quem sabe ..... (e o verbo aqui deveria passar por uma pesquisa etnográfica?) uma espécie de ser rudimentar ou extremamente evoluído. Ou quem sabe como?
O antrópólogo lembrou-se de um livro de Aristóteles. Como passar a eles Aristóteles? Será que eles não veriam apenas naquele livro um objeto de fetiche, um pensamento rude, grosseiro, ingênuo? E do contrário, questionava-se, será que ele mesmo não acharia o pensamento de séculos, muito possivemente, ou de outras maneiras de conceber o tempo, algo simplesmente bobo?
E suas mulheres, seus homens, filhos... existiria distinções, existiriam famílias, sexo?
E os outros seres observavam o antropólogo. Ou faziam alguma coisa que este último não conseguia nem ponderar sobre o sentido ou assunto.
Mas como sabê-los? Ao menos supô-los?
Sem entender como, foi morar com os seres em alguma parte. Ou eles é que foram morar em parte alguma com o antropólogo...
Deu nisso:
O antropólogo um dia tenha escrito um romance, os outros seres enfiaram alguma coisa em algum lugar possivelmente para a posteridade... bem o antropólo foi quem sugeriu esta interpretação da manifestação única. Ficaremos com sua opinião até que venha uma nova ou mudaremos sem motivo.
Um dia alguém achou algo plantado num buraco negro ou outra manifestação espaço-temporal. E qual foi sua surpresa ao pensar que existiam duas inimagináveis coisas, ou o que valha, no mundo.
Teria sido uma vez, fora, ou era? Não sei, nem eu mesmo entendo destes assuntos.
Quem se apropriava era a tribo de bichos. Pensados provavelmente como alienígenas, visto o caráter imensamente repentino de sua aparição.
Eles olhavam o objeto. Contemplavam-no. E o antropólogo os admirava em sua contemplação. Queria entendê-los, investigá-los. Não podia sê-los, mas desejava ao menos conhecer o composto que dava aquela cor inexprimível de suas peles, se é que ele podia chamá-la disso.
O que não percebia, no entanto, era que ele também passava por uma tentativa de interpretação, que quem sabe cheiravam-no, quem sabe pensavam-no , quem sabe ..... (e o verbo aqui deveria passar por uma pesquisa etnográfica?) uma espécie de ser rudimentar ou extremamente evoluído. Ou quem sabe como?
O antrópólogo lembrou-se de um livro de Aristóteles. Como passar a eles Aristóteles? Será que eles não veriam apenas naquele livro um objeto de fetiche, um pensamento rude, grosseiro, ingênuo? E do contrário, questionava-se, será que ele mesmo não acharia o pensamento de séculos, muito possivemente, ou de outras maneiras de conceber o tempo, algo simplesmente bobo?
E suas mulheres, seus homens, filhos... existiria distinções, existiriam famílias, sexo?
E os outros seres observavam o antropólogo. Ou faziam alguma coisa que este último não conseguia nem ponderar sobre o sentido ou assunto.
Mas como sabê-los? Ao menos supô-los?
Sem entender como, foi morar com os seres em alguma parte. Ou eles é que foram morar em parte alguma com o antropólogo...
Deu nisso:
O antropólogo um dia tenha escrito um romance, os outros seres enfiaram alguma coisa em algum lugar possivelmente para a posteridade... bem o antropólo foi quem sugeriu esta interpretação da manifestação única. Ficaremos com sua opinião até que venha uma nova ou mudaremos sem motivo.
Um dia alguém achou algo plantado num buraco negro ou outra manifestação espaço-temporal. E qual foi sua surpresa ao pensar que existiam duas inimagináveis coisas, ou o que valha, no mundo.
Teria sido uma vez, fora, ou era? Não sei, nem eu mesmo entendo destes assuntos.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
coisa qualquer
eu estou pronto
para a epifânia
que me entregas
todo o desconhecido abrindo um furo no meu bojo
inimaginavelmente
não compreendo nem um pouco de ti
ou de qualquer coisa
nem acredito em amor
ou
na depressão do nada
mas aceito a surpresa
que me entregas
ela me enoja e me fascina
mas nunca terá de mim a insipidez da razão
ou a ternura exagerada
será apenas uma coisa qualquer
e por isso mesmo
todas as fantasias
caberão nela.
para a epifânia
que me entregas
todo o desconhecido abrindo um furo no meu bojo
inimaginavelmente
não compreendo nem um pouco de ti
ou de qualquer coisa
nem acredito em amor
ou
na depressão do nada
mas aceito a surpresa
que me entregas
ela me enoja e me fascina
mas nunca terá de mim a insipidez da razão
ou a ternura exagerada
será apenas uma coisa qualquer
e por isso mesmo
todas as fantasias
caberão nela.
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
até me dá vontade de chorar
e choro
a pele como pupila
desatando pelo movimento do corpo
como numa dança
todo o acúmulo de adensamentos enjaulados
toda a expansão sequestrada
pelos parâmetos coesos do aparato social da vergonha
ou da tristeza
e choro
choro como se gozasse
o prazer lícito
de jorrar-se de tudo pra fora
num jato certeiro
a adrenalina como desculpa esfarrapada
a pilhação vinda sem a incumbência hormonal
jorro e choro
sou veneno
lágrima ácida que mata
decompõe e oblitera
até que o vapor redivivo
se solidifique
no corpo de novo
feito de lágrima dura
totalmente sólida.
e choro
a pele como pupila
desatando pelo movimento do corpo
como numa dança
todo o acúmulo de adensamentos enjaulados
toda a expansão sequestrada
pelos parâmetos coesos do aparato social da vergonha
ou da tristeza
e choro
choro como se gozasse
o prazer lícito
de jorrar-se de tudo pra fora
num jato certeiro
a adrenalina como desculpa esfarrapada
a pilhação vinda sem a incumbência hormonal
jorro e choro
sou veneno
lágrima ácida que mata
decompõe e oblitera
até que o vapor redivivo
se solidifique
no corpo de novo
feito de lágrima dura
totalmente sólida.
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Mais desvalia.
- Você tem que pagar mais horas de serviço pelas suas faltas relativas à doença.
(e eu tinha trabalhado hora extra mais extra do que uma vez pensara poder fazer só naquela semana)
- Está bem. É pra isso que eu sirvo.
Junto ao sabor das balinhas de goma recém mastigadas, a gargalhada irrompeu
sem eu nem saber o porquê.
(e eu tinha trabalhado hora extra mais extra do que uma vez pensara poder fazer só naquela semana)
- Está bem. É pra isso que eu sirvo.
Junto ao sabor das balinhas de goma recém mastigadas, a gargalhada irrompeu
sem eu nem saber o porquê.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
1
a coruja
sem dar um pio
e Sofia,
só fia.
2
O trabalho assalariado de 8 horas
fez também da biblioteca
manual de usuário.
3
a pedra branca na narina
fez do pó da rabiola
fogo de artifício.
4
e uma mão veio do céu...
o avião atômico tinha explodido.
