Não, meu caro,
não se afobe.
o amor é tudo isto mesmo.
não é fonte segura de onde se bebe a infinda água
mas é ao contrário
a lassidão do rio que percorrer caminhos indescritíveis
em sinuosidades
adaptando-se aos diversos empecilhos
às curvas inesperadas
aos córregos quase sem vida
às secas já mortas
e até o inconstante do mar e seus fluidos oceânicos...
e o que fazes então com este amor?
que é um dia o colorido
outro a sombra
e no terceiro a meia-luz?
que fazes com este amor
máquina de produções delirantes
de calmas ansiedades ciúmes medos fobias e aquela sensação do insepáravel
e em seu conjunto
do nunca apreensível?
O que fazes se te recolhe a cabeça em amarguras
em melancolias
em apegos que não querem ser apegos
se queres esticar a corda para união das partes
mas não queres o laço
sufocante nó
que já enclausuraram
todos os escravos da história?
o que fazer?
como controlar toda essa impetuosidade
o dia que nasce brilhante tanto
que chega quase que a cegar
como controlar a ardência do fogo
senti-lo
aspirá-lo
sem se queimar
sem se ferir
sem sofrer?
tua mente entende
tua mente quer o sossego da solidão quem sabe
quer o recolhimento
o descanço de achar tudo tolo
e o afastamento da vida.
mas o teu coração
como que segunda mente
continua
e o teu sangue jorra como que voando
em dispersão
para onde vai a minúscula célula que quer a felicidade?
talvez encontre um muro e se choque
talvez torne ao como o ar
mas é impossível controlá-la
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Folhinha verde
é como colocar a palafita
no verde
sua folha úmida e sebosa
amarroneada
e sai-se todo sujo
do encantamento amoroso
o não sempre habitual
no verde
sua folha úmida e sebosa
amarroneada
e sai-se todo sujo
do encantamento amoroso
o não sempre habitual
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Um mais um
A voz que pedia um "ser algo", escreveu-se. Meio ponto apenas e o ano se passaria. Mas o lente acreditava diferente, não na disputa exercida pela palavra, mas sim, no sem conflito do único todo-poderoso. Se era descaso do outro, Carlo, é provável que fosse. Um semestre mal feito, ou relativizando, meio mal meio bem feito - valia a consequência, mas valia a culpa?
Ela veio de qualquer forma.
Do lente, lentamente. Veio no enorme pronome 'sua', em caps lock - SUA - tudo porque o poder do Um, oculto e fingido de escondido, surgia como asa por trás de suas costas. Ao olhá-lo, parecia um anjo, um anjo de papéis e prazos, e o prazo era a morte pela obrigação. E o prazo era seriedade e ela, a nota. Notou isso, Carlo, e revindicou a certa seriedade instituída ao longo do ano.
“Meia seriedade, meia nota, meio ponto”.
Mas, a lógica do lente era outra, o que gerou o embate. Embate que nunca ocorreu, pelo menos, não como embate... Vieira, padre, não parecia ter entendido a língua dos índios, e os jesuítas já tinham impregnado de linguística suas bocas. Eles já sentiam o poder encantatório das belas palavras, não sabiam, porém, que atrás daquele discurso, vinha a pena, em único sentido, sem a ideia outra de pluma. E a pena não dançava, só se aplicava, não permitia uma resposta semelhante de belas palavras- em linguagem não portuguesa.
Foi, então, que o anjo assumiu tudo. E ele não permitiu a diferença e nem a indiferença. Não permitiu o "está bem, seja como for, faço o que vier ou me reprove logo, amanhã é outro outro"... Não. O anjo queria recuperá-lo. Trazê-lo para a única e sempre perspectiva eterna do grande Um, a de ser alguém que no devir será este mesmo alguém, ponto fixo uníssono da unidade, ente da regra singular da sagrada Igreja do Um.
E isto fez e disse: "Faço isto, pois um anjo é bom. Você tem que sentir-se mal,pois não é bom, nem um anjo." E aí estava. Todo um anjo só pode ser bom, só pode ser um anjo. E Carlo, que era? Era Carlo, claro, mas era. E o era da experiência criou um novo mundo do vir-a-ser. Louca, a fera não notada, criou-se aos olhos do lente - pena rasgada do um anjo, que já nem anjo era. E aquilo um que se chamava céu, sem meio ponto, outro, que é que seria?
