Bom mesmo,
meu caro amigo,
é este teu riso vindo do breu
vindo de fato
desta escuridão reluzente
espontânea espifania
que surge
destes teus olhos
de lenhas crepitantes
destes teus olhos
negros como o raro clarão sem sol
- como a noite e suas do nada possibilidades
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Como a história
é como a história
que em suas bases
retira das mudanças
as suas precisas necessidades
é ainda, no fundo,
mais do que ela
a utopia,
o desejo de apalpar concretamento o futuro,
o desejo de encontrar no chão,
após traçar léguas,
o esforço asfaltado na rua,
sua firmeza,
seu calor
de ávidos tempos esperados,
seu horizonte como uma águia,
olhos e, ao longe, um palmo de fincar-se em pé.
é como isto,
isto, que é como a sensação do que vem,
o desconhecido das curvas,
e após quem sabe o mar, uma nuvem ou um pequeno pedaço de alimento?
é, sim, tudo isso.
e de repente encontro os teus lábios,
esta necessidade sempre nova
do que reside em mim como já em voo
e assim me trazes este solo tão firme e macio:
horizontes concretos de nossas bocas...
que em suas bases
retira das mudanças
as suas precisas necessidades
é ainda, no fundo,
mais do que ela
a utopia,
o desejo de apalpar concretamento o futuro,
o desejo de encontrar no chão,
após traçar léguas,
o esforço asfaltado na rua,
sua firmeza,
seu calor
de ávidos tempos esperados,
seu horizonte como uma águia,
olhos e, ao longe, um palmo de fincar-se em pé.
é como isto,
isto, que é como a sensação do que vem,
o desconhecido das curvas,
e após quem sabe o mar, uma nuvem ou um pequeno pedaço de alimento?
é, sim, tudo isso.
e de repente encontro os teus lábios,
esta necessidade sempre nova
do que reside em mim como já em voo
e assim me trazes este solo tão firme e macio:
horizontes concretos de nossas bocas...
Faz parte
não se assuste
se os nossos lábios tais braços
nos esquentam para além das roupas dos corpos
Não se assuste
se caminhando, dedos em leves nós,
nos encontrarmos perdidos
numa rua não planejada
num ponto desconhecido
escondidos de uma chuva
e, mais do que isto,
perdidos em nós mesmos
como num quadro de Kandinsky :
mescla de cores em loucura sensualística
não, não se assuste
se, em ardência,
um fogo se crepita
acende já a vela
clica o interruptor
e a luz está qual estrela
não, não se assuste
se os olhares furtivos
visam o furto de tudo
desde os ossos
os músculos
até o destino do murmúrio
seus desejos
e delírios
Não, não se assuste
que tudo isto faz parte
e esta parte está em tudo
e eu a quero dar-te
como sei que me concedes
na arte do que se faz
nosso todo.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Doçura
coloco fermento
e mãos à obra
para que esta massa
em candura e calor
vá tomando forma
- de doce.
À Di.
e mãos à obra
para que esta massa
em candura e calor
vá tomando forma
- de doce.
À Di.
terça-feira, 17 de novembro de 2009
O momento em que me deparei com a mesa...
da minha mesa
consigo enxergar
o que se diz como pós-modernidade:
de um lado vejo um pequeno copo de cachaça com um minúsculo prisma
e acompanhando-o uma tampa redonda
mais à frente
verticalmente ao copo
um pote de remédios
e nele, como tripas, aquelas pequenas cápsulas vermelhas que servem para manter
a jovialidade e os difíceis fios de cabelo
abaixo do pote
diversas pedras brancas meio lapidadas
um certo brilho seco advindo de sua cor
escorre-se até duas esteirinhas de bateria que me remetem ao ofício de tocar
ao trabalho das mãos em compassos
e as pluribatidas marcando o tempo
e eu acreditando que não perco a batida exata da música
e eu realmente concebendo que aprendi os contratempos
de repente,
............na diagonal
....................vejo o tênispé de calêndula
e me lembro de meus pés, de minhas frieiras assíduas e de todos os passos
pelos quais cheguei aqui
como se aquele caminho traçado tivesse realmente um traço
fosse realmente honesto
como se eu pudesse lançar a linha ao longe no passado e buscar o anzol perdido
no fundo de rio onde os peixes que comeram a isca
já nem existem mais
como estrelas
Todo de um golpe, quase no meio da mesa,
vejo os pregadores
a obrigação de lavar a roupa
de prendê-las
quando vejo-as em sua movimentação espontânea
acertadas pelo vento e querendo demover-se sem que, no entanto, possam deixar-se ir
para qualquer lugar do mundo
para qualquer sujeira
para revestir a copa de uma árvore
ou quem sabe ainda
estacionar sobre os olhos de um pássaro
e cegá-lo momentaneamente
ou mesmo até que ele despenque do ar
e conheça o que é ter pernas
Os meus olhos tombam então no computador,
bem ao centro da mesa
ele,
imponente
como que me mostrando a ausência física do mundo
e o meu ser todo fóssil
a contemplar o planeta em platonismos inimagináveis
e
sem dificuldade
entro em contato com todas as pessoas do mundo, embora me veja, na verdade, apenas observando o meu reflexo no vidro do computador
vendo apenas a minha imagem, as minhas palavras e outras correspondidas talvez não por uma pessoa
mas apenas pelos dados capturados quem sabe de uma subjetividade já perdida na configuração racionalizada de uma máquina
o ruído das caixas de som invade meus ouvidos
ouço, pela via de um dvd-r faber castell
uma outra dimensão de músicas e
estou num espetáculo pessoal no meu quarto
e os músicos já nem importam mais
eu nem sei os seus nomes
nem seus rostos
direito
mas conheço toda as suas trajetórias
sei de todos os seus cds
conheço seus estilos
e talvez possa até encontrar paparazzicamente
o nome falecido de seus antepassados
No encontro do som
eu coloco a mão numa escova de cabelos amarela
que tantas vezes desliza pelos meus cabelos
e me dá o vigor da estética
contemplo-a minuciosamente