5
o diabo bateu à porta do inferno
alguém o despejara.
Quando ele olhou direito:
era só um homem , um terno , uma maleta
mas pobre demais prum banco da Suíça.
a coruja
sem dar um pio
e Sofia,
só fia.
2
O trabalho assalariado de 8 horas
fez também da biblioteca
manual de usuário.
3
a pedra branca na narina
fez do pó da rabiola
fogo de artifício.
4
e uma mão veio do céu...
o avião atômico tinha explodido.
5
o diabo bateu à porta do inferno
alguém o despejara.
Quando ele olhou direito:
era só um homem , um terno , uma maleta
mas pobre demais prum banco da Suíça.
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
voz
Minha mente era um cano. Um cano como um telescópio. De dentro dele, do escuro, veio o vento daquela estrela longínqua. Mas não era estrela, era um instante. E o lirismo sub-repticiamente caiu como cascata nos meus ouvidos, mas como se tivesse caído nos meus olhos, sussurrando-se pelas lágrimas que íam descendo. E nem reparara mas era mar. Alastrava-me. Denso e informe. Quanto notei o sol tinha meu corpo ou era eu que ensolava? Estava lá, e você dizia, na praia: Faz belo dia. E quando me olhou, meu corpo de horizonte não acabava. pensou-me infinito. E no fundo eu só podia ser salgado... e foi que você lembrou da areia e viu meu rosto sobre ela... percebeu depois minha vida voando no zéfiro, contornando a cor do dia, levemente empoeirando tudo. Um leve brilho na minúscula pedra de areia, eu era agora um cintilar, um corisco. E você nem me sabia mais. Mas foi o seu canto, o seu canto, que era agora pássaro com sua asa roçando o meu rosto, acolhendo-me na pequena pluma quente,teu canto desuniformizado, nu, teu canto de fruta sulgada, mordida, chupada, teu canto, voz mais sensação do que voz, teu canto e eu no mar com as sereias e as sereias estavam na tua saliva, na tua língua, na tua... e a transformação findou-se. A tua voz que era?
Abstrata... e de tão, não me surrupiou o desejo, trouxe-me também o silêncio e o toque prolongado, o toque macio de silêncio do corpo.
Abstrata... e de tão, não me surrupiou o desejo, trouxe-me também o silêncio e o toque prolongado, o toque macio de silêncio do corpo.
par-tir
a par de partir
me pôr em ímpar
como o parco barco
díspar
que se parte
parado e sumido
des-par e sendo
a parte.
me pôr em ímpar
como o parco barco
díspar
que se parte
parado e sumido
des-par e sendo
a parte.
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Símilio.
.......................................................A Fábio Alarcon.
Símilio apaixonara-se por seu espelho. Pensara talvez que pudesse um dia adentrá-lo, permanecer naquele espaço vivo, agindo no cerne do recinto vítreo. No intuito de realizar sua quimera, contemplava-se todo dia, até que sua pele pudesse se reformular, desfazendo-se de materialidade e transformando-se numa espécie de contorno, abrigo ou cela da voluptuosidade pictórica das cores. Mas o fato não ocorria. Toda sua vontade de projeção se petrificava no límite do liame entre o tato e o visível. Foi quando um dia,ao abrir uma janela, uma luz sussurrou-se, alastrando-se de veemente por todo o seu quarto e tocando de um enorme brilho o espelho. Uma certa cintilação abrasou todo aquele espaço e tornou-se um clarão... Símilio teve de tapar brevemente os olhos, uma era se passava. Abriu-os novamente, a luz ainda intensa em sua sede de esclarecer tudo, de trazer à tona toda a película da minúcia, aquela iluminação dilatou-lhe a pupila. Luzes no espelho. Finalmente ele concebeu. Não, de forma alguma, não havia distância entre aquele que concebia ser "ele-mesmo" e o outro que via. Entendeu, enfim, que tudo o que estava ali e que era tido como seu reflexo, na verdade, era apenas sua visão das coisas. O universo inteiro, portanto, por ser externo, de fato, era só a incomensurabilidade de seu próprio ser.
Símilio se envaideceu e se estarreceu: "então tudo sou eu... se me detenho nas coisas, se a tenho como objeto, elas são , de fato, apenas uma projeção minha? E que sou eu, assim, senão um rio que destila a água pro mundo e no final percebe que a água só correu pelo mesmo rio sempre?" E ficou absorto com a possibilidade de si mesmo como infinito, seu eu algo sempre projétil, sempre mais longe, afastando-se, evoluindo-se , criando todos os espaços, as coisas, os seres... tudo se organizava e evoluía porque Símilio existia e era o deus feitor e, por isso mesmo, Símilio também acompanhava o ritmo desta evolução, esperando o ponto em que finalmente a sua própria transcendência cíclica levasse o universo ao além do indizível...
Inopinadamente o espelho se quebrou.
Símilio, com efeito, não havia notado, mas suas pálpebras sequer haviam aberto durante toda sua digressão. Aquilo, toda aquela idéia, parecia, percebendo melhor, apenas uma espécie de delírio. Não, o pensamento de que a amplidão pudesse ser ele, aquilo fora apenas um instante perdido num átimo de introspecção. Era como se ele tivesse acordado de um sonho em que a significação de cada particularidade, de cada detalhe, pudesse ser explicada como sendo efeito de um narcisismo. Símilio assustou consigo. Outra era passada? Como podia ter feito aquilo? Como podia ter acreditado um milésimo sequer em si mesmo e em sua mente confusa ou perdida? Observou os estilhaços do espelho no chão. não conseguia em nenhum deles ver nem um milimetro de sua própria face. Era como se as coisas quisessem negá-lo, como se elas quisessem mostrar a indiferençca que tinham em relação a ele, era como se elas quisessem castigá-lo por ter aniquilado sua existência. Todas estavam cansadas de serem os objetos apropriados, as matérias-primas, e quisessem revoltar-se mostrando a Símilio como ele é quem poderia ser objeto delas, ou quem sabe, uma entidade em disputa pelo espaço no universo.
Símilio agora teria de se aceitar como mais alguma coisa ou mais qualquer. o que fosse. E suas dúvidas naquele momento pareciam vomitá-lo de si mesmo, não mais como alguém que pudesse compreender ou sequer controlar o que se passava internamente em seu corpo, contudo, todo seu organismo se manifestava de maneira impossível e o descontrole prostava-o a sua própria tentativa de buscar razões. Seus dentes cresciam e ele só podia coça-los, seus pés empelavam mais e mais e ele só podia sentir os pêlos saindo sem atinar motivos ou razões... Pensava-se um animal, mas ao se olhar, seu olhar ainda tentava fugazmente organizar toda a complexidade das formas, seu olhar tentava moralizar tudo, pintar tudo de uma tinta inteligível, mas tudo o que ele tentasse, redundava num mal estar, numa sensação de incapacidade de compreender profunda... ele sentia que não havia mais nada por dentro de si, seu intestino sequer tinha existido, os outros orgãos então, haviam sido um dia um mito, não, ele só podia............... e nem isso...
