sexta-feira, 18 de setembro de 2009

voz

Minha mente era um cano. Um cano como um telescópio. De dentro dele, do escuro, veio o vento daquela estrela longínqua. Mas não era estrela, era um instante. E o lirismo sub-repticiamente caiu como cascata nos meus ouvidos, mas como se tivesse caído nos meus olhos, sussurrando-se pelas lágrimas que íam descendo. E nem reparara mas era mar. Alastrava-me. Denso e informe. Quanto notei o sol tinha meu corpo ou era eu que ensolava? Estava lá, e você dizia, na praia: Faz belo dia. E quando me olhou, meu corpo de horizonte não acabava. pensou-me infinito. E no fundo eu só podia ser salgado... e foi que você lembrou da areia e viu meu rosto sobre ela... percebeu depois minha vida voando no zéfiro, contornando a cor do dia, levemente empoeirando tudo. Um leve brilho na minúscula pedra de areia, eu era agora um cintilar, um corisco. E você nem me sabia mais. Mas foi o seu canto, o seu canto, que era agora pássaro com sua asa roçando o meu rosto, acolhendo-me na pequena pluma quente,teu canto desuniformizado, nu, teu canto de fruta sulgada, mordida, chupada, teu canto, voz mais sensação do que voz, teu canto e eu no mar com as sereias e as sereias estavam na tua saliva, na tua língua, na tua... e a transformação findou-se. A tua voz que era?

Abstrata... e de tão, não me surrupiou o desejo, trouxe-me também o silêncio e o toque prolongado, o toque macio de silêncio do corpo.

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