quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Una

deparamos...


e o absurdo.




lá estava

o abismo preenchido

como que um buraco profundo e misteiroso

alimentando-se

do vazio

e do inaudito

desconhecido



nos sonhos que tive
quando meus olhos acesos
queriam entender aquilo
tudo se fez perdido
o mundo sem destino irrompeu-se
das dobras das circunstâncias


e mergulhei de cabeça em sua frialdade

e notando-o sem fim
e sem futuro
questionei se talvez
ele tivesse alguma origem
se porventura
uma boca
havia desatado-o
como a noção de tempo
advindo de um organismo

ele me afundou
e foi afundando...

e de repente senti como se eu puxasse sua longa cauda
língua turbilhante de sentidos históricos...

e lá no fundo imenso
a pressão cada vez mais aumentando
e me fingi um instante ter visto uma face quase divina
como que a sustentar o fluxo do espaço
e a incrível ininteligibilidade do tempo

mas me esquivocava em uma síncope imprudente
de explicações
e sentidos malogrados

o que havia ali de fato era
nem mesmo o traço de um semblante
nem mesmo a ideia de que um dia um semblante poderia ter existido

e confesso que até me choquei
mas passageiramente
uma vez que minha entidade própria
fora lançada
espaços adentros e aforas

e finalmente eu não mais entendia

no entanto, sentia como que
o não movimento de um denso nada se mexendo por entre
tudo aquilo que se afirmava como animado e inanimado

as coisas em sua existência agora me pareciam
envolvidas por uma espessa camada de vazio
e de indiferença

eu sabia que nenhum de nós
eu e coisas
nos importávamos um com os outros


foi quando aquela correnteza me socou a cara
e eu tirei dos olhos os meus dardos
e me engalfinhei penosamente com ela

acabamos os dois mortos

e um corpo subiu

vivo
e também morto

e ainda

pleno de nada

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