Um escuridão vinda de dentro dos olhos de Símilio cancelou sua capacidade de entendimento. O quarto tornou-se a sombra sem a lembrança do claro. E não se sabe se isto deve-se a ele conceber a si mesmo como o impossível de ver, ou se o quarto é que se tornara todo não-luz, sem o intervir da ação humana. Mas, de fato, quem poderia testemunhar, quem buscaria achar uma iluminação, quem saberia suscitar a silhueta do abismo ou o furo de uma bala perdida no meio de uma nuvem? Ele observou a face do espelho. E não viu um reflexo ao menos, só o rosto sem-imagem do espelho. Isso percebera. Antes de não conseguir mais nem perceber, nem pensar, nem se mover. nem.
Símilio fosse só um espelho sem corpo ou imagem.
Símilio apaixonara-se por seu espelho. Pensara talvez que pudesse um dia adentrá-lo, permanecer naquele espaço vivo, agindo no cerne do recinto vítreo. No intuito de realizar sua quimera, contemplava-se todo dia, até que sua pele pudesse se reformular, desfazendo-se de materialidade e transformando-se numa espécie de contorno, abrigo ou cela da voluptuosidade pictórica das cores. Mas o fato não ocorria. Toda sua vontade de projeção se petrificava no límite do liame entre o tato e o visível. Foi quando um dia,ao abrir uma janela, uma luz sussurrou-se, alastrando-se de veemente por todo o seu quarto e tocando de um enorme brilho o espelho. Uma certa cintilação abrasou todo aquele espaço e tornou-se um clarão... Símilio teve de tapar brevemente os olhos, uma era se passava. Abriu-os novamente, a luz ainda intensa em sua sede de esclarecer tudo, de trazer à tona toda a película da minúcia, aquela iluminação dilatou-lhe a pupila. Luzes no espelho. Finalmente ele concebeu. Não, de forma alguma, não havia distância entre aquele que concebia ser "ele-mesmo" e o outro que via. Entendeu, enfim, que tudo o que estava ali e que era tido como seu reflexo, na verdade, era apenas sua visão das coisas. O universo inteiro, portanto, por ser externo, de fato, era só a incomensurabilidade de seu próprio ser.
Símilio se envaideceu e se estarreceu: "então tudo sou eu... se me detenho nas coisas, se a tenho como objeto, elas são , de fato, apenas uma projeção minha? E que sou eu, assim, senão um rio que destila a água pro mundo e no final percebe que a água só correu pelo mesmo rio sempre?" E ficou absorto com a possibilidade de si mesmo como infinito, seu eu algo sempre projétil, sempre mais longe, afastando-se, evoluindo-se , criando todos os espaços, as coisas, os seres... tudo se organizava e evoluía porque Símilio existia e era o deus feitor e, por isso mesmo, Símilio também acompanhava o ritmo desta evolução, esperando o ponto em que finalmente a sua própria transcendência cíclica levasse o universo ao além do indizível...
Inopinadamente o espelho se quebrou.
Símilio, com efeito, não havia notado, mas suas pálpebras sequer haviam aberto durante toda sua digressão. Aquilo, toda aquela idéia, parecia, percebendo melhor, apenas uma espécie de delírio. Não, o pensamento de que a amplidão pudesse ser ele, aquilo fora apenas um instante perdido num átimo de introspecção. Era como se ele tivesse acordado de um sonho em que a significação de cada particularidade, de cada detalhe, pudesse ser explicada como sendo efeito de um narcisismo. Símilio assustou consigo. Outra era passada? Como podia ter feito aquilo? Como podia ter acreditado um milésimo sequer em si mesmo e em sua mente confusa ou perdida? Observou os estilhaços do espelho no chão. não conseguia em nenhum deles ver nem um milimetro de sua própria face. Era como se as coisas quisessem negá-lo, como se elas quisessem mostrar a indiferençca que tinham em relação a ele, era como se elas quisessem castigá-lo por ter aniquilado sua existência. Todas estavam cansadas de serem os objetos apropriados, as matérias-primas, e quisessem revoltar-se mostrando a Símilio como ele é quem poderia ser objeto delas, ou quem sabe, uma entidade em disputa pelo espaço no universo.
Símilio agora teria de se aceitar como mais alguma coisa ou mais qualquer. o que fosse. E suas dúvidas naquele momento pareciam vomitá-lo de si mesmo, não mais como alguém que pudesse compreender ou sequer controlar o que se passava internamente em seu corpo, contudo, todo seu organismo se manifestava de maneira impossível e o descontrole prostava-o a sua própria tentativa de buscar razões. Seus dentes cresciam e ele só podia coça-los, seus pés empelavam mais e mais e ele só podia sentir os pêlos saindo sem atinar motivos ou razões... Pensava-se um animal, mas ao se olhar, seu olhar ainda tentava fugazmente organizar toda a complexidade das formas, seu olhar tentava moralizar tudo, pintar tudo de uma tinta inteligível, mas tudo o que ele tentasse, redundava num mal estar, numa sensação de incapacidade de compreender profunda... ele sentia que não havia mais nada por dentro de si, seu intestino sequer tinha existido, os outros orgãos então, haviam sido um dia um mito, não, ele só podia............... e nem isso...
Um escuridão vinda de dentro dos olhos de Símilio cancelou sua capacidade de entendimento. O quarto tornou-se a sombra sem a lembrança do claro. E não se sabe se isto deve-se a ele conceber a si mesmo como o impossível de ver, ou se o quarto é que se tornara todo não-luz, sem o intervir da ação humana. Mas, de fato, quem poderia testemunhar, quem buscaria achar uma iluminação, quem saberia suscitar a silhueta do abismo ou o furo de uma bala perdida no meio de uma nuvem? Ele observou a face do espelho. E não viu um reflexo ao menos, só o rosto sem-imagem do espelho. Isso percebera. Antes de não conseguir mais nem perceber, nem pensar, nem se mover. nem.
Símilio fosse só um espelho sem corpo ou imagem.
papilas degustativas.
pela pétala da noite
fazer como húmus
esse pequeno pedaço clorificado
amordaçá-lo de clorofila.
trazê-lo nos dentes
o sangue enxundioso sobre as gengivas
espinhos e
a saliva feita menorréia
e o falar como ferida
de mim expõem-se detalhes de orquídeas como espaços incansáveis de pássaros perdidos
sobra pois o pequeno molusco
molenga-lengas de uma fatiguez desenfreada
e a reminiscência de um eletrodoméstico apertado, comprimido,
até a falta do dedo.
Quem acordará esta manhã
o homem, a maçã, o despertador?
Todos resolutos.
da furada epiderme azul
reluz úmida
a baixez das plantas
Não podemos ser gigantes
só mercúrio
coagulando entre as papilas degustativas.
fazer como húmus
esse pequeno pedaço clorificado
amordaçá-lo de clorofila.
trazê-lo nos dentes
o sangue enxundioso sobre as gengivas
espinhos e
a saliva feita menorréia
e o falar como ferida
de mim expõem-se detalhes de orquídeas como espaços incansáveis de pássaros perdidos
sobra pois o pequeno molusco
molenga-lengas de uma fatiguez desenfreada
e a reminiscência de um eletrodoméstico apertado, comprimido,
até a falta do dedo.