seus n-números de pauzinhos como fósforos
que atravessam o cume de minhas idéias
que massageiam o ego e a cabeça
e desencadeiam as caspas e os fios aos sopros que desumedecem
a imaginação molhada
e fedendo a suor
num canto
eu vejo papéis
dezenas deles
alguns políticos
outros apenas publicitários
porém que se confundem
numa espécie de oferta
numa espécie de oferenda
numa volúpia de ordem
e meu coração bate em 2 por 2
ao ver que todas as palavras escritas nos inúmeros papéis
ressoam vazias no que penso
e se esticam pelo chão
até que eu as apanhe
ou apanhe
de suas inconformadas leis
de seus plenos tu-deves
de seus discursos críticos severos ressentidos agudos úteis ´
inúteis
até que elas me venham cobrar de mim,
(de mim,que sou tão pusilânime)
a vida que levo
o que todo que descanço
o ócio
e também a coragem a força
o não-medo
e tudo o mais que me esqueço...
embaixo de tudo isso
observo o "bandido da luz vermelha"
eu meio cego
no discreto de um quarto escurecido pelo sol que não sabe de seu lume
olho-o e penso
que grande merda!!!!
e um riso incontido e ácido corrói toda a gargante
contudo, não me incomodo
é como que um alimento que vai me descendo sem calma,
acendendo diversas glândulas
como uma espécie de húmusformicida
nutrindo e degradando ao mesmo tempo
e quando já sinto que a mesa já perdeu seu espaço
enão há como se localizar nada
topo a vista nas conchas de uma praia deixada em algum lugar
as conchas estão paradas
e eu podia pensar em eternidade adjacentes advindas de seus vários elipses incontidos
no entanto, apenas as olhos e posso enxergar a aridez de seus corpos
propensos a se esfarelar pouco a pouco até se dissolverem por todos
e subirem como areias
misturadas aos tantos grãozitos de pó que já dormem há tantos anos por sobre a face da mesa
finalmente
já nem mais sei da mesa
e me vejo sozinho
uma caneta na mão
o computador e seu teclado
penso em escrever um longo poema
mas estou tão cansado
que só me sairiam
a besteira
da observação de nada
e da sua expressão exausta
deslocada
e estúpida
consigo enxergar
o que se diz como pós-modernidade:
de um lado vejo um pequeno copo de cachaça com um minúsculo prisma
e acompanhando-o uma tampa redonda
mais à frente
verticalmente ao copo
um pote de remédios
e nele, como tripas, aquelas pequenas cápsulas vermelhas que servem para manter
a jovialidade e os difíceis fios de cabelo
abaixo do pote
diversas pedras brancas meio lapidadas
um certo brilho seco advindo de sua cor
escorre-se até duas esteirinhas de bateria que me remetem ao ofício de tocar
ao trabalho das mãos em compassos
e as pluribatidas marcando o tempo
e eu acreditando que não perco a batida exata da música
e eu realmente concebendo que aprendi os contratempos
de repente,
............na diagonal
....................vejo o tênispé de calêndula
e me lembro de meus pés, de minhas frieiras assíduas e de todos os passos
pelos quais cheguei aqui
como se aquele caminho traçado tivesse realmente um traço
fosse realmente honesto
como se eu pudesse lançar a linha ao longe no passado e buscar o anzol perdido
no fundo de rio onde os peixes que comeram a isca
já nem existem mais
como estrelas
Todo de um golpe, quase no meio da mesa,
vejo os pregadores
a obrigação de lavar a roupa
de prendê-las
quando vejo-as em sua movimentação espontânea
acertadas pelo vento e querendo demover-se sem que, no entanto, possam deixar-se ir
para qualquer lugar do mundo
para qualquer sujeira
para revestir a copa de uma árvore
ou quem sabe ainda
estacionar sobre os olhos de um pássaro
e cegá-lo momentaneamente
ou mesmo até que ele despenque do ar
e conheça o que é ter pernas
Os meus olhos tombam então no computador,
bem ao centro da mesa
ele,
imponente
como que me mostrando a ausência física do mundo
e o meu ser todo fóssil
a contemplar o planeta em platonismos inimagináveis
e
sem dificuldade
entro em contato com todas as pessoas do mundo, embora me veja, na verdade, apenas observando o meu reflexo no vidro do computador
vendo apenas a minha imagem, as minhas palavras e outras correspondidas talvez não por uma pessoa
mas apenas pelos dados capturados quem sabe de uma subjetividade já perdida na configuração racionalizada de uma máquina
o ruído das caixas de som invade meus ouvidos
ouço, pela via de um dvd-r faber castell
uma outra dimensão de músicas e
estou num espetáculo pessoal no meu quarto
e os músicos já nem importam mais
eu nem sei os seus nomes
nem seus rostos
direito
mas conheço toda as suas trajetórias
sei de todos os seus cds
conheço seus estilos
e talvez possa até encontrar paparazzicamente
o nome falecido de seus antepassados
No encontro do som
eu coloco a mão numa escova de cabelos amarela
que tantas vezes desliza pelos meus cabelos
e me dá o vigor da estética
contemplo-a minuciosamente
seus n-números de pauzinhos como fósforos
que atravessam o cume de minhas idéias
que massageiam o ego e a cabeça
e desencadeiam as caspas e os fios aos sopros que desumedecem
a imaginação molhada
e fedendo a suor
num canto
eu vejo papéis
dezenas deles
alguns políticos
outros apenas publicitários
porém que se confundem
numa espécie de oferta
numa espécie de oferenda
numa volúpia de ordem
e meu coração bate em 2 por 2
ao ver que todas as palavras escritas nos inúmeros papéis
ressoam vazias no que penso
e se esticam pelo chão
até que eu as apanhe
ou apanhe
de suas inconformadas leis
de seus plenos tu-deves
de seus discursos críticos severos ressentidos agudos úteis ´
inúteis
até que elas me venham cobrar de mim,
(de mim,que sou tão pusilânime)
a vida que levo
o que todo que descanço
o ócio
e também a coragem a força
o não-medo
e tudo o mais que me esqueço...
