terça-feira, 29 de setembro de 2009

Antropolofábula

Era uma vez ou fora talvez. O antropólogo observava a apropriação do forno à lenha, tão obsoleto para suas mãos finas de controles remotos e seus dedos grossos de apertar botões.

Quem se apropriava era a tribo de bichos. Pensados provavelmente como alienígenas, visto o caráter imensamente repentino de sua aparição.

Eles olhavam o objeto. Contemplavam-no. E o antropólogo os admirava em sua contemplação. Queria entendê-los, investigá-los. Não podia sê-los, mas desejava ao menos conhecer o composto que dava aquela cor inexprimível de suas peles, se é que ele podia chamá-la disso.

O que não percebia, no entanto, era que ele também passava por uma tentativa de interpretação, que quem sabe cheiravam-no, quem sabe pensavam-no , quem sabe ..... (e o verbo aqui deveria passar por uma pesquisa etnográfica?) uma espécie de ser rudimentar ou extremamente evoluído. Ou quem sabe como?

O antrópólogo lembrou-se de um livro de Aristóteles. Como passar a eles Aristóteles? Será que eles não veriam apenas naquele livro um objeto de fetiche, um pensamento rude, grosseiro, ingênuo? E do contrário, questionava-se, será que ele mesmo não acharia o pensamento de séculos, muito possivemente, ou de outras maneiras de conceber o tempo, algo simplesmente bobo?

E suas mulheres, seus homens, filhos... existiria distinções, existiriam famílias, sexo?

E os outros seres observavam o antropólogo. Ou faziam alguma coisa que este último não conseguia nem ponderar sobre o sentido ou assunto.
Mas como sabê-los? Ao menos supô-los?

Sem entender como, foi morar com os seres em alguma parte. Ou eles é que foram morar em parte alguma com o antropólogo...

Deu nisso:

O antropólogo um dia tenha escrito um romance, os outros seres enfiaram alguma coisa em algum lugar possivelmente para a posteridade... bem o antropólo foi quem sugeriu esta interpretação da manifestação única. Ficaremos com sua opinião até que venha uma nova ou mudaremos sem motivo.

Um dia alguém achou algo plantado num buraco negro ou outra manifestação espaço-temporal. E qual foi sua surpresa ao pensar que existiam duas inimagináveis coisas, ou o que valha, no mundo.

Teria sido uma vez, fora, ou era? Não sei, nem eu mesmo entendo destes assuntos.

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