Quem acordará esta manhã
o homem, a maçã, o despertador?
Todos resolutos.
da furada epiderme azul
reluz úmida
a baixez das plantas
Não podemos ser gigantes
só mercúrio
coagulando entre as papilas degustativas.
terça-feira, 15 de setembro de 2009
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Merdopéia - retrovisão.
1
o papel tinha acabado
faltava ainda...
limpar o restinho.
2
a merda como vício
como ópio
épicamente navegante
nos estranhos entranhos.
3
disseram um verso profundo
eu disse:
- profundo, um vaso.
e tudo desceu.
só ficou no ar o eco da descarga.
4
o esgoto
e o estômago
um perfume em espelho?
5
diarréia
saindo de todos os lugares:
mas a população toda se esquece
de que todo mundo tem cu.
6
e a vidente ficou com vergonha
de me dizer o que seria sempre a minha vida.
Só o cheiro já foi o suficiente para ela tapar a boca
e as narinas.
7
o banheiro
e o trono
no centro
o cetro
deixasse
o ouro
líquido
não fosse
o burguês
despejando
o excremento
de seu excesso
de acúmulo
bruto.
8
só na porta dos fundos
ou será
que quer fazer a feze
projeção
ao infinito?
9
a vida é isso.
de repente, veloz
a iluminação veio.
Pum.
10
Questão vetorial
a bosta revoltou
lá dentro
este processo inverso
vomitou da língua
toda a anal inspiração.
11
por quê tanta cagada na vida?
Porque o cu só acaba
quando a morte o enterra
sem saída.
o papel tinha acabado
faltava ainda...
limpar o restinho.
2
a merda como vício
como ópio
épicamente navegante
nos estranhos entranhos.
3
disseram um verso profundo
eu disse:
- profundo, um vaso.
e tudo desceu.
só ficou no ar o eco da descarga.
4
o esgoto
e o estômago
um perfume em espelho?
5
diarréia
saindo de todos os lugares:
mas a população toda se esquece
de que todo mundo tem cu.
6
e a vidente ficou com vergonha
de me dizer o que seria sempre a minha vida.
Só o cheiro já foi o suficiente para ela tapar a boca
e as narinas.
7
o banheiro
e o trono
no centro
o cetro
deixasse
o ouro
líquido
não fosse
o burguês
despejando
o excremento
de seu excesso
de acúmulo
bruto.
8
só na porta dos fundos
ou será
que quer fazer a feze
projeção
ao infinito?
9
a vida é isso.
de repente, veloz
a iluminação veio.
Pum.
10
Questão vetorial
a bosta revoltou
lá dentro
este processo inverso
vomitou da língua
toda a anal inspiração.
11
por quê tanta cagada na vida?
Porque o cu só acaba
quando a morte o enterra
sem saída.
o ou
ser quiçá ou o
artigo
ou nem mesmo o zero
e toda vida ou círculo
e sem ou eterno
ou será que sobretudo oblíquo-o?
ou será ainda
ou?
artigo
ou nem mesmo o zero
e toda vida ou círculo
e sem ou eterno
ou será que sobretudo oblíquo-o?
ou será ainda
ou?
algo como
sou algo como um ruído alto
..............................................................e afastado
um passo pressuroso e acelerado
num ritmo de
descompromisso
pés em valsa
e patas de elefantes
e as mãos fluidas
e pesadas -
entre o comprimir
e o quase relar...
e os olhos e quem sabe alcance
a estrela cega no esclarecer da noite.
e sobre as ondas de águas paradas
o corpo: a expressão e o silêncio.
..............................................................e afastado
um passo pressuroso e acelerado
num ritmo de
descompromisso
pés em valsa
e patas de elefantes
e as mãos fluidas
e pesadas -
entre o comprimir
e o quase relar...
e os olhos e quem sabe alcance
a estrela cega no esclarecer da noite.
e sobre as ondas de águas paradas
o corpo: a expressão e o silêncio.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
precisamos de um satélite
pra quebrar o silêncio,
mas não é esse silêncio
o melhor de tudo?
pra que dizer
soltar os furacões dizimadores
arrasar cidades,montanhas,
e até a aurora no horizonte
por causa de uma demanda de palavra...
por causa de uma ansiedade de voz?
por quê essa necessidade de megafones?
de discursos públicos, privados, íntimos?
pra quê tanta vontade de certeza?
Não é o acaso quiçá o que há de bom nisso?
E queres a segurança de uma casa
de um planeta
queres a presença sólida de tudo
e eu só quero ser a água
que tem o aspecto da imprecisão
e o corpo
conforme a silhueta do copo
do lago
do poço
do oceano
do...
e eu, eu que só quero a sombra
a ética sombra
de não saber o que será
desse meio-dia, dessa meia-noite,
desse meio-tempo...
e eu, que só quero um véu negro difuso
ou o sol neblinosamente sorrateiro
a visão do de repente - de chofre.
e o descompromisso
o desapego de
um dia sequer
procurar
meu nome prever
mas tenho o ouvido aberto
em silêncio
pra qualquer nuance do vazio
ou qualquer contorno
do intrigante inesperado
estou na camada do incrível...
pra quebrar o silêncio,
mas não é esse silêncio
o melhor de tudo?
pra que dizer
soltar os furacões dizimadores
arrasar cidades,montanhas,
e até a aurora no horizonte
por causa de uma demanda de palavra...
por causa de uma ansiedade de voz?
por quê essa necessidade de megafones?
de discursos públicos, privados, íntimos?
pra quê tanta vontade de certeza?
Não é o acaso quiçá o que há de bom nisso?
E queres a segurança de uma casa
de um planeta
queres a presença sólida de tudo
e eu só quero ser a água
que tem o aspecto da imprecisão
e o corpo
conforme a silhueta do copo
do lago
do poço
do oceano
do...
e eu, eu que só quero a sombra
a ética sombra
de não saber o que será
desse meio-dia, dessa meia-noite,
desse meio-tempo...
e eu, que só quero um véu negro difuso
ou o sol neblinosamente sorrateiro
a visão do de repente - de chofre.
e o descompromisso
o desapego de
um dia sequer
procurar
meu nome prever
mas tenho o ouvido aberto
em silêncio
pra qualquer nuance do vazio
ou qualquer contorno
do intrigante inesperado
estou na camada do incrível...
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
A testemunha.
a espada - você não vai dizer nada?
a tentativa de testemunha - mas, por quê eu?
a espada - você é a única testemunha... tem que saber algo.
a tentativa de testemunha - mas eu não sei.
a espada - Você estava lá! Nós descobrimos, não minta...
a tentativa de testemunha - Eu devia estar, não me lembro... eu estou confuso, cansado. Não sei nem direito o que aconteceu...
a espada - não seja mentiroso, o sr. sabe que pode ser preso por isto.