Ela veio de qualquer forma.
Do lente, lentamente. Veio no enorme pronome 'sua', em caps lock - SUA - tudo porque o poder do Um, oculto e fingido de escondido, surgia como asa por trás de suas costas. Ao olhá-lo, parecia um anjo, um anjo de papéis e prazos, e o prazo era a morte pela obrigação. E o prazo era seriedade e ela, a nota. Notou isso, Carlo, e revindicou a certa seriedade instituída ao longo do ano.
“Meia seriedade, meia nota, meio ponto”.
Mas, a lógica do lente era outra, o que gerou o embate. Embate que nunca ocorreu, pelo menos, não como embate... Vieira, padre, não parecia ter entendido a língua dos índios, e os jesuítas já tinham impregnado de linguística suas bocas. Eles já sentiam o poder encantatório das belas palavras, não sabiam, porém, que atrás daquele discurso, vinha a pena, em único sentido, sem a ideia outra de pluma. E a pena não dançava, só se aplicava, não permitia uma resposta semelhante de belas palavras- em linguagem não portuguesa.
Foi, então, que o anjo assumiu tudo. E ele não permitiu a diferença e nem a indiferença. Não permitiu o "está bem, seja como for, faço o que vier ou me reprove logo, amanhã é outro outro"... Não. O anjo queria recuperá-lo. Trazê-lo para a única e sempre perspectiva eterna do grande Um, a de ser alguém que no devir será este mesmo alguém, ponto fixo uníssono da unidade, ente da regra singular da sagrada Igreja do Um.
E isto fez e disse: "Faço isto, pois um anjo é bom. Você tem que sentir-se mal,pois não é bom, nem um anjo." E aí estava. Todo um anjo só pode ser bom, só pode ser um anjo. E Carlo, que era? Era Carlo, claro, mas era. E o era da experiência criou um novo mundo do vir-a-ser. Louca, a fera não notada, criou-se aos olhos do lente - pena rasgada do um anjo, que já nem anjo era. E aquilo um que se chamava céu, sem meio ponto, outro, que é que seria?
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
o raio de luz
quantos eternos e fugazes se enovelam e desenlaçam na velocidade de um raio de luz imóvel e entrando calmo e célere pelo vidro da janela e pelas suas frinchas?
4ª pessoa
nunca fui ser
nunca fui
e nem mesmo estar
para além do verbo de ligação com isto que se chama eu
quis aparecer como hiato fundo
ou mesmo hiperbole desconexa
e quem sabe até mesmo
depois de todas as outras
a 4ª pessoa do plural?
nunca fui
e nem mesmo estar
para além do verbo de ligação com isto que se chama eu
quis aparecer como hiato fundo
ou mesmo hiperbole desconexa
e quem sabe até mesmo
depois de todas as outras
a 4ª pessoa do plural?
domingo, 13 de dezembro de 2009
o reflexo do pai
sobretudo você é um tolo
um idiota
e quantas vez já te pensei inútil
mas será que não é a semelhança
narciso mesmo
não gosta de se ver no espelho?
um idiota
e quantas vez já te pensei inútil
mas será que não é a semelhança
narciso mesmo
não gosta de se ver no espelho?
parede
De repente
eu começo a me achar
desinteressante
mas aquela parede branca
sem espelho
ela sim
é a mais intensa surpresa.
eu começo a me achar
desinteressante
mas aquela parede branca
sem espelho
ela sim
é a mais intensa surpresa.
