quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Sempre de velho
ranzinza
rabugento

tudo porque
sempre exausto
sem energia
- foi-se.

E qual o motivo?

será que é aquela
tartaruga
meio camelo
carregando a bigorna
na carroça,
meio cavalo, quiçá,
meio burro?

Sempre de velho,
e irritadiço.
Reclamão
e estressado.

E por isso me odeio tanto
e por isso me odeiam tanto

Porque não sei o que é descanso
não sei o que é não ser senil

Sim, meu torcicolo
sim, meus olhos sempre caindo
levemente cochilando

e mais uma vez vem alguém me dizer o quão velho
de tanto trabalho
estou.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Por não ter

por não ter nada
nem como voltar
tive que continuar
andando

contei com ajuda
perdi a conta
perdi os conto
em contos
encontros

foi o passo dado,
despisado
e cheguei
como bêbado
em casa

a casa que não tinha nada
e me vi parado na porta
sem maçaneta
e me vi dentro
mas o céu, paredes perpassáveis
o silêncio era como a cama

naquele dia dormi
depois de caminhar muito
depois de ver muito
e sentir

ar que circula e some
sem nunca
queixar-se
em vaga

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

vervento

angústia
como um cardume
de rochas e seus dentes
chifres
do aço assado
dobrado
sem qualquer resiliência

meu peito
vejo um tufão
sem giro
doloroso por sua parada
por sua instância de silêncio

e tudo pois tua mão não estica
não se apresenta para a tristeza do mundo
para a tragédia

está vivo
tua sorte te contempla
como aquela bússola
de navegantes de estrela

mas, não queres olhar o sangue no chão
Não queres ver a mão picada pela tua borboleta
não queres abrir um buraco para finalmente ver que o buraco pode existir
está aberto com as portas abertas com as janelas

o buraco
o buraco que é o inverso do sonho
e ao revés ainda o sonho
como o vento ao inverso.

Fugindo
sempre fugindo

e por isso tão angustiado
porque não consigo
capturar o sino

o sino que estala
a raiva
e aquela porção úmida e fétida

que reside no cansaço
no silêncio
profundo
no silêncio que dobra o corpo
instaura
eras de outro silêncios

que cada músculo
guarda
vigia
disciplina

negativamente
como uma cela
em que os prisioneiros
com o mesmo rosto
e todos iguais

olham-se uns para os outros e se auto-acusam
pois são todos os mesmos
todos criminosos

e o crime ainda perdido
perdido