segunda-feira, 23 de julho de 2012

Floresta

Estava envolvido. Os enormes e inúmeros, só lembrava disso. Mas, como? A primeira vez em que a vi, cruzava o pátio, sozinha,a fisionomia nem bela, tampouco feia, contínua apenas. Nada via senão os fios. Enrolados. E os cabelos é que foram nos enrolando. Naquele primeiro mês mentimos muito. Talvez eu quisesse; ela, quem sabe? Alguns fios apenas no casaco, um fio longo e como uma onda, de distância. A voz dela como crespa pelo aparelho. Tínhamos deixado aquele rio, as linguas como em nós, fazendo uma linha amorosa. Nada possuiamos senão o que deixávamos de velho pelos caminhos, inúmeros pêlos de idade pelas vias. Outro dia, de inusitado, recebi a ligação: - Precisava costurar. E eu não sabia em que mão estava a bendita agulha, ela tinha a linha sobre seu corpo e a incapacidade da agulha. Enrolei-a: - veja bem, creio que há um nó aqui. Eu poderia desenlaçar para você, concorda? Mas linha e corda eram coisas diferentes. A corda apenas criava o laço e comprimia, a linha era aquilo que rompia fácil, no entanto. Com o tempo, ela desistiu da trama. Fui eu, mais tarde que, o alfinete na memória, e logo desenrolou-se algo, uma sensação como de estar esticando algo, de ter que constituir o tecido, armá-lo, dispô-lo, quem sabe até transformá-lo em bandeira, mas como sem a linha? resolvi ligar: - veja bem , eu não tenho qualquer linha,será que não há nada mais que se possa usar? - Não sei se fia. - Quem sabe, cabelo? - Os meus? - Sim, lisos? - Não, crespos e venha. Fui-me, para que fiar com a reta linha? Aquelas ondas, curvas, aquilo enfim era tecer algo. Eu me via eterno, borodoro em curvas. Ao chegar, a pele já era só pele. O tecido já estendido, o cordão da vida deposto sobre o pano. Estiquei-me. A malha em flor foi se aproximando. Pontas, duplas, triplas, quadruplas e eu as enternecia entre a língua como se fossem seda. Mas a maciez e a espessura semelhavam-se a algodão. Negras eram as cerdas, firmes, elásticas e, em verdade, eram mais similares a borracha rebulindo-se, relambendo-se escapada, molhando como algo derretido escorrendo bamboleosamente sobre a pele. Mas, era mais viva que uma borracha, era mais árvore e copa. E toquei-lhe os frutos e as folhas negras. Elas cheravam melífluas. A copa, pois, foi me enrondilhado, linhas perpassando um carretel pronto. Os troncos todos perpassando e deliciosamente resvalando, as folhas escrespadas como cascas de caracóis a fazer de cada toque o infinito... as folhas, então, fechando-me, envolvendo-me, e todas as folhas de repente ali. Quando percebi, a boca novamente e o nó apenas laceado. ao entorno, suas mãos. Mais ávidos eram no entanto seus cabelos, e a floresta a fazer um fluxo contínuo; um rio vinha no meio da coberta da floresta e ali fui projetado, mergulhado sem escapatória.

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