embaixo de tudo isso
observo o "bandido da luz vermelha"
eu meio cego
no discreto de um quarto escurecido pelo sol que não sabe de seu lume
olho-o e penso
que grande merda!!!!
e um riso incontido e ácido corrói toda a gargante
contudo, não me incomodo
é como que um alimento que vai me descendo sem calma,
acendendo diversas glândulas
como uma espécie de húmusformicida
nutrindo e degradando ao mesmo tempo
e quando já sinto que a mesa já perdeu seu espaço
enão há como se localizar nada
topo a vista nas conchas de uma praia deixada em algum lugar
as conchas estão paradas
e eu podia pensar em eternidade adjacentes advindas de seus vários elipses incontidos
no entanto, apenas as olhos e posso enxergar a aridez de seus corpos
propensos a se esfarelar pouco a pouco até se dissolverem por todos
e subirem como areias
misturadas aos tantos grãozitos de pó que já dormem há tantos anos por sobre a face da mesa
finalmente
já nem mais sei da mesa
e me vejo sozinho
uma caneta na mão
o computador e seu teclado
penso em escrever um longo poema
mas estou tão cansado
que só me sairiam
a besteira
da observação de nada
e da sua expressão exausta
deslocada
e estúpida
AnoMaria.
Chamava-se Maria. E por qual motivo? Podia chamar-se Paula, Joana, Madalena, e ainda teria uma carga cristã em seu nome, como também ela não deixaria de ser apenas mais uma no meio de tantas mulheres andando por aí. Contudo, insistem sempre nela, em Maria. Se ela se chamasse Pedra pelo menos ainda seria dura. Só que é sempre Maria - e inúmeras imagens vem a mente, Pietas compungidas sofrendo a pungente perda do filho salvador da humanidade; donas de hotéis importados e com as luzes acendendo : Mary´s Place; senhoritas humildes invisíveis no meio de uma caixa de papelão gritando: meu nome é Maria e o alrme alarde dos carros sobrevoando sua cabeça, deixando um leve vento resfrescante e, sem que ela note, a breve indiferença... da qual ela não está nem aí, afinal, sua indiferença se aloja em tudo e sua constatação de seres de outro mundo é bem mais pontual do que a nossa. E de repente, a estátua começa a falar na rua, tem nome : Maria. E a Igreja de onde se levanta a estátua também tem nome... e é algum nome de santa. E a massa de Maria quiçá reconheça o nome de alguma padroeira tão massa quanto a dita massa. E o mundo todo seja Maria e até o outro mundo seja composto apenas de marias. Enfim, o Universal, o que é do homem é maria e maria é a única metafísica possível. E todas as coisas místicas também Marias, mortes, anjos etc-marias e até o que não é normal, o descabido, o inusitado, anomarias.
E inclusive o que sobra disso e o que se criará depois, Maria... Maria maria Maria. Como aquela música daquele musical... e Maria é a única substância possível e impossível. E maria é tudo e nada.
E a nuvem de marias se deita, dormem marias sozinhas com seus todos acompanhantes marias e naquele sonho, uma apenas quer ser mais que maria, mas só sabe ser mais uma
ou esqueceu de todo aquele seu outro um dia nome.
E inclusive o que sobra disso e o que se criará depois, Maria... Maria maria Maria. Como aquela música daquele musical... e Maria é a única substância possível e impossível. E maria é tudo e nada.
E a nuvem de marias se deita, dormem marias sozinhas com seus todos acompanhantes marias e naquele sonho, uma apenas quer ser mais que maria, mas só sabe ser mais uma
ou esqueceu de todo aquele seu outro um dia nome.
