quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A passageira

passas
mas te assentas em mim
como ideal de eterno feminino
minto
vejo-te como só um clarão repentino
e subitamente
és o esboço de um segundo de sombra

E embora eu tivesse tudo de mim pra te contar
e embora do todo de ti quisesse saber
fugiu-se até a idéia de pegada das tuas trilhas

mas um zunido no ar ecoa
berro de voz de nuvem
são os diamantes de acaso que forjei
a partir das inúmeras ilusões que imaginei de ti
sem nem saber seu nome

e hoje tens toda uma roupa de inverno
e amanhã, no meio da avenida,
vens toda de nu
e me ajoelho

e no outro dia sequer você existiu mais do que um segundo
nossos corpos não seriam suficientes para as incertezas da carne
para a ilusão do contrato pelo corpo
do físico como compromisso

E ao invés disso
te festejo como o insólito das coisas
dou-te a parte inteira do desconhecido de mim
espero o personagem que fazes de mim e que farás de novo e de novo
e novamente a qualquer instante
Pois sei bem que indubitavelmente farei o mesmo de ti e refarei

mas passas
e quando passas te carrego
e esqueço
mas voltas
em voltas
intermitências

Não és exata e nem quero que sejas
não és amor
tampouco desejo-te desta maneira
não és também contemplação artística

e por não saber te definir
te sigo pela rua
sou um flaneur de teu debuxo imponderável

quero mesmo é conhecer jamais
o nunca que saberei de ti.

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