quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Nuances

de novo aqueles sóis

abrindo dois horizontes

no meio do que fora escuridão


e por que o medo de que tudo se queime
e se reduza a cinzas?

Será uma intensidade que poderia se formar num instante
e depois
pestanas fechadas em uma piscada
e o mundo todo no absurdo de uma tentativa de luz?

outrora achara isso...

em outras auroras duplas

em outras veemências diáfanas

contudo, hoje,

quando vejo

a não sombra destes sóis se aproximando

deixo o brilho

brular a pele visível

e a outra

mais oculta

e mais densa...


Uma vez meu ser afogado

em chamas

reflito um pouco

e os raios de luz

docemente vão se modificando


toda aquela energia

ao invés de se tornar chaga

queimadura

torna-se espécie de paciência

em acreditar que toda a claridade

pode ser nítida

e pode também cegar,

mas sem que eu tenha medo de enxergar demais

e caia na mórbida alucinação dos mormaços

e ainda sem que eu tenha pavor de nada ver

e sinta, na clarão do mundo, que todas as coisas podem se apagar

a um simples sopro obscuro.


Quero agora olhá-los

sóis óbvios de meu acalanto

e, muito mais, contemplar-lhes

a cauda iriscente perfurando horizontes

agora já sei distingui-los

sem a pressa do lume

ou a ânsia da energia

ou o temor de sua átima extinção

Agora já os vejo

e os encaro

e mais do que querer ser imiscuído a tua luz absoluta

deixo que me olhes um pouco

e me veja também lúcido

de uma espécie de luminosidade verde

daquela que crê o futuro

não mais como oportunidade barroca,

apenas

como aceitação de inúmeras nuances,

quais forem.

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