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Desperdício.
ser poeta
talvez este seja
meu ofício
saber só pode ser
difícil
mas de tudo o que vale
deste meu vício
é tudo quanto nele é
só desperdício.
talvez este seja
meu ofício
saber só pode ser
difícil
mas de tudo o que vale
deste meu vício
é tudo quanto nele é
só desperdício.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Chegada
À chegada
saiba
que já deixo
a palavra
a saliva
e o silêncio de temperança
saiba que já dedico
a fruta
a mordida
e a semente para a esperança
saiba que já me estendo
às memórias
às surpresas
e ao todo novo que serei desde o encontro às lembranças
e, sobretudo,
saiba ainda
e com delicadeza:
que seremos absolutos no calor intenso e suave
- de nossas ânsias.
saiba
que já deixo
a palavra
a saliva
e o silêncio de temperança
saiba que já dedico
a fruta
a mordida
e a semente para a esperança
saiba que já me estendo
às memórias
às surpresas
e ao todo novo que serei desde o encontro às lembranças
e, sobretudo,
saiba ainda
e com delicadeza:
que seremos absolutos no calor intenso e suave
- de nossas ânsias.
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
ponto
achar o ponto
em que o ato
seja exato
nem tanto
nem nada
na medida
do que serena
nem início
nem meio
ou fim
na calma
de como vier
ou na loucura
e principalmente
sem sofrer
a ternura.
em que o ato
seja exato
nem tanto
nem nada
na medida
do que serena
nem início
nem meio
ou fim
na calma
de como vier
ou na loucura
e principalmente
sem sofrer
a ternura.
Nuances
de novo aqueles sóis
abrindo dois horizontes
no meio do que fora escuridão
e por que o medo de que tudo se queime
e se reduza a cinzas?
Será uma intensidade que poderia se formar num instante
e depois
pestanas fechadas em uma piscada
e o mundo todo no absurdo de uma tentativa de luz?
outrora achara isso...
em outras auroras duplas
em outras veemências diáfanas
contudo, hoje,
quando vejo
a não sombra destes sóis se aproximando
deixo o brilho
brular a pele visível
e a outra
mais oculta
e mais densa...
Uma vez meu ser afogado
em chamas
reflito um pouco
e os raios de luz
docemente vão se modificando
toda aquela energia
ao invés de se tornar chaga
queimadura
torna-se espécie de paciência
em acreditar que toda a claridade
pode ser nítida
e pode também cegar,
mas sem que eu tenha medo de enxergar demais
e caia na mórbida alucinação dos mormaços
e ainda sem que eu tenha pavor de nada ver
e sinta, na clarão do mundo, que todas as coisas podem se apagar
a um simples sopro obscuro.
Quero agora olhá-los
sóis óbvios de meu acalanto
e, muito mais, contemplar-lhes
a cauda iriscente perfurando horizontes
agora já sei distingui-los
sem a pressa do lume
ou a ânsia da energia
ou o temor de sua átima extinção
Agora já os vejo
e os encaro
e mais do que querer ser imiscuído a tua luz absoluta
deixo que me olhes um pouco
e me veja também lúcido
de uma espécie de luminosidade verde
daquela que crê o futuro
não mais como oportunidade barroca,
apenas
como aceitação de inúmeras nuances,
quais forem.
abrindo dois horizontes
no meio do que fora escuridão
e por que o medo de que tudo se queime
e se reduza a cinzas?
Será uma intensidade que poderia se formar num instante
e depois
pestanas fechadas em uma piscada
e o mundo todo no absurdo de uma tentativa de luz?
outrora achara isso...
em outras auroras duplas
em outras veemências diáfanas
contudo, hoje,
quando vejo
a não sombra destes sóis se aproximando
deixo o brilho
brular a pele visível
e a outra
mais oculta
e mais densa...
Uma vez meu ser afogado
em chamas
reflito um pouco
e os raios de luz
docemente vão se modificando
toda aquela energia
ao invés de se tornar chaga
queimadura
torna-se espécie de paciência
em acreditar que toda a claridade
pode ser nítida
e pode também cegar,
mas sem que eu tenha medo de enxergar demais
e caia na mórbida alucinação dos mormaços
e ainda sem que eu tenha pavor de nada ver
e sinta, na clarão do mundo, que todas as coisas podem se apagar
a um simples sopro obscuro.
Quero agora olhá-los
sóis óbvios de meu acalanto
e, muito mais, contemplar-lhes
a cauda iriscente perfurando horizontes
agora já sei distingui-los
sem a pressa do lume
ou a ânsia da energia
ou o temor de sua átima extinção
Agora já os vejo
e os encaro
e mais do que querer ser imiscuído a tua luz absoluta
deixo que me olhes um pouco
e me veja também lúcido
de uma espécie de luminosidade verde
daquela que crê o futuro
não mais como oportunidade barroca,
apenas
como aceitação de inúmeras nuances,
quais forem.
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Poema para minha mãe
mãe
nunca quero te ver
como aquela que me trouxe
os grandes problemas de minha vida
Não
não foi uma possível ausência
reclamada quando criança
que me fez ser
por vezes ansioso,
por vezes melancólico,
por vezes afoito,
deprimido,
deprimente
e que me fez agir da mesma maneira sempre
na manifestação do meu desejo...
Não, mãe, não foi nada disso -
mesmo que eu saiba
que você tem suas razões psicanalíticas para acreditar nisso.
No entanto, mãe, prefiro ver de outro jeito.
Sei bem que você não é nada boa ou ruim
Sei o quanto você já se fez de vítima
após uma querela
o quanto você já sentiu sozinha
pelo meu egoísmo
o quanto você se sentiu não reconhecida
desmerecida
malbaratada
E sei que devia me responsabilizar por isso, mas
mãe, por que o faria?
