de novo aqueles sóis
abrindo dois horizontes
no meio do que fora escuridão
e por que o medo de que tudo se queime
e se reduza a cinzas?
Será uma intensidade que poderia se formar num instante
e depois
pestanas fechadas em uma piscada
e o mundo todo no absurdo de uma tentativa de luz?
outrora achara isso...
em outras auroras duplas
em outras veemências diáfanas
contudo, hoje,
quando vejo
a não sombra destes sóis se aproximando
deixo o brilho
brular a pele visível
e a outra
mais oculta
e mais densa...
Uma vez meu ser afogado
em chamas
reflito um pouco
e os raios de luz
docemente vão se modificando
toda aquela energia
ao invés de se tornar chaga
queimadura
torna-se espécie de paciência
em acreditar que toda a claridade
pode ser nítida
e pode também cegar,
mas sem que eu tenha medo de enxergar demais
e caia na mórbida alucinação dos mormaços
e ainda sem que eu tenha pavor de nada ver
e sinta, na clarão do mundo, que todas as coisas podem se apagar
a um simples sopro obscuro.
Quero agora olhá-los
sóis óbvios de meu acalanto
e, muito mais, contemplar-lhes
a cauda iriscente perfurando horizontes
agora já sei distingui-los
sem a pressa do lume
ou a ânsia da energia
ou o temor de sua átima extinção
Agora já os vejo
e os encaro
e mais do que querer ser imiscuído a tua luz absoluta
deixo que me olhes um pouco
e me veja também lúcido
de uma espécie de luminosidade verde
daquela que crê o futuro
não mais como oportunidade barroca,
apenas
como aceitação de inúmeras nuances,
quais forem.
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