O escudo - Isso está parecendo a Inquisão, por favor, meritíssimo... isso é irregular!
a forca - negado.
o escudo - negado, é isto que o vossa excelêcia tem a me dizer?
a forca - queria colo é?
a espada - eu prosseguirei, vossa excelência... O sr. alega não ter visto nada?
a tentativa de testemunha- não sei... talvez eu tenha visto... ou talvez não? Eu não acho que deveria estar aqui. Eu não posso ajudar em nada.
a espada- isso é o que o sr pensa. Já está ajudando, quanto menos diz e quanto mais pausas faz, mais nós concluímos inúmeras coisas. Anotem tudo o que o subconsciente dele disser.
o escudo - como assim? merítissimo, ele não tem controle sobre isso, por favor...
a forca - ora, como não, tá no corpo dele, não tá? Então ele deve ter controle. Vocês estão aqui, não estão, e eu os controlo, não é? HAHAHAHAHA
o escudo - está tudo ilógico... ele é apenas a testemunha, não pode ser acusado. Ele não está fazendo nada.
a espada - como não, meritíssimo? O fato dele estar aqui implica ele fazer algo.
a forca - sim, promotor... o quê, é o que eu não sei! ahahahaha O que sugere o júri?
- ...? ...! ..., ....,.........? !!!!! ééééé .....!!! ?!
a forca - É claro. mas os senhores decidem?
-
a forca - excelente! prossigamos. O promotor dizia.
a espada - Bom, já que ninguém decidiu que a testemunha é culpada, entramos nun concenso de que ela é culpada mesmo.
o escudo- Peraí, mas quem é que poderia confiar na opinião de ninguém?
a espada- ora, deixe de bobagem, todos nós sabemos que todo mundo sabe que todo mundo é ninguém.
a tentativa de testemunha- eu não fiz nada. Eu juro.
a espada - Este é o problema. Se você tivesse feito, não estaria aqui. Você não percebe que é culpado por não ver o que deveria ter visto? e outra coisa, quem jura aqui é o júri.
a tentativa de testemunha- eu peço desculpas, mas porque eu deveria ter visto?
a forca - isso é uma blasfêmia! Mais uma e chamamos os guardas... ah, eles já estão aí?
Que beleza!
a tentativa de testemunha- eu sou inocente.
a forca - quem foi que te disse isso?
a espada - O insconciente dele disse o oposto!
a forca - e aí, como você explica isso?
a tentativa de testemunha - eu não sei, como posso saber?
a forca - o insconciente é seu não é?
a tentativa de testemunha - sim de fato.
o escudo - merítisso, meu cliente está louco, ele não consegue nem reconhecer o próprio consciente, como poderá reconhecer o inconsciente?
a forca - tragam o insconciente dele aqui. Bem, aí está o senhor, seu danadinho? Pregando peças em todos, né?
a espada - Ele se recusa a falar meritíssimo...
a tenatativa de testemunha - porra, fala meu insconciente, fala!
a espada - um , ele está falando com um outro eu dele, o dono do insconciente...tsc tsc
a forca - ele é um esquizofrênico!
a espada - hum...você está enrascado, meu amigo... mentiroso e ainda esquizofrênico.
a tentativa de testemunha- eu não sou isso.
a espada - está bem, você não é. mas quem é que vai acreditar em você?
a tenativa de testemunha- eu.
a espada - mas nem o seu próprio insconciente acredita... você se equivoca.
a tentatia de testemunha- eu sei de mim.
a forca - iiii, sabe nada. mas , calma, a gente vai ajudar você a aprender. Mandem-no pra escola.
a tenativa de testemunha- Serei aluno?
a espada - é quase isso... você vai fazer os seus deveres, aprender a prestar atenção e a ficar sentado, como você está fazendo agora. Tenho certeza que você vai gostar.
o escudo - ai...
a tentativa de testemunha - mas, meu deus, por que sou culpado?
a forca - é, deus seria seu cúmplice se ele estivesse aqui. Mas como há séculos ele não vem pras audiências, ele foi demitido eternamente.
a espada - Meritíssimo, ele não chegou a morrer um dia desses?
a forca - de fato, de fato, eu tinha me esquecido... então a pena dele agora é morrer pra eternamente.
Aplausos.
a forca - E sem ele, melhora ainda mais a sentença. É o seguinte: tomo mundo aqui quer saber a verdade sobre o acontecido.
a tentativa de testemunha - eu não quero saber mais de nada, me deixem em paz, me deixem viver sem saber.
a forca - Não, não. Acalme-se, de tudo o que acontecer, você será o primeiro a saber.
a espada - E você acredita nisso, meritíssimo.
a forca - mas é claro que não. quem ter que saber é ele. Nós apenas somos aqueles que fazem com que ele saiba disso.
o escudo - mas, merítissimo, e o criminoso de verdade?
a forca - ele nunca esteve aqui.
o escudo - Como assim?
a forca - é isso mesmo o que você ouviu.
o escudo - Então pra quê tudo isso?
a forca - pra quê as coisas tem que ter um pra quê? Nós fazemos o que temos que fazer, esse é o nosso ofício, compreende?
o escudo - Entendo...
a forca - calma calma, você também vai ganhar uma grana por isto, relaxa...
o escudo - nesse caso, qual seria a sentença, quero ir pra casa logo - eu já ganhei o que tinha que ganhar mesmo.
a forca - sentença?
a tentativa de testemunha -sim, a minha sentença! Eu sou o quê?
a forca - Olha, pergunte ao júri.
-
a espada - é, ninguém sabe o que você é mesmo, cara. e nem adianta perguntar a si mesmo, seu insconciente tá ali e ela vai desmentir todas as suas tentativas de se safar.
a tentativa de testemunha - eu já era.
a forca - não, você não é ou se for, foi, será, sei lá, o que isso me, te importa? Vamos para outro lugar, cansei de ficar aqui.
o escudo - A audiência vai ser adiada pra outro dia?
a forca - certo certo. pra amanhã.
o escudo - que horas são?
a espada- 12:00 PM
a forca - opa, já é amanhã. vamos lá, não podemos descançar.
a tentativa de testemunha - eu só quero dormir, seu juiz, me deixe.
a espada- quem disse que você está acordado?
a tenativa de testemunha - eu estou sim. eu sei.
a espada - até parece.
a tentativa de testemunha- eu estou
a espada - claro que está! mas não percebe. então é como se estivesse dormindo.
a tentativa de testemunha - isto é um pesadelo?
a espada - nada nada. a realidade.
a tentativa de testemunha- não pode ser...
a forca - opa se é. quer um beliscão, dou até de graça.
a tentativa de testemunha - Como vim parar aqui, ai meu deus!
a espada - O sr. já foi alertado que deus foi-se, digo, não foi bem foi-se, foi cruz , mas tudo bem, quem é que quer ser preciso.
a forca - exato, sr. promotor. e álias, o senhor veio para aqui porque é suspeito de culpa.