Se sei que o passado já foi,
se sei que me arrepender de nada mudaria
e mesmo este arrependimento que seria senão culpa
sofrimento
e pesar
por tudo aquilo que nos fez chegar até aqui,
até este estágio
em que já não te vejo mais como mãe,
mas como esta amiga acolhedora
para quem confesso meus medos
minha ansiedade
minhas inseguranças quanto ao futuro;
para quem até peço dinheiro emprestado
e me xinga, mas no fundo nunca cobra...
(bem, talvez só um pouquinho...)
Não, mãe, não me arrependo por tê-la achincalhado,
por tê-la feito sofrer
e também não te perdoo se um dia me senti ofendido
ou diminuído...
e por que isto?
Simplesmente, pois, sei mãe
que não há do que se arrepender ou o que perdoar
nunca fomos deuses
e foi sempre assim que nos contemplamos um ao outro
com esse olhar sempre rasteiro
telúrico
de quem sabe que os defeitos existem e que
para além deles
há sempre algo a mais nas pessoas
elas nunca são o que se pensa
o que se pensam
ou o que pensam-se
não, mãe,
as pessoas sãe essa entrecoisa
que sempre se resignifica
e que a partir do momento que a verbalizamos
já se dissipa
dissolve
e vemos apenas o silêncio delas levantado
nossa voz rouca
e um imenso incomprensível ao redor de toda a definição possível
Mas se há tanto este silêncio,
qual o motivo desta insistência em te dizer algo,
em te definir,
será esta postura arrogância
ou uma espécie de outra coisa
que se mescla a uma espécie de ternura?
Mãe , eu poderia te ver apenas como a madrasta
aquela que nunca viu seu filho
e que deixou para as amas o serviço do cuidado
do afeto
ou ainda
poderia te ver como esta mãe rousseaniana
cheia de carinhos em exagero
me tratando como um bom selvagem e
querendo me proteger das imundâncias do mundo
mas o fato , mãe, e assim te respeito,
é que você foi apenas o que pode ser
nada como um ponto final definido
mas sim inúmeros e inúmeros pontos e vírgulas
e por mais que um dia eu tenha sentido qualquer sentimento por você
desde raiva, ânsia, náusea, amizade, carinho , amor
tudo o que vivemos até hoje foi só um encontro
ou mesmo o desencontro...
sei sim, mãe, que estamos para longe do ressentimento
e também que
poemas maternos geralmente são chatos
cheios daquele velho préstimo exagerado
de filhos que sabem bem que suas mães não foram nem metade do que escreveram
e nem do que eles, elas, foram
num dado relacionamento
Por isto, mãe, confesso
que devo, em alguma parte,
ter te reduzido ou te aumentado demais...
porém, quando te olho
o semblante,
às vezes, sinto que não vejo nenhum dos meus pesadelos
ou quaisquer das minha idealizações
Vejo-te, ao contrário,
como apenas uma mulher
- a mulher que desconheço profundamente
e que do pouco que acho que desconfio
já sei que é
a única
que poderia
ter feito
de mim
- algo como um filho.
nunca quero te ver
como aquela que me trouxe
os grandes problemas de minha vida
Não
não foi uma possível ausência
reclamada quando criança
que me fez ser
por vezes ansioso,
por vezes melancólico,
por vezes afoito,
deprimido,
deprimente
e que me fez agir da mesma maneira sempre
na manifestação do meu desejo...
Não, mãe, não foi nada disso -
mesmo que eu saiba
que você tem suas razões psicanalíticas para acreditar nisso.
No entanto, mãe, prefiro ver de outro jeito.
Sei bem que você não é nada boa ou ruim
Sei o quanto você já se fez de vítima
após uma querela
o quanto você já sentiu sozinha
pelo meu egoísmo
o quanto você se sentiu não reconhecida
desmerecida
malbaratada
E sei que devia me responsabilizar por isso, mas
mãe, por que o faria?
Se sei que o passado já foi,
se sei que me arrepender de nada mudaria
e mesmo este arrependimento que seria senão culpa
sofrimento
e pesar
por tudo aquilo que nos fez chegar até aqui,
até este estágio
em que já não te vejo mais como mãe,
mas como esta amiga acolhedora
para quem confesso meus medos
minha ansiedade
minhas inseguranças quanto ao futuro;
para quem até peço dinheiro emprestado
e me xinga, mas no fundo nunca cobra...
(bem, talvez só um pouquinho...)
Não, mãe, não me arrependo por tê-la achincalhado,
por tê-la feito sofrer
e também não te perdoo se um dia me senti ofendido
ou diminuído...
e por que isto?
Simplesmente, pois, sei mãe
que não há do que se arrepender ou o que perdoar
nunca fomos deuses
e foi sempre assim que nos contemplamos um ao outro
com esse olhar sempre rasteiro
telúrico
de quem sabe que os defeitos existem e que
para além deles
há sempre algo a mais nas pessoas
elas nunca são o que se pensa
o que se pensam
ou o que pensam-se
não, mãe,
as pessoas sãe essa entrecoisa
que sempre se resignifica
e que a partir do momento que a verbalizamos
já se dissipa
dissolve
e vemos apenas o silêncio delas levantado
nossa voz rouca
e um imenso incomprensível ao redor de toda a definição possível
Mas se há tanto este silêncio,
qual o motivo desta insistência em te dizer algo,
em te definir,
será esta postura arrogância
ou uma espécie de outra coisa
que se mescla a uma espécie de ternura?
