terça-feira, 14 de agosto de 2012
Em tédios, como sempre. Aquela via em areias. Fui colocando o meus passos cada vez mais perdidos sobre aquele lugar confuso. Nenhum lugar para deitar a voz. Era eu e aquelas dunas. Algumas estrelas íam se desfazendo pelo céu, um traço de suas quedas se espalhando numa perda de total sentido, estrelas cadentes sem desejos. Estiquei meu braço como uma flexa, mas a seta nada atingia como caminho perfeito. Aquela areia esparsa e a noite que nada davam respostas. Foi quando pisei com os olhos o chão. Ao meu lado, um laço de lama ía crescendo. Como se algo queimasse, vi entre os brilhos escuros como que um buraco negro. Meu corpo se afundando - ao lado as areias íam se erigindo como estátuas antigas, via como se se passasse uma fábula estranhas de acontecimentos humanos já dados. As faces das estátuas a se olharem e a decidirem quem de fato havia ganhado a história - de repente - um sorriso em uma delas e as outras começaram a se derreter - algumas tornavam-se sal, outras se perdiam em carne, cadaverizadas. O sangue começou a jorrar como uma areia férvida. Cada uma daquelas pedras defuntas se liquefazendo e me fustigando. A areia como uma viscosidade perpassando pelos meus pumões, enquanto ía engolindo contos antigos... A restante debruçou-se sobre mim e começou a dizer: - por que queres me dizer o meu caminho, se o seu nem pode existir a menos que andes? Não pude responder. Meu ar falecia. Ainda assim continuava vivo, rodopiando em meio aquele buraco negro, como um ciclone terreno desvairado. A voz, no entanto, continuava: - ainda não escutas, como quer haja a frente, se nem consegues olhar para trás ou sequer para teus pés? Foi então que, tendo ela mencionado os meus pés, busquei olhá-los, mas eles não estavam lá. Meu corpo metade, como um reflexo de mim mesmo sem que eu existisse todo, soberano. A estátua sorriu sardonicamente. Ela me fitava como uma cicatriz, como um enigma. Eu permanecia mudo, ao contrário, buscando colocar as mãos no chão. Sentia no entanto apenas aquela lama, sangue derretido daquelas estátuas velhas, pós de tempos impossíveis de ver. Ela prosseguiu sua dissecação pelos olhos. Incomodava. Como responder àquelas perguntas? Foi então o ciclone de terra diminuiu sua fúria e pude esticar um pouco meu corpo. Ao longe, uma multidão caminhava, bandeiras em mão e como que havia um grito. Fogos brilhavam surdos mais além daquelas pessoas, vi espadas se chocando, enormes vespas perpassando rostos, libélulas mecânicas defecando sobre cabelos. De pronto, cogumelos gasificados irrompiam e pude ver apenas um pequeno barulho de inseto... Aquelas pessoas no entanto continuavam a caminhar em minha direção. Mudas e gritando. Nad pude distinguir de suas faces.Bradavam algo, bradavam coisas indiscerníveis, meus ouvidos cegos, meus ouvidos, nada ouviam. O ciclone contudo foi diminuindo ainda mais, o sangue das estátuas se transformava agora, novas estátuas se erigiam. Minha boca permanecia seca e um fio de terra transpassou minha espinha. Eu estava murcho como uma fruta desidratada. Finalmente pude contemplar a face da estátua sobrevivente, mais antiga. Seus olhos como universos e seu rosto como confins, mas sua materialidade presente, estarrecedora. Pude então ter a voz para dizer, ainda que não dissesse com boca: - Por que tanto quer me dar um caminho, se a via não vai? .... Texto em tese ainda.
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