a tentativa de testemunha - Culpa de quê?
a forca - de estar aqui, ora. e quem vem pra cá é sempre culpado. Você nasceu, então é culpado...
a tentativa de testemunha- mas eu não sou!
a espada- meritíssimo, ele deve estar morto.
a forca - bem, nesse caso... ressuscitem-no! Onde já se viu morto no mue tribunal, que desrespeito!
o escudo- ele não está morto não, eu sou seu advogado posso falar por ele!
a forca - e como você sabe se ele não está mesmo? O senhor é médico?
o escudo - não.
a forca - então não sabe. Se bem que nem os médicos sabem o que falam. Quer saber, cansei de saber.
ele é o que quiser ser. Vamos acabar com isto logo.
o escudo - ele se suicidou!
a espada - Bem, agora sabemos que ele cometeu um crime!
a forca - imagina, até poucos momentos ele nem sabia se estava vivo ou morto, mas agora confessa que se matou. Que pessoa desprezível! E isso porque ele é só uma testemunha. Imagina se a gente tivesse dito que ele é culpado de vez mesmo.
o escudo - bem, que faremos?
a espada - vamos prendê-lo. Se ele acha que vai se safar, está enganado!
a forca - Solitária pra ele, o resto da vida!
o escudo - Mas, meritíssimo, ele se suicidou!
a forca - Não importa, ele merece. Solitária até o resto da morte!
E o caixão foi escoltado até a solitária mais próxima.
a tentativa de testemunha - mas, por quê eu?
a espada - você é a única testemunha... tem que saber algo.
a tentativa de testemunha - mas eu não sei.
a espada - Você estava lá! Nós descobrimos, não minta...
a tentativa de testemunha - Eu devia estar, não me lembro... eu estou confuso, cansado. Não sei nem direito o que aconteceu...
a espada - não seja mentiroso, o sr. sabe que pode ser preso por isto.
O escudo - Isso está parecendo a Inquisão, por favor, meritíssimo... isso é irregular!
a forca - negado.
o escudo - negado, é isto que o vossa excelêcia tem a me dizer?
a forca - queria colo é?
a espada - eu prosseguirei, vossa excelência... O sr. alega não ter visto nada?
a tentativa de testemunha- não sei... talvez eu tenha visto... ou talvez não? Eu não acho que deveria estar aqui. Eu não posso ajudar em nada.
a espada- isso é o que o sr pensa. Já está ajudando, quanto menos diz e quanto mais pausas faz, mais nós concluímos inúmeras coisas. Anotem tudo o que o subconsciente dele disser.
o escudo - como assim? merítissimo, ele não tem controle sobre isso, por favor...
a forca - ora, como não, tá no corpo dele, não tá? Então ele deve ter controle. Vocês estão aqui, não estão, e eu os controlo, não é? HAHAHAHAHA
o escudo - está tudo ilógico... ele é apenas a testemunha, não pode ser acusado. Ele não está fazendo nada.
a espada - como não, meritíssimo? O fato dele estar aqui implica ele fazer algo.
a forca - sim, promotor... o quê, é o que eu não sei! ahahahaha O que sugere o júri?
- ...? ...! ..., ....,.........? !!!!! ééééé .....!!! ?!
a forca - É claro. mas os senhores decidem?
-
a forca - excelente! prossigamos. O promotor dizia.
a espada - Bom, já que ninguém decidiu que a testemunha é culpada, entramos nun concenso de que ela é culpada mesmo.
o escudo- Peraí, mas quem é que poderia confiar na opinião de ninguém?
a espada- ora, deixe de bobagem, todos nós sabemos que todo mundo sabe que todo mundo é ninguém.
a tentativa de testemunha- eu não fiz nada. Eu juro.
a espada - Este é o problema. Se você tivesse feito, não estaria aqui. Você não percebe que é culpado por não ver o que deveria ter visto? e outra coisa, quem jura aqui é o júri.
a tentativa de testemunha- eu peço desculpas, mas porque eu deveria ter visto?
a forca - isso é uma blasfêmia! Mais uma e chamamos os guardas... ah, eles já estão aí?
Que beleza!
a tentativa de testemunha- eu sou inocente.
a forca - quem foi que te disse isso?
a espada - O insconciente dele disse o oposto!
a forca - e aí, como você explica isso?
a tentativa de testemunha - eu não sei, como posso saber?
a forca - o insconciente é seu não é?
a tentativa de testemunha - sim de fato.
o escudo - merítisso, meu cliente está louco, ele não consegue nem reconhecer o próprio consciente, como poderá reconhecer o inconsciente?
a forca - tragam o insconciente dele aqui. Bem, aí está o senhor, seu danadinho? Pregando peças em todos, né?
a espada - Ele se recusa a falar meritíssimo...
a tenatativa de testemunha - porra, fala meu insconciente, fala!
a espada - um , ele está falando com um outro eu dele, o dono do insconciente...tsc tsc
a forca - ele é um esquizofrênico!
a espada - hum...você está enrascado, meu amigo... mentiroso e ainda esquizofrênico.
a tentativa de testemunha- eu não sou isso.
a espada - está bem, você não é. mas quem é que vai acreditar em você?
a tenativa de testemunha- eu.
a espada - mas nem o seu próprio insconciente acredita... você se equivoca.
a tentatia de testemunha- eu sei de mim.
a forca - iiii, sabe nada. mas , calma, a gente vai ajudar você a aprender. Mandem-no pra escola.
a tenativa de testemunha- Serei aluno?
a espada - é quase isso... você vai fazer os seus deveres, aprender a prestar atenção e a ficar sentado, como você está fazendo agora. Tenho certeza que você vai gostar.
o escudo - ai...
a tentativa de testemunha - mas, meu deus, por que sou culpado?
a forca - é, deus seria seu cúmplice se ele estivesse aqui. Mas como há séculos ele não vem pras audiências, ele foi demitido eternamente.
a espada - Meritíssimo, ele não chegou a morrer um dia desses?
a forca - de fato, de fato, eu tinha me esquecido... então a pena dele agora é morrer pra eternamente.
Aplausos.
a forca - E sem ele, melhora ainda mais a sentença. É o seguinte: tomo mundo aqui quer saber a verdade sobre o acontecido.
a tentativa de testemunha - eu não quero saber mais de nada, me deixem em paz, me deixem viver sem saber.
a forca - Não, não. Acalme-se, de tudo o que acontecer, você será o primeiro a saber.
a espada - E você acredita nisso, meritíssimo.
a forca - mas é claro que não. quem ter que saber é ele. Nós apenas somos aqueles que fazem com que ele saiba disso.
o escudo - mas, merítissimo, e o criminoso de verdade?
a forca - ele nunca esteve aqui.
o escudo - Como assim?
a forca - é isso mesmo o que você ouviu.
o escudo - Então pra quê tudo isso?
a forca - pra quê as coisas tem que ter um pra quê? Nós fazemos o que temos que fazer, esse é o nosso ofício, compreende?
o escudo - Entendo...
a forca - calma calma, você também vai ganhar uma grana por isto, relaxa...
o escudo - nesse caso, qual seria a sentença, quero ir pra casa logo - eu já ganhei o que tinha que ganhar mesmo.
a forca - sentença?
a tentativa de testemunha -sim, a minha sentença! Eu sou o quê?
a forca - Olha, pergunte ao júri.
