deparamos...
e o absurdo.
lá estava
o abismo preenchido
como que um buraco profundo e misteiroso
alimentando-se
do vazio
e do inaudito
desconhecido
nos sonhos que tive
quando meus olhos acesos
queriam entender aquilo
tudo se fez perdido
o mundo sem destino irrompeu-se
das dobras das circunstâncias
e mergulhei de cabeça em sua frialdade
e notando-o sem fim
e sem futuro
questionei se talvez
ele tivesse alguma origem
se porventura
uma boca
havia desatado-o
como a noção de tempo
advindo de um organismo
ele me afundou
e foi afundando...
e de repente senti como se eu puxasse sua longa cauda
língua turbilhante de sentidos históricos...
e lá no fundo imenso
a pressão cada vez mais aumentando
e me fingi um instante ter visto uma face quase divina
como que a sustentar o fluxo do espaço
e a incrível ininteligibilidade do tempo
mas me esquivocava em uma síncope imprudente
de explicações
e sentidos malogrados
o que havia ali de fato era
nem mesmo o traço de um semblante
nem mesmo a ideia de que um dia um semblante poderia ter existido
e confesso que até me choquei
mas passageiramente
uma vez que minha entidade própria
fora lançada
espaços adentros e aforas
e finalmente eu não mais entendia
no entanto, sentia como que
o não movimento de um denso nada se mexendo por entre
tudo aquilo que se afirmava como animado e inanimado
as coisas em sua existência agora me pareciam
envolvidas por uma espessa camada de vazio
e de indiferença
eu sabia que nenhum de nós
eu e coisas
nos importávamos um com os outros
foi quando aquela correnteza me socou a cara
e eu tirei dos olhos os meus dardos
e me engalfinhei penosamente com ela
acabamos os dois mortos
e um corpo subiu
vivo
e também morto
e ainda
pleno de nada
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