Engano
eu me engano
e na gana
de me enganar
me engano também
e muito e mais
me enganando
sugere-se um engano a mais
ainda
e outro e outro e outro
e mais enganos,
se não me engano.
e na gana
de me enganar
me engano também
e muito e mais
me enganando
sugere-se um engano a mais
ainda
e outro e outro e outro
e mais enganos,
se não me engano.
sábado, 12 de dezembro de 2009
ânsia
desespera
a espera
é só a esperança
do encontro.
e me encontro só
a mão no celular
no ar
no relógio
o tempo que permanece
já está no futuro
enquanto o corpo
continua sem parar no presente
espero apenas
e a penas
espero
mas logo
algo acontece
que seja o que quero
o que não quero
mas o que quer
que seja.
a espera
é só a esperança
do encontro.
e me encontro só
a mão no celular
no ar
no relógio
o tempo que permanece
já está no futuro
enquanto o corpo
continua sem parar no presente
espero apenas
e a penas
espero
mas logo
algo acontece
que seja o que quero
o que não quero
mas o que quer
que seja.
Faminta pomba
Pomba branca
destruída debaixo da mesa
a pata quebrada
e joga-se ainda migalhas
as outras vem querendo roubar
e as bicas, mesmo frágil.
E come.
Come luta resite
para quê? já nem sabe.
Inútil, amanhã provavelmente estará morta.
Mas, ao olhar para morte
em truculências chegando
o bico fica mais afiado
e há mais veemência
na vontade de comer tudo.
destruída debaixo da mesa
a pata quebrada
e joga-se ainda migalhas
as outras vem querendo roubar
e as bicas, mesmo frágil.
E come.
Come luta resite
para quê? já nem sabe.
Inútil, amanhã provavelmente estará morta.
Mas, ao olhar para morte
em truculências chegando
o bico fica mais afiado
e há mais veemência
na vontade de comer tudo.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Aquele outdoor de uma escola particular
São geralmente alunos brancos,
às vezes japoneses ou negros
para sugerir a não exclusão.
mas são sempre felizes e bonitos
com o sorriso sempre em riste,
por vezes em poses,
em outras andando,
em outras ainda em meio a livros,
uniformizados,
sempre muito limpos,
sem cáries
feridas
malícias
e como que encantados
os olhos em sentimento de slogan
o corpo livre, suave
como é o prazer dos submissos,
cães e suas posturas,
a boca amena no osso,
incapaz de triturá-lo,
só serve
de brinde,
recompensa
dos seus músculos behaviorizados,
dóceis, frígidos,
titericamente alegres.
E eu os observo,
em contraposição,
àquela entrada -
a balbúrdia das vozes
o trote pueril dos passos
o frenesi do indômito
e os dedos, os gritos
na tentativa de coibi-los
e suas vestes pedindo a lama
seus risos humilhativos
seus olhos de lanças
o alucinado latente de seus corpos
às vezes suas faces quedas
seus prantos sofridos
ou persuasivos
suas vontades de devorar tudo
suas sedes de domínio
de dominação, de subversão
sua anarquia
nos gestos, palavras, atitudes,
mas também seu enorme conformismo
ou suas ânsias de quimeras
suas perguntas
suas mãos às escuras no intuito do tato
no meio do impalpável sentido
seus hiatos e gramáticas
sobre o mundo do cálculo e das hipóteses
sobre a vida biológica e histórica
e seus enormes egoísmos
e medos
seus pelos saindo
suas partes brotando
tudo em si querendo formar-se
e o curioso pelo absoluto
e o imenso em vazio
Me pergunto,
como?
Mas como?
Como posso vê-los assim parados
presos
em um outdoor de ofertas
augúrio de uma existência dada, coesa, profícua,
como?
como, se eu ainda os percebo
confusos inertes ilúcidos
frutos ainda no ar
na espera de enxergar-se
quase que caídos,
estraçalhados,
ou pelo punho apanhados,
seguros,
enquanto os vejo ainda
flutuando
sem atinar
seu imponderável espaço,
sua desbalanceável ação?
às vezes japoneses ou negros
para sugerir a não exclusão.
mas são sempre felizes e bonitos
com o sorriso sempre em riste,
por vezes em poses,
em outras andando,
em outras ainda em meio a livros,
uniformizados,
sempre muito limpos,
sem cáries
feridas
malícias
e como que encantados
os olhos em sentimento de slogan
o corpo livre, suave
como é o prazer dos submissos,
cães e suas posturas,
a boca amena no osso,
incapaz de triturá-lo,
só serve
de brinde,
recompensa
dos seus músculos behaviorizados,
dóceis, frígidos,
titericamente alