segunda-feira, 27 de agosto de 2012

noção

Não diga não diga
duplo silêncio
nem aja apenas
dupla pena de agir

reponda responda
e você não vai ouvir
ou o ouvido saltará
o corpo ouvirá
e o lábio
como a porta
que não é transição de caminhos


sinta não sinta
sofra e não sofra
para que saber
se a dúvida é a saída?

futuro o futuro
não sei e será não sei
e este desepero?
deixe desesperar

embarcaremos amanhã a viagem sem voo com pouso necessário ou apenas a nuvem dançando e bulindo como uma criança estúpida e

sem noção.
uma boca talvez
ou os lábios
sem a boca
apenas os lábios
e o desejo
do mais que o sexo
do mais que o desexo
o desejo
da fruta
saber todo do desejo
corporificada
em névoa?

umbilical

Coloquei a mangueira

no umbigo

e reencontrei a mãe perdida

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

sozinho em sampa (frascos da metrópole)

Sozinho em Sampa
o grafitti das ruas
em meu nome
mensagens diárias
que ninguém busca ver.

meu coração o silêncio

- os fazedores de rima como bardos mudos-

meu coração o silêncio
e observo o abrir de porta do ônibus:

prostitutas, travestis, swingers
a igreja ao lado, um casamento,
um mendigo e um terno:

apenas atravesso a rua
às vezes para ir ao trabalho
às vezes apenas bêbado

...daquele quarto vazio em que me encontro
um arranha-céu brota na sala
dezenas de shopping centers no meu banheiro
dou a descarga.
Na cozinha,uma flor,
mais um litro de gasolina


e hoje durmo mais tarde contando carneiros ou horas extras não pagas...

ao meu redor, pessoas,
sou um sábio sem dizê-lo,
vi a luz e mudo;
messias sem milagre.

...nas avenidas,além dos carros,
meu corpo inerme,
minha tristeza cinza, meu prejuízo sem palavras.


Acordo cansado.
mas as calçadas me aliviam
sou um caminhante, um flaneur sem querer.
começo a conhecer a cidade ou
ela a conhecer-me
suas mãos me tocam como uma noite

o já vivido, o perdido, o luto, o futuro, a incerteza, a loucura -

- batata frita, uma cerveja, um filme hoje, estou sem dinheiro
estou sem amigos, estou sozinho,

sozinho em sampa.

- hoje talvez eu morra debaixo daquele jardim sem que nem mesmo uma planta saiba meu nome ou minhas unhas

- ou então, um estranho talvez, e uma vida...

:e eu viva:

quinta-feira, 16 de agosto de 2012


Você me lê muito fácil
eu continuo sendo o garoto do interior
o limite da vida:
o limite da casa,
da escola.


Lido todo,
mas não lido,
exposto como carne aos canibais
e suplicando apenas para que eles não saibam
a chave para
a refeição do mais que corpo


Lido
e com medo muito medo
parecia um jacaré sem garras ou escamas
só a pele fria
os olhos brilhantes
e me adaptando a temperatura do ambiente


lido
eu tétrico
o medo da autorevelação
a fragilidade
a dependência e a morte

o buraco negro que se abre para um amador

já lidei com facas
tiros
mas morro mesmo
é com o menosprezo
mas morro mesmo
é com a solidão
o abandono
dono abrangentemente
do meu sono
do meu dia
meu eterno prazer
de ser o mais desgraçado
o mais coitado
o mais repudiado

- minha vaidade acima de tudo!


lido
e sem progressão.
lido.
estupidamente lido.
e sem remédio
só pude assumir
me sentir humano
me sentir humilhado
e nada
nada perfeito.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O bom-moço

Educadinho...

vai a merda - primeira reação.
Mas, quem é que vê

sob

toda a raiva
toda a ironia
a pervesão

e quem vê

sobre

o medo
a insegurança
a desconfiança?

Educado?

um maldito apenas,
será isto,
mal educado,
senhoras e senhores?




Um toque subversivo

Ainda medroso
pálido
em branco

sou como uma folha de papel antes.


mas, este fogo
pálido
em branco

que surge como contraresposta

que é isto?

Um dia achei que era uma oração
não, não sou santo.
Outro, pensei que fosse o cálculo do etéreo


Hoje... que pensar?

Talvez os dias
inúmeros rasgados, taças quebradas,
estilhaços apenas do que eu suspeitava não surgir nunca


e veja surgiu...

tacanho
inútil
vazio


desprezado
medíocre
pobre


e os críticos deitam em cima


eu sou no entanto
ali
em diversão
fogo nas mãos
e levitando

com as minhas dores
queixas
e aquele silêncio que ninguém veio a entender

ninguém acompanhou
o momento soturno
o momento hediondo
o momento simplemente alegre

mas eu vi
menoscabado
e menoscabal

este pequeno poema
escrito
idiotamente

e quem poderia calá-lo
se nem mesmo eu pude

se nem eu mesmo pude consolar suas lenhas

e vê-lo aqui
num toque subversivo:
queimo-brotando?

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Em tédios, como sempre. Aquela via em areias. Fui colocando o meus passos cada vez mais perdidos sobre aquele lugar confuso. Nenhum lugar para deitar a voz. Era eu e aquelas dunas. Algumas estrelas íam se desfazendo pelo céu, um traço de suas quedas se espalhando numa perda de total sentido, estrelas cadentes sem desejos. Estiquei meu braço como uma flexa, mas a seta nada atingia como caminho perfeito. Aquela areia esparsa e a noite que nada davam respostas. Foi quando pisei com os olhos o chão. Ao meu lado, um laço de lama ía crescendo. Como se algo queimasse, vi entre os brilhos escuros como que um buraco negro. Meu corpo se afundando - ao lado as areias íam se erigindo como estátuas antigas, via como se se passasse uma fábula estranhas de acontecimentos humanos já dados. As faces das estátuas a se olharem e a decidirem quem de fato havia ganhado a história - de repente - um sorriso em uma delas e as outras começaram a se derreter - algumas tornavam-se sal, outras se perdiam em carne, cadaverizadas. O sangue começou a jorrar como uma areia férvida. Cada uma daquelas pedras defuntas se liquefazendo e me fustigando. A areia como uma viscosidade perpassando pelos meus pumões, enquanto ía engolindo contos antigos... A restante debruçou-se sobre mim e começou a dizer: - por que queres me dizer o meu caminho, se o seu nem pode existir a menos que andes? Não pude responder. Meu ar falecia. Ainda assim continuava vivo, rodopiando em meio aquele buraco negro, como um ciclone terreno desvairado. A voz, no entanto, continuava: - ainda não escutas, como quer haja a frente, se nem consegues olhar para trás ou sequer para teus pés? Foi então que, tendo ela mencionado os meus pés, busquei olhá-los, mas eles não estavam lá. Meu corpo metade, como um reflexo de mim mesmo sem que eu existisse todo, soberano. A estátua sorriu sardonicamente. Ela me fitava como uma cicatriz, como um enigma. Eu permanecia mudo, ao contrário, buscando colocar as mãos no chão. Sentia no entanto apenas aquela lama, sangue derretido daquelas estátuas velhas, pós de tempos impossíveis de ver. Ela prosseguiu sua dissecação pelos olhos. Incomodava. Como responder àquelas perguntas? Foi então o ciclone de terra diminuiu sua fúria e pude esticar um pouco meu corpo. Ao longe, uma multidão caminhava, bandeiras em mão e como que havia um grito. Fogos brilhavam surdos mais além daquelas pessoas, vi espadas se chocando, enormes vespas perpassando rostos, libélulas mecânicas defecando sobre cabelos. De pronto, cogumelos gasificados irrompiam e pude ver apenas um pequeno barulho de inseto... Aquelas pessoas no entanto continuavam a caminhar em minha direção. Mudas e gritando. Nad pude distinguir de suas faces.Bradavam algo, bradavam coisas indiscerníveis, meus ouvidos cegos, meus ouvidos, nada ouviam. O ciclone contudo foi diminuindo ainda mais, o sangue das estátuas se transformava agora, novas estátuas se erigiam. Minha boca permanecia seca e um fio de terra transpassou minha espinha. Eu estava murcho como uma fruta desidratada. Finalmente pude contemplar a face da estátua sobrevivente, mais antiga. Seus olhos como universos e seu rosto como confins, mas sua materialidade presente, estarrecedora. Pude então ter a voz para dizer, ainda que não dissesse com boca: - Por que tanto quer me dar um caminho, se a via não vai? .... Texto em tese ainda.

domingo, 12 de agosto de 2012

body and word

I must get rid of myself

of this despictable body:

the ashes of fires burned.


I must, must close the cloud

and have the tears on

and quiet the graves of no-body.


I must, must see the bark of dogs

the cats and their eyes silently watching

and the beast voice of a murder without a victim


I´m not somebody, nor anybody

I'm just an image

freaking out

in the skin of the words

sabi(o/ a) ou o entresom

O sábio sabia que o sábia sabia assobiar mas sabia será
que o sábia não sabia que o sábio não sabia ser-se surdo?

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Quanto mais um vampiro silencia de si, mais deixa de ser si mesmo. Porém, deixe que se esconda por trás de uma máscara e, então, ele nem ao menos será um bom mentiroso – de si.


A ordem viera diretamente. E, por mais que para um Lasombra aceitar ordens fosse sempre difícil, o caso era diferente, uma vez que misturava um prazer inconcebível. Canon o sabia.

Sabia também que não havia melhor vampiro do Sabá para fazer o serviço, afinal, mesmo quando humano, Canon era tido como alguém cuja especialidade era trabalhar em equipe, a bem dizer, fazer a equipe trabalhar por seus objetivos. Seus atributos, pois, já vampiro, eram de grande utilidade. Quando se pensava em um ataque em massa, nada melhor do que Canon para designar o grupo e os meios para realizar a tarefa.

Assim, concebia que a nova tarefa designada pelo líder do Sabá pudesse ser apenas mais uma dentre tantas. Mas não o era realmente, pois não se tratava de uma banalidade – matar humanos apenas. O fato tinha um alcance maior e Canon sabia que faria as vezes de porta-voz do Sabá. A mensagem, por sua vez, todos discerniam, tinha endereço pontual, a fraqueza dos vampiros, Stratton e sua frágil Máscara.

Decorria de tal tarefa sua estranha felicidade dos últimos tempos, felicidade que, para ele, significava crueldade e das mais precisas e preciosas. Desta forma, com o poder que lhe tinham concedido, juntou um grupo de epítomes do Sabá (alguns por meio do medo, outros pela força empregada para o medo, mas todos, outrossim, pelo prazer de ferir a bem-comportada Camarilla).

Recebeu a notícia, enquanto preparava o projeto, de que Marek Jaroszýnski atacara um ponto da cidade e a sua aparição levara toda a choldraboldra de ovelhas mascaradas a seguir até aquele ponto. O carnaval se fizera. Agora era o momento de dar um pouco de seriedade àquela noite de mascarados..., e não havia melhor face do que a própria sombra a ser registrada como fotografia nas ruas de Bennington. O alvo seria o metrô, porque ali estava o que havia de mais repugnante na humanidade. A vida humana já era em si um revés, uma inutilidade, e aquele ambiente só corroborava isto. Centenas de homens e mulheres debatendo-se, em turbamulta, para prosseguir com a mesma rotina diária de ir a um destino que alimenta de esperanças suas vidas tolas. Milhares de seres que se ajoelham, implorando mais um dia de existência, que acompanham desprezíveis estatísticas para saber se a média de idade de morte aumentou de 60 para 65 anos; ou, ainda, que vão às academias no sonho de permanecer, no corpo, o frescor de uma jovialidade que posteriormente não será mais que uma pele franzina, os ossos ruídos, e sequer qualquer benefício de uma fé salvatória, além das baratas a devorar cada minúsculo órgão...

Isto era a grande civilização? Isto era a Humanidade?

Tolice. Naquela aglomeração, em que o toque behaviorista do sino era o suficiente para tocá-los, o desígnio da humanidade mostrava-se latente: ser gado.
Para isto existiam, semoventes com o fim único de servir de alimento. E nesse sentido, o Sabá era felino: não desprezava o brincar com a comida, bem, ao menos não naquela ocasião especialíssima.

Sem a presença de Justicares ou quaisquer uma daquelas instituições estúpidas da Camarilla para tentar evitar o ataque, a carnificina teria lugar no mundo, se é que um tal ato simples como este, de assassinar humanos, deveria merecer qualquer menção honrosa.

Os humanos desciam as escadas para o mundo subterrâneo dos metrôs e esperavam o rumo de seus destinos. Hilário seria, se não fosse somenos. Um deles destacava-se aos olhos dos vampiros e, se não fosse por sua mediocridade ébria, teria talvez algum valor como um dos Sabá, uma vez que sua presença causava o caos no ambiente, atitude que, não fosse o caráter pachorreiro do bêbado, teria algum valor.

Canon, seguidos pelos seus, passou então entre os humanos, pela escada, abriu um leve sorriso para o bêbado e fez com que a sombra do próprio bêbado se movesse, em pequenos movimentos oscilatórios, um vulto andante, que causou um pavor inconcebível naquele indivíduo, o que ocasionou, por sua vez, nos outros, uma enorme irritação, acontecimento que acrescentou mais sarcasmo ainda ao olhar do Lasombra, que pensava em como a presença de um vampiro é sempre superior, o bêbado, aquele pequeno cão dócil a latir e ser menosprezado; ele, porém, vampiro, a raiva inserida no canil de domesticados, e agora o caos.

Era até divertido.

Mas, enfastiava, afinal, tudo o que é humano uma hora cansa. Foi quando, Belceck, neófito ainda, esbarrou em uma mulher de cabelos arruinados, tingidos de vermelho, forte alusão ao sangue... suficiente para despertar a primeira faísca de Fome. A moça vestia-se ainda de uma forma estranha, as roupas importadas demais, os ares afetados demais, mas quiçá a deselegância trouxesse, ocultamente, um sortilégio de sangue?...

Canon, entretanto, vendo o desejo de Belceck, pediu a ele que esperasse alguns segundos. Não que temesse a aparição de alguma ovelha da Camarilla, pelo contrário, sabia que o ato deveria vir como uma surpresa para Stratton, mas não ter ninguém para mostrar sua superioridade até entristecia, pois tirar a vida de humanos nunca seria humilhar, significava, na verdade, levar o prato à mesa e mastigar, banal e tedioso. O fato de esperar, contudo, vinha do antegozo de imaginar a cara de Stratton no momento em que recebesse a notícia da chacina. Para alguém do Sabá, humanos nos jornais traduziam um cardápio em um restaurante qualquer, mas para a Camarilla o sentido se transformava em outro, em medo de priscas eras, humanos ensandecidos à caça, exterminando.
Humanos à caça... e riu-se... irônico, olhando para o rebanho pastando.

Lá iam eles, os humanos, para dentro do metrô, uma armadilha sem que se precisasse montá-la. Corriam, ratos, para seu queijo fétido e envenenado, entretanto, não era o queijo que os mataria.

O metrô abarrotado de pessoas, os olhos desconsolados... as portas fecharam-se.
Eles, esmagados. Dois, sentados, iniciavam quem sabe um romance.

O metrô começou a mover-se. O calor era insuportável, o cheiro, indescritível, os ânimos, inconsoláveis.

E tudo piorou. A luz acabou, sobrando apenas as luzes de emergência. Um suspiro geral subiu, o calor se mostrou mais fortemente, o cheiro tornou-se insuportável, os ânimos agitaram-se.

- Porra, tá todo mundo fodido aqui e você não pára de se mexer pra tentar sair, seu Mané?!

- Que é, quer apanhar?

Foi quando surgiu o ringue de galos. Dois passageiros disputando o espaço, Bestas poderiam ser, se não fossem bestas. Mais distante, uma enxundiosa mulher e suas sacolas oprimindo os outros passageiros com sua enorme carcaça adiposa. Inútil dizer o estrago. Mais distante ainda, um casal angustiado com o parado do metrô e agora naquele quase sem luzes; ao redor deles, a moça ruiva, sua cara de desolação; outros humanos, e outros humanos...

Digam-me, eles não mereciam todos morrer?

As pequenas luzes vermelhas refletiam-se na face dos humanos, salientando ainda mais o rosto e os esgares de inconformação, preço que se paga por estar vivo, por enquanto...

As sombras começaram a se locomover, vagarosas, involucrando os vidros, tornando o ambiente uma grande massa negra de horror. Em meio a elas, como que em pequenos buracos sombrios de luz vermelha, um líquido movente adentrava por entre as frinchas das portas.

Aquilo causou um pavor inexpugnável em todos as presas do metrô, a reação única era de se debaterem uns nos outros buscando saídas possíveis, socos, empurrões, pontapés, tudo era plausível para a sobrevivência,que não lhes seria concedida...

As sombras se tornaram mais densas, pareciam corpos vivos, os líquidos, por sua vez, fizeram um movimento em ascensão, corporificando-se, e a imagem não era das mais belas, para humanos: para estes, na verdade, era o inconcebível.

Sequer uma pessoa entendia o que se passava, aliás, nem o podiam, a inconsciência agia por elas agora, todos os instintos de sobrevivência sendo extirpados dos corpos. Essa era a força do Sabá e se para os Lasombra as trevas eram o insumo do que é propriamente vampiresco, para os humanos era a vida o próprio néctar do caos.

A escuridão apossou-se totalmente das paredes, apenas se podia ver o leve facho de luz vermelha que ressaltava o aspecto grotesco daqueles líquidos, naquele instante já constituídos em forma de algo semelhante a bípedes, porque a imagem não cabia num quadro que pudesse ser afirmado como humano. Após, de dentro daquelas enormes massas tisnadas, inúmeras faces iam se moldando, todas elas muito lívidas, macérrimas, com uma expressão mórbida perfazendo os traços dos rostos, exaltando uma espécie de sinistro massacrante, capaz de transformar qualquer furioso instinto de sobrevivência em total pavor entrevado.

Os humanos, então, não mais se continham, lágrimas saíam de olhos; alguns tentavam se esconder por debaixo de qualquer coisa que houvesse, mas nada resultaria em salvação. Orações desesperadas e nada de deus. Gritos e nenhum consolo. Tentativas vãs de resistência e somente mais inutilidades aspergidas no vazio. Esse era o fado humano, ser um grito no silêncio das sombras.

E as sombras, de um golpe, vieram avassaladoras, espalhando as pessoas por todos os cantos, fazendo-as se entrechocarem, ao mesmo tempo que as lançavam pelas paredes negras que, posteriormente ao momento do toque, tornavam-se como que tentáculos escuros que amarravam pernas e braços, imobilizando e ferindo vagarosamente, pois o pior ainda estaria por vir.

Veio. A figura monstruosa dos Tzimisce tomou suas formas definitivas. Monstruosa sim, para o gado, que sempre vivera no cabresto da cercania, na ingenuidade de nunca sentir, um dia sequer, em sua volta, a mão hábil de seu senhor levando-o ao matadouro.

Lentamente, os tzimisces se aproximavam daqueles humanos, enquanto as trevas intensificavam cada vez mais a pressão insuportável sobre os corpos; Belceck, neófito Tzimisce, incontido, começou a brincar com o rosto de uma idosa, apenas para ver se ainda valia a pena tentar transformar aquela face rugosa em alguma coisa nobre como um possível rosto de vampiro. Falhou, como já era esperado, por ser apenas uma Criança da noite, porém um Tzimisce nunca desiste em seus projetos arquitetônicos... decidiu então dar-lhe uma face que pudesse ser ao menos ser fúnebre : arrastando as rugas da velha, foi rasgando-as veementemente, até que os músculos, envolvidos por elas, começassem a seguir o movimento rastejante da pele, revelando assim, toda a "beleza" da essência humana.

Enquanto isso, as sombras acolhiam desmaternalmente algumas pessoas, estirando-as contra as barras de ferro do metrô, forçando estridentemente seus músculos, suas entranhas e ossos, até o limite que nem o grito pudesse exprimir, as ligações das articulações se esticando até que os corpos simplesmente se decompusessem, tornando-se apenas uma matéria amorfa epidérmica.

Aaron e Janaya, o casal, tentaram se esconder debaixo de um banco, pura tolice.
A mão de Aaron segurava o isqueiro tremendo. Se tivesse um cigarro, pensando aquele ser seu último momento, quem sabe, uma coragem ainda viesse para que ele pudesse acendê-lo e tragá-lo lentamente antes de morrer? Bem, não foi o caso. Uma sombra puxou uma de suas pernas levando-o até uma das paredes enegrecidas. Iniciou, pois, a comprimir seu corpo contra ela. No entanto, meio sem querer, Aaron riscou o rolo do isqueiro e uma pequena chama acendeu-se, fato que fez a sombra, presto, afastar-se... Um segundo e um minúsculo orifício de luz indicou que a barreira de sombra havia se deslocado. Aaron, tornou seus olhos atrás de si...estava encostado na porta do metrô, sobre o vidro. O pensamento de relance tornou-se, então, ação indistinta, quebrou o vidro com um chute capoeirístico, saltou do metrô e correu pelo trilho, com esperanças de que a escuridão acompanhante dos trilhos não se tratasse, na verdade, de mais sombras.

A sorte de uns...