Mãe , eu poderia te ver apenas como a madrasta
aquela que nunca viu seu filho
e que deixou para as amas o serviço do cuidado
do afeto
ou ainda
poderia te ver como esta mãe rousseaniana
cheia de carinhos em exagero
me tratando como um bom selvagem e
querendo me proteger das imundâncias do mundo
mas o fato , mãe, e assim te respeito,
é que você foi apenas o que pode ser
nada como um ponto final definido
mas sim inúmeros e inúmeros pontos e vírgulas
e por mais que um dia eu tenha sentido qualquer sentimento por você
desde raiva, ânsia, náusea, amizade, carinho , amor
tudo o que vivemos até hoje foi só um encontro
ou mesmo o desencontro...
sei sim, mãe, que estamos para longe do ressentimento
e também que
poemas maternos geralmente são chatos
cheios daquele velho préstimo exagerado
de filhos que sabem bem que suas mães não foram nem metade do que escreveram
e nem do que eles, elas, foram
num dado relacionamento
Por isto, mãe, confesso
que devo, em alguma parte,
ter te reduzido ou te aumentado demais...
porém, quando te olho
o semblante,
às vezes, sinto que não vejo nenhum dos meus pesadelos
ou quaisquer das minha idealizações
Vejo-te, ao contrário,
como apenas uma mulher
- a mulher que desconheço profundamente
e que do pouco que acho que desconfio
já sei que é
a única
que poderia
ter feito
de mim
- algo como um filho.
folha
folha que espera
o outono
que vela o segundo
no arrepio
de
tombar.
e temia a folha
o cair
a dor do chão
e se desfez como em Neruda:
Por que se suicidam as folhas
quando se sentem amarelas?
Mas fora suícidio real
se vi
de um húmus
brotando rijo
e sem medo
o damasco-prateado?
o outono
que vela o segundo
no arrepio
de
tombar.
e temia a folha
o cair
a dor do chão
e se desfez como em Neruda:
Por que se suicidam as folhas
quando se sentem amarelas?
Mas fora suícidio real
se vi
de um húmus
brotando rijo
e sem medo
o damasco-prateado?
terça-feira, 10 de novembro de 2009
quando vi...
é sempre do nada
que vem o de repente
e inopinadamente
nos inespera
e de tão inusitado
presto
nos arrebata
- totalmente de chofre
que vem o de repente
e inopinadamente
nos inespera
e de tão inusitado
presto
nos arrebata
- totalmente de chofre
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
leviço
leve
que me
...........................leva
e refresca como o ar daquele leque
e sutil balança como aquela pluma ao zéfiro
e engendra a energia natural e feérica dos moinhos de vento
e é tão doce e pueril como a brisa dos airosos cata-ventos
e é sobretudo aquele sopro de arrepio que desliza
e penetra pulmões de respiro
e faz um organismo,
tornado
que me
...........................leva
e refresca como o ar daquele leque
e sutil balança como aquela pluma ao zéfiro
e engendra a energia natural e feérica dos moinhos de vento
e é tão doce e pueril como a brisa dos airosos cata-ventos
e é sobretudo aquele sopro de arrepio que desliza
e penetra pulmões de respiro
e faz um organismo,
tornado
Envolvente
Arisco acaso
no calor teu
inusitado
surpresa e sortilégio
desatados
e te vi
as mãos abertas a me dar
mais que as mãos:
o detalhe
do espaço livre
que as envolve.
no calor teu
inusitado
surpresa e sortilégio
desatados
e te vi
as mãos abertas a me dar
mais que as mãos:
o detalhe
do espaço livre
que as envolve.
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Una
Una
e como fora
é
fragmento
e aquele tempo
e aquele hoje
nem mesmo se sintonizam
entretanto
um pouco
ílusório insolúvel
resignou-se
e desta substância estranha
produzi outras
adicionando
a matéria absurda imaginária
agora e antes
nunca serás em si
Una
mas sempre outra
plural
mais uma
outra e outra e outra
Una
e nunca
Uma.
e como fora
é
fragmento
e aquele tempo
e aquele hoje
nem mesmo se sintonizam
entretanto
um pouco
ílusório insolúvel
resignou-se
e desta substância estranha
produzi outras
adicionando
a matéria absurda imaginária
agora e antes
nunca serás em si
Una
mas sempre outra
plural
mais uma
outra e outra e outra
Una
e nunca
Uma.
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Una
bizarrices
e em fogo
voamos
de volta à cidade
o carro passando feito jato pelas rochas duras
brigas de trânsito na lama
cavalo na garupa de dois homens
e aquela estrada insana
e a noção do tempo pertubadora
e o trânsito sem parada
e sempre parado
Una, ficaste pra trás
ou eu é que um dia sonhara?
Nada
tudo se viveu
e coisa alguma agora parecia perturbar de verdade
o mundo e suas experiências
é isso a que se resume
provavelmente
existir
hoje
passando no escuro com este carro em plenas chamas
olho derredor a cidade
cheia de suas luzes faíscantes e de suas pessoas estarrecidas
atabalhoadas
extremamente agitadas
não compreendo nada
do porquê
eu elas
nós
fazemos qualquer coisa
e pra quê compreender?
Desço do carro
toco o asfalto
minhas pernas querem agora
a inexplicável aventura
do não haver certeza
e nem nada
e se poder ainda
estender a vida em tudo
olhando as chamas que descem por um fio estúpido
de luz
que não diz uma só coisa que seja
e em fogo
voamos
de volta à cidade
o carro passando feito jato pelas rochas duras
brigas de trânsito na lama
cavalo na garupa de dois homens
e aquela estrada insana
e a noção do tempo pertubadora
e o trânsito sem parada
e sempre parado
Una, ficaste pra trás
ou eu é que um dia sonhara?
Nada
tudo se viveu
e coisa alguma agora parecia perturbar de verdade
o mundo e suas experiências
é isso a que se resume
provavelmente
existir
hoje
passando no escuro com este carro em plenas chamas
olho derredor a cidade
cheia de suas luzes faíscantes e de suas pessoas estarrecidas
atabalhoadas
extremamente agitadas
não compreendo nada
do porquê
eu elas
nós
fazemos qualquer coisa
e pra quê compreender?
Desço do carro
toco o asfalto
minhas pernas querem agora
a inexplicável aventura
do não haver certeza
e nem nada
e se poder ainda
estender a vida em tudo
olhando as chamas que descem por um fio estúpido
de luz
que não diz uma só coisa que seja
Una
enfim veio o retorno
e fomos saindo
não, Una,
não foste
o recanto
retiro
a fuga...
E nem mesmo foste a oposição
do que vivi antes de te ver
ou
depois
da vista perdida na tua loucura depositada
Una,
nada disto foste
mas
em ti
pelo encanto do teu inusitado
e banal
como qualquer coisa
fui que pude ir
além
sem a noção de advir
simplesmente ir
porque já havia o surto
do movimento
e fomos saindo
não, Una,
não foste
o recanto
retiro
a fuga...
E nem mesmo foste a oposição
do que vivi antes de te ver
ou
depois
da vista perdida na tua loucura depositada
Una,
nada disto foste
mas
em ti
pelo encanto do teu inusitado
e banal
como qualquer coisa
fui que pude ir
além
sem a noção de advir
simplesmente ir
porque já havia o surto
do movimento
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
Una
um alguém saia da linha que arrasta tudo do rio
era mesmo um homem?
talvez...
não fosse sua quem sabe pele cor de conhaque
e
sua forma indível
ardente plasma...
flama.
era mesmo um homem?
talvez...
não fosse sua quem sabe pele cor de conhaque
e
sua forma indível
ardente plasma...
flama.
Una
deparamos...
e o absurdo.
lá estava
o abismo preenchido
como que um buraco profundo e misteiroso
alimentando-se
do vazio
e do inaudito
desconhecido
nos sonhos que tive
quando meus olhos acesos
queriam entender aquilo
tudo se fez perdido
o mundo sem destino irrompeu-se
das dobras das circunstâncias
e mergulhei de cabeça em sua frialdade
e notando-o sem fim
e sem futuro
questionei se talvez
ele tivesse alguma origem
se porventura
uma boca
havia desatado-o
como a noção de tempo
advindo de um organismo
ele me afundou
e foi afundando...
e de repente senti como se eu puxasse sua longa cauda
língua turbilhante de sentidos históricos...
e lá no fundo imenso
a pressão cada vez mais aumentando
e me fingi um instante ter visto uma face quase divina
como que a sustentar o fluxo do espaço
e a incrível ininteligibilidade do tempo
mas me esquivocava em uma síncope imprudente
de explicações
e sentidos malogrados
o que havia ali de fato era
nem mesmo o traço de um semblante
nem mesmo a ideia de que um dia um semblante poderia ter existido
e confesso que até me choquei
mas passageiramente
uma vez que minha entidade própria
fora lançada
espaços adentros e aforas
e finalmente eu não mais entendia
no entanto, sentia como que
o não movimento de um denso nada se mexendo por entre
tudo aquilo que se afirmava como animado e inanimado
as coisas em sua existência agora me pareciam
envolvidas por uma espessa camada de vazio
e de indiferença
eu sabia que nenhum de nós
eu e coisas
nos importávamos um com os outros
foi quando aquela correnteza me socou a cara
e eu tirei dos olhos os meus dardos
e me engalfinhei penosamente com ela
acabamos os dois mortos
e um corpo subiu
vivo
e também morto
e ainda
pleno de nada
e o absurdo.
lá estava
o abismo preenchido
como que um buraco profundo e misteiroso
alimentando-se
do vazio
e do inaudito
desconhecido
nos sonhos que tive
quando meus olhos acesos
queriam entender aquilo
tudo se fez perdido
o mundo sem destino irrompeu-se
das dobras das circunstâncias
e mergulhei de cabeça em sua frialdade
e notando-o sem fim
e sem futuro
questionei se talvez
ele tivesse alguma origem
se porventura
uma boca
havia desatado-o
como a noção de tempo
advindo de um organismo
ele me afundou
e foi afundando...
e de repente senti como se eu puxasse sua longa cauda
língua turbilhante de sentidos históricos...
e lá no fundo imenso
a pressão cada vez mais aumentando
e me fingi um instante ter visto uma face quase divina
como que a sustentar o fluxo do espaço
e a incrível ininteligibilidade do tempo
mas me esquivocava em uma síncope imprudente
de explicações
e sentidos malogrados
o que havia ali de fato era
nem mesmo o traço de um semblante
nem mesmo a ideia de que um dia um semblante poderia ter existido
e confesso que até me choquei
mas passageiramente
uma vez que minha entidade própria
fora lançada
espaços adentros e aforas
e finalmente eu não mais entendia
no entanto, sentia como que
o não movimento de um denso nada se mexendo por entre
tudo aquilo que se afirmava como animado e inanimado
as coisas em sua existência agora me pareciam
envolvidas por uma espessa camada de vazio
e de indiferença
eu sabia que nenhum de nós
eu e coisas
nos importávamos um com os outros
foi quando aquela correnteza me socou a cara
e eu tirei dos olhos os meus dardos
e me engalfinhei penosamente com ela
acabamos os dois mortos
e um corpo subiu
vivo
e também morto
e ainda
pleno de nada
terça-feira, 3 de novembro de 2009
Una
e atravessamos o caminho
viés de vida
no estreito do estrépito
da terra
no eco
longínquo
surgiu
o leão que vocifera
ruído de rugido
silenciosamente seduzindo
a vontade
de fincar pés
no aventuresco.
viés de vida
no estreito do estrépito
da terra
no eco
longínquo
surgiu
o leão que vocifera
ruído de rugido
silenciosamente seduzindo
a vontade
de fincar pés
no aventuresco.
Una
deitar
depois da praia deixada branca
e sonar
sonhar
enquanto o espetáculo da vida que não fala
continua vivo
ou ao menos
sonâmbulo.
depois da praia deixada branca
e sonar
sonhar
enquanto o espetáculo da vida que não fala
continua vivo
ou ao menos
sonâmbulo.
Una
hipnose mística
que fez de algo como onírico
um metamorfo
de rochas
tal ossos
e carne
junção de areias
e lágrimas sensualizadas
mas o que a cor dos meus olhos espelhava
era esse teu impávido azul escuro
quase negror
de noite funda
e tua boca em grãos brancos densos veio descendo meu corpo
e me senti todo acariciado
como se meus pelos em frio
dormitassem de leve
ao sentir o arrepio de teus dentes espumosos airosamente me mordendo
deixando a tua saliva de guitarra pestanejada
perenemente se enlaçando no suor passivo de meus impulsos
e eu te transbordando de vida
no seu me entornar de deliciosidades...
e assim, no teu mel cerúleo
permaneci lassivo
entregando o corpo aos acentos de volúpia
e fui aceitando o áspero de tuas garras de pantera obscura
quando vi
Panosexualizávamos desmesuradamente
e errávamos como deuses entusiasmados de todo o movimento incessante dos oceanos
e de toda a estrutura óssea e carnívora dos continentes
éramos como criadores no clímax da imaginação de conceber
e devorávamos para construir...
no fundo do teus abraços se chocando
com a explícita forma de meu ser
escapuli-me todos os sustenidos
e deixei a música aguda do corpo se soltar
a sensação era quase de ebriamente
delírios entorpecentes deslizando no colapso dos caracóis famintos
e as conxas nas coxas
as costas se entrechocando
como um roedor faminto friccionado entre as presas o alimento e se saciando...
e vi uma pérola como que introjetando-se no núcleo de meu bojo
eu vivia a estrela depositada que queria sair para aventurar-se no eterno não humano
então eu a expeli
e do jacto luminoso
estandarte líquido
vapor meio pó
tombaram da terra
ao êxtase oculto dos astros..
que fez de algo como onírico
um metamorfo
de rochas
tal ossos
e carne
junção de areias
e lágrimas sensualizadas
mas o que a cor dos meus olhos espelhava
era esse teu impávido azul escuro
quase negror
de noite funda
e tua boca em grãos brancos densos veio descendo meu corpo
e me senti todo acariciado
como se meus pelos em frio
dormitassem de leve
ao sentir o arrepio de teus dentes espumosos airosamente me mordendo
deixando a tua saliva de guitarra pestanejada
perenemente se enlaçando no suor passivo de meus impulsos
e eu te transbordando de vida
no seu me entornar de deliciosidades...
e assim, no teu mel cerúleo
permaneci lassivo
entregando o corpo aos acentos de volúpia
e fui aceitando o áspero de tuas garras de pantera obscura
quando vi
Panosexualizávamos desmesuradamente
e errávamos como deuses entusiasmados de todo o movimento incessante dos oceanos
e de toda a estrutura óssea e carnívora dos continentes
éramos como criadores no clímax da imaginação de conceber
e devorávamos para construir...
no fundo do teus abraços se chocando
com a explícita forma de meu ser
escapuli-me todos os sustenidos
e deixei a música aguda do corpo se soltar
a sensação era quase de ebriamente
delírios entorpecentes deslizando no colapso dos caracóis famintos
e as conxas nas coxas
as costas se entrechocando
como um roedor faminto friccionado entre as presas o alimento e se saciando...
e vi uma pérola como que introjetando-se no núcleo de meu bojo
eu vivia a estrela depositada que queria sair para aventurar-se no eterno não humano
então eu a expeli
e do jacto luminoso
estandarte líquido
vapor meio pó
tombaram da terra
ao êxtase oculto dos astros..
Una
e te vi:
una nua
a tua
bunda
profunda
unda
inunda
-me
e redunda
-me:
um átimo de
amor
e morte
abunda
-me
e afunda:
amoribunda-me.
una nua
a tua
bunda
profunda
unda
inunda
-me
e redunda
-me:
um átimo de
amor
e morte
abunda
-me
e afunda:
amoribunda-me.
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