-
a espada - é, ninguém sabe o que você é mesmo, cara. e nem adianta perguntar a si mesmo, seu insconciente tá ali e ela vai desmentir todas as suas tentativas de se safar.
a tentativa de testemunha - eu já era.
a forca - não, você não é ou se for, foi, será, sei lá, o que isso me, te importa? Vamos para outro lugar, cansei de ficar aqui.
o escudo - A audiência vai ser adiada pra outro dia?
a forca - certo certo. pra amanhã.
o escudo - que horas são?
a espada- 12:00 PM
a forca - opa, já é amanhã. vamos lá, não podemos descançar.
a tentativa de testemunha - eu só quero dormir, seu juiz, me deixe.
a espada- quem disse que você está acordado?
a tenativa de testemunha - eu estou sim. eu sei.
a espada - até parece.
a tentativa de testemunha- eu estou
a espada - claro que está! mas não percebe. então é como se estivesse dormindo.
a tentativa de testemunha - isto é um pesadelo?
a espada - nada nada. a realidade.
a tentativa de testemunha- não pode ser...
a forca - opa se é. quer um beliscão, dou até de graça.
a tentativa de testemunha - Como vim parar aqui, ai meu deus!
a espada - O sr. já foi alertado que deus foi-se, digo, não foi bem foi-se, foi cruz , mas tudo bem, quem é que quer ser preciso.
a forca - exato, sr. promotor. e álias, o senhor veio para aqui porque é suspeito de culpa.
a tentativa de testemunha - Culpa de quê?
a forca - de estar aqui, ora. e quem vem pra cá é sempre culpado. Você nasceu, então é culpado...
a tentativa de testemunha- mas eu não sou!
a espada- meritíssimo, ele deve estar morto.
a forca - bem, nesse caso... ressuscitem-no! Onde já se viu morto no mue tribunal, que desrespeito!
o escudo- ele não está morto não, eu sou seu advogado posso falar por ele!
a forca - e como você sabe se ele não está mesmo? O senhor é médico?
o escudo - não.
a forca - então não sabe. Se bem que nem os médicos sabem o que falam. Quer saber, cansei de saber.
ele é o que quiser ser. Vamos acabar com isto logo.
o escudo - ele se suicidou!
a espada - Bem, agora sabemos que ele cometeu um crime!
a forca - imagina, até poucos momentos ele nem sabia se estava vivo ou morto, mas agora confessa que se matou. Que pessoa desprezível! E isso porque ele é só uma testemunha. Imagina se a gente tivesse dito que ele é culpado de vez mesmo.
o escudo - bem, que faremos?
a espada - vamos prendê-lo. Se ele acha que vai se safar, está enganado!
a forca - Solitária pra ele, o resto da vida!
o escudo - Mas, meritíssimo, ele se suicidou!
a forca - Não importa, ele merece. Solitária até o resto da morte!
E o caixão foi escoltado até a solitária mais próxima.
uma pedra.
Sou uma pedra vendo
coisas passam
O sol esquenta?
eu viro areia?
eu sei?eu pergunto?
eu?
- só apenas aí.
coisas passam
O sol esquenta?
eu viro areia?
eu sei?eu pergunto?
eu?
- só apenas aí.
uma cena.
Duas pessoas e uma faca. E aquele pássaro passava por cima,colorido, em tons azuis, a borda do olho inscrespada de um amarelo. No peitoril, branco. Ele voava, primeiro pra esquerda, depois para a direita,e ao centro. Um rasante, o vento raspando as asas.
Pousou sobra a árvore. Verde, folha que era em tom de mar. mas não era. era só verde mesmo, no verde de alguém que quisesse ver seu prórprio verde ou, ainda, de um verde qualquer. O tronco, porém, amarronzado, os toscos pedaços meio abertos em frinchas, como que colada a casca da madeira pela orla dum fungo. E descia, o tronco rijo, cheio de nervuras, e o delgado das folhas, com seus minúsculos desenhos feito rumos.
Feito linhas em palmas.
Um gemido ao longe.
As raízes e o solo. O solo com o esmeralda em riste. aquele áspero plano, meio umedecido, entrescorregado de lama, e algumas flores caídas, caucando-lhe certo peso.
Ao fundo, alguém com algo na mão, uma câmera? O vidro sendo enfiado de luz por dentro. um sol na tela, capturado em rede. uma imagem gravando.
Um homem, uma mulher, uma faca, um movimento.
o vidro meio arredondado, refletindo na contraparede um objeto do chão. poça d'água. a poça e a lente, dois filmes. o sol em três lugares ao mesmo tempo. um longe, talvez, o outro por dentro do vidro, o outro no absurdo da água. Absurdo, mais ainda, apenas no transparente - com sua cor cheia de imagem.
Alguém observa será?...uma lembrança? aquela voz de mulher ao de longínquo, leves plumas caindo, um pena. Dobradiça, com sua haste dura e a parte externa branca, um D de arco.
32 anos passados no horizonte de um segundo. A mulher, Berta, da cor dos metais, brilhante; um débio segundo; o estourar da vida num acontecimento, ela queria protegê-lo, ajudá-lo, jogou seu peito, introjetando mil desejos de amor, colocados em cima do corpo do homem que recebeu também o crime no corpo, os corpos, unidos, e de repente, os pêlos sobre lascas, dois penedos rolando pelo asfalto, minúcias de pedras, estilhaço de calçadas, descendo o rio da rua, em volta do tépido calor úmido do despontar de uma geleira derretida e agora em brasa, fluindo abrangentemente pelo piche negro da rua, descendo pelas curvas, roçando avenidas, escorregando guetos, penetrando cantos, beligerando becos, mergulhando em concretos, pregando-se em paredes, ondeando em lajes, subindo em elevadores de edifícios modernos até o cume de um pára-raio - raio então, reluzente, partindo o céu num milésimo, lembrança de uma chuva, uma gota, massas se chocando, o vento que as trouxe e antes o morno que as fez, o frio que as compôs... alguém delirando...?
Era uma a câmera flutuando. O que havia ali era, de fato e apenas um homem, uma mulher, plantas e uma faca e a sensação de alguma circunstância.
Isso até pudera ser demasiado e fosse somente uma cena.
Pousou sobra a árvore. Verde, folha que era em tom de mar. mas não era. era só verde mesmo, no verde de alguém que quisesse ver seu prórprio verde ou, ainda, de um verde qualquer. O tronco, porém, amarronzado, os toscos pedaços meio abertos em frinchas, como que colada a casca da madeira pela orla dum fungo. E descia, o tronco rijo, cheio de nervuras, e o delgado das folhas, com seus minúsculos desenhos feito rumos.