Janaya, no entanto, caíra nas umbras de Canon, e este apertou-lhe o corpo rigidamente até que em seus brancos restassem apenas hematomas. Observou-a. Ela tinha um rosto bonito – para humanas. Contudo, não cabia a ele julgar a beleza. Jogou-a então a um Tzimisce:

- Que seja...

O Tzimisce aproximou-se dela e começou a deformá-la. Desvirtuou cada parcela do rosto com uma exímia habilidade. Pequenas porções das peles das coxas usou para aplicar nas bochechas. Costurou as sobrancelhas até os olhos. Repuxou-lhe as orelhas. No entanto, fez de maneira com que ela pudesse ter, mesmo que desfigurada, um perfil. Qual ironia naquele rosto, humanamente deformado e agora apresentando outro cariz, outra significação. Na face em que outrora residia uma bela mulher, os traços agora eram uma afronta. A face feminina tornada, então, vampiresca e cópia perfeita (ainda que deformada) da face de Stratton, príncipe da Camarilla... Janaya transformara-se na mensagem do Sabá ao Príncipe e, por isto, foi mantida viva, não por condescendência com humanos, mas por virulência, contra Stratton.

Assim, Canon soube que era hora de acabar com aquele divertimento e todas as sombras começaram a agir realmente com fins mortíferos. Não era diferente com os tzimisces que começaram a desfigurar inúmeras pessoas, arrancando os braços de alguns, destripando outros e, em seguida, recosturando as tripas e os braços dos respectivos corpos em donos diferentes, mas em lugares diferentes, criando novas criaturas de aparência mais genuína.

Os Lasombra, por sua vez, fustigavam e atravessavam corpos como se as sombras se apresentassem verdadeiramente como setas impiedosas, que iam minuciosamente perfurando corpos, transpassando-os, como se, zombeteiramente, costurassem-nos até que o sangue fosse expelido, sangue que logo era sugado pelas trevas, que a cada gota, tornavam-se mais densas, até um frenesi de crueldade que destruísse a tudo.

Depois disso, nada mais restava. Os humanos, antes nada, agora, o que sobrava - de nada. As sombras foram então diminuindo, se afastando. Os corpos monstruosos foram se liquefazendo. De chofre, tanto trevas quanto líquidos deslizaram-se sobre o silêncio do túnel até a escuridão total.

A luz retornara. O metrô anteriormente parado, voltara a funcionar. Deveria agora, após tanto tempo, seguir rumo à outra estação. Seguiu. Calmamente. Ignorou até mesmo o corpo de qualquer bebum que pudesse se situar abaixo de seus trilhos... Passou a primeira parte do túnel, pela segunda, continuou sua travessia por uma curva, quieto, lúcido e tranqüilamente. Finalmente, chegou à outra estação, vinte minutos atrasado. As pessoas que o esperavam até estranharam – não havia ninguém...

As portas se abriram. O povo quis entrar, achando que tudo estaria maravilhoso, na calmaria de um dia sem multidões para amassá-las.

Quanto não se espantaram ao ver ali, em meio a um conjunto de desarticulações monstruosas e vermelhos escorrentes, uma mocinha franzina, encolhida num canto, o rosto desfigurado e chorando, chorando como se entrega, sem mascaramentos,

Os presentes mais VERDADEIROS.

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outro post colocado em vampire.

maso

Retirou o isqueiro. A casa.

Fazia tempo que ele frequentava, em silenciado, aqueles porões. o estalar de ratos,ou os fantasmas apenas em barulhos. Àquilo que soava como escuro, não se sabia se o frágil da vista ou se se via, pelos contrários.

Desceu a escada, lebres passos. Em nevulações, branqueando-lhe a vista, sons pareciam descer: quem sabe um rato?

Foi quando algo pulou-lhe sobre o ombro, descendo como vermelhas cachoeiras. Sem que pudesse se desvencilhar do que vinha, apenas sustou suas mãos, acima, desespero em todo tato. Adentrando e adentrando, foi descendo, não com controlar de pernas, descia-se como em uma avalanche sem motor e sem ponto de saída, suas pernas apenas - seus braços tentando se apoiar em qualquer coisa, qualquer estro à mão, à mínima paupadela, ao mínimo resultado de desvencilhamento do medo...

aquele zumbido.

os pedaços da casa sobre suas costas, em lentamente caiam sobre seu pescoço - estilhaços e após escombros, sem nunca pararem. As mãos em vão fitando proteção, mas a impossível defesa. Dores. Uma faca em forma de frincha na pele. E de repente milhões delas. Culpado fosse. Culpado do silêncio, nada gemia. Aguentava a pena, apenas, apesar de que houvesse voz para tanto. Mas, só se expressava em mímico lábio. A dor, dores - veio então a faca, as facas e uma sirene perpassando-lhe o estômago, queria vomitar... mas como se um ópio o embriagasse sem o efeito do não sentir. Sabia só do vício, ficar e receber, ser rompido.

Em interno, vísceras quentes. O calor agora explodia afora. Os rubros internos em movimentos vulcânicos. Ninguém para ajudá-lo, nem sua voz, outra apenas:

- não é o bastante ainda, não ainda.

E viu-se o próprio lábio dizendo-lhe isso, não era ele. Como sofrer a própria dor e assim , querer-se tão mal?

As paredes suavam em branco, até que os tijolos, um a um, como aves e bicos como ganchos. ferido até o que não se pudesse. minúsculos os tijolos encrespando-se a pele, após corrompidos, mil lacetas, e penetrando a carne infrenes, raspando-lhe o inverso dos pêlos, rasgando-lhe os músculos, dilacerando ossos, substanciando-lhe os líquidos de infecções febris.

A febre, de fato. A temperatura e o sol nas vísceras. ácidos sulfúricos tal o líquido do corpo. decumpunha-se e ainda ali, caminhando, sem conseguir parar

- começaram os zumbidos mais uma vez, desta vez por todos os órgãos; os ouvidos dos tecidos vibrando - barulhos pra cachorros, dolorosos. dentes sônicos comendo a carne, deitando mensagem:

- ainda não, mais, a qualquer momento.

os cabelos, agora agulhas, os pensamento, pesos e machados. a tortura era como uma massa única. dor.

olhou as mãos, como se possível. as linhas agora cordas puxando , repuxando-lhe, forca de identidade. E ser si mesmo era adaga. abriu a boca, a língua engulindo-se a suforcar-lhe.


sozinho.


e nem um pio. nem uma tortura. nada.

nada.

nada.


e um pingo. como séculos deles. sobre o nariz. e o eterno som da miséria e a ínfima dor revolvendo-se, ressurrecta às vezes, e a exaustão de dias de crueza, o sonido mortável, o pequeno golpe inelutável.


Todo o corpo então se repuxando para dentro, contorcendo-lhe até o suspiro.


O gemido ainda calado, a boca ainda plena. esticou talvez o braço, ajuda? Mais uma vez, só, só somente. Pensou uma ideia de fugir, fugir... Os pés ganhando força, e tentava subir a escada, arfante. A escada e a escada e a escada. Os degraus continuavam, mais um e mais um e meu deus mais um e sem deus. apoiou-se exausto em um. O degrau, um barco virado - ali estava no oceano, em meio ao azul faminto. Ilhado em o que pareciam lágrimas que escorriam - quanto mais chorava, mais o oceano se enchia como se o afluente seus próprios olhos. Queria conter o choro, não ía. E quanto mais choro, mais se precipitada em quase não mais existir.


- não gritava, não gritava.


Foi se afogando, no entanto. submergindo e a falta de ar era simples diante do nada das águas, nem mesmo águas já. Era um vazio. um só. um o quê? nem água, nem mais ninguém, nem via a si mesmo naquilo que nem sabia dizer se se tratava de algo. Nem mais podia dizer ou ser qualquer coisa.


Um pássaro , um risco, um vidro estilhaçado. Os cados todos no próprio pulso, uma cruz sem o ofício, só a punição. Vislumbrou uma figura, possível companhia. Uma imagem apenas. Tentou chamá-la. A voz a voz a voz! e a figura se esvanecendo, sem cores, uma figura indo-se. esticou um dedo até as pregas vocais, arrancou-lhes e atirou a imagem. Voando, as pregas atingiram um dos cacos.



o gritou estralou-se por todo o corredor, vinha como uma gosma. De repente, o chão de novo, o silêncio do porão. Olhou-se e viu um caco, o único caco que permanecia.

Jogou-lhe contra o mundo - viu-se- parecia ser a si mesmo. O caco era quem sofria. e ele e aquela ferida. como se um tiro ou um soluço. notou-se o vidro. a carne: a isca o arpão e o peixe.

o isqueiro dormia, a casa, cinzas.