Feito linhas em palmas.
Um gemido ao longe.
As raízes e o solo. O solo com o esmeralda em riste. aquele áspero plano, meio umedecido, entrescorregado de lama, e algumas flores caídas, caucando-lhe certo peso.
Ao fundo, alguém com algo na mão, uma câmera? O vidro sendo enfiado de luz por dentro. um sol na tela, capturado em rede. uma imagem gravando.
Um homem, uma mulher, uma faca, um movimento.
o vidro meio arredondado, refletindo na contraparede um objeto do chão. poça d'água. a poça e a lente, dois filmes. o sol em três lugares ao mesmo tempo. um longe, talvez, o outro por dentro do vidro, o outro no absurdo da água. Absurdo, mais ainda, apenas no transparente - com sua cor cheia de imagem.
Alguém observa será?...uma lembrança? aquela voz de mulher ao de longínquo, leves plumas caindo, um pena. Dobradiça, com sua haste dura e a parte externa branca, um D de arco.
32 anos passados no horizonte de um segundo. A mulher, Berta, da cor dos metais, brilhante; um débio segundo; o estourar da vida num acontecimento, ela queria protegê-lo, ajudá-lo, jogou seu peito, introjetando mil desejos de amor, colocados em cima do corpo do homem que recebeu também o crime no corpo, os corpos, unidos, e de repente, os pêlos sobre lascas, dois penedos rolando pelo asfalto, minúcias de pedras, estilhaço de calçadas, descendo o rio da rua, em volta do tépido calor úmido do despontar de uma geleira derretida e agora em brasa, fluindo abrangentemente pelo piche negro da rua, descendo pelas curvas, roçando avenidas, escorregando guetos, penetrando cantos, beligerando becos, mergulhando em concretos, pregando-se em paredes, ondeando em lajes, subindo em elevadores de edifícios modernos até o cume de um pára-raio - raio então, reluzente, partindo o céu num milésimo, lembrança de uma chuva, uma gota, massas se chocando, o vento que as trouxe e antes o morno que as fez, o frio que as compôs... alguém delirando...?
Era uma a câmera flutuando. O que havia ali era, de fato e apenas um homem, uma mulher, plantas e uma faca e a sensação de alguma circunstância.
Isso até pudera ser demasiado e fosse somente uma cena.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
último gole
tomou sozinho um garrafa inteira esbravejando um riso canalha
dissimulava uma não solidão.
dissimulava uma não solidão.
se...quer?
sexo...
e nos calamos as bocas
mas nos canibalizávamos com as mãos
mesmo sem os braços
sentimos
consumimos
no carro contidos os desejos
aquilo ali ou era um outdoor?
e nos calamos as bocas
mas nos canibalizávamos com as mãos
mesmo sem os braços
sentimos
consumimos
no carro contidos os desejos
aquilo ali ou era um outdoor?
nem mesmo névoa
pensou vários anos de sua vida numa mesma mulher. Dedicou cartas, poemas. Escreveu toda uma vida... o sentimento o entornava até nos vértices. Pensava em como seria se correspondido o amor. Um dia disse: quem sabe ela me amou? E perguntou-se se o pressuposto de "amou" é uma vez não ter amado. Entristeceu-se. Se ela um dia não soubera de sua vida, deveria não tê-lo amado. E se a eternidade dos amantes não é sempiterna, então, parte da vida dela, a moça sequer o conhecera. Ele, indiferente, um nada. Como? - ele se demandava.
Foi quando soube sem querer da terrível notícia, ela estava morta, o que significava que um dia toda uma vida construída em uma linha morrera em menos de um milésimo de anos de amor dele. A eternidade, então, onde ficou ela? Esquecida em que lugar?
No meu sonho eu o contemplava, o tempo era só uma noção estranha. Ele gritava: Beatriz, beatriz estás em algum lugar , no céu? e em algum lugar um zumbido comia em minha cabeça. Eu estava lá, vestido de mulher , quem sabe? Eu era eterno para ele?
Ele não sabia. Tudo inventado. Seu mundo, seu amor, seu tempo. Eu havia lhe dado e retirava agora a ilusão de vida. Eu era cruel. Trazia a realidade de maneira tão sutil a ele, como se machuca um corpo que, ao olhar a água, não pensa na dor do impacto que surgirá ao mergulhá-la.
Ele provavelmente me achara um deus. mas não o era. Quando o vi, ele tinha minha cara. e nós nos rebaixávamos um ao outro. ele me cuspia na face. eu queria apenas fazê-lo lamber o meu pus.
Desesperado, mesmo sabendo que tudo era fingido, Laivo acreditou poder criar para si a mulher que pudesse amar - retomar as hóstias gastas em tecer a imagem de Beatriz.
Teceu um fio longo, épico. que picotei. e num instante, sem a noção do tempo, ele que me parecera eterno um dia, sequer teve vida - eram inúmeros fragmentos que eu tentava montar para estabelecer uma linha.
Mas ele não se fixava,nem mesmo uma vez poderia, nem sua Beatriz qualquer cor possível do céu. Laivo era um borrão. Seu amor,vivaz, de talvez, no tempo, nem mesmo névoa. E sequer foi uma intermitência.
Tive que me contentar com sua provável inexistência.
Foi quando soube sem querer da terrível notícia, ela estava morta, o que significava que um dia toda uma vida construída em uma linha morrera em menos de um milésimo de anos de amor dele. A eternidade, então, onde ficou ela? Esquecida em que lugar?
No meu sonho eu o contemplava, o tempo era só uma noção estranha. Ele gritava: Beatriz, beatriz estás em algum lugar , no céu? e em algum lugar um zumbido comia em minha cabeça. Eu estava lá, vestido de mulher , quem sabe? Eu era eterno para ele?
Ele não sabia. Tudo inventado. Seu mundo, seu amor, seu tempo. Eu havia lhe dado e retirava agora a ilusão de vida. Eu era cruel. Trazia a realidade de maneira tão sutil a ele, como se machuca um corpo que, ao olhar a água, não pensa na dor do impacto que surgirá ao mergulhá-la.
Ele provavelmente me achara um deus. mas não o era. Quando o vi, ele tinha minha cara. e nós nos rebaixávamos um ao outro. ele me cuspia na face. eu queria apenas fazê-lo lamber o meu pus.
Desesperado, mesmo sabendo que tudo era fingido, Laivo acreditou poder criar para si a mulher que pudesse amar - retomar as hóstias gastas em tecer a imagem de Beatriz.
Teceu um fio longo, épico. que picotei. e num instante, sem a noção do tempo, ele que me parecera eterno um dia, sequer teve vida - eram inúmeros fragmentos que eu tentava montar para estabelecer uma linha.
Mas ele não se fixava,nem mesmo uma vez poderia, nem sua Beatriz qualquer cor possível do céu. Laivo era um borrão. Seu amor,vivaz, de talvez, no tempo, nem mesmo névoa. E sequer foi uma intermitência.
Tive que me contentar com sua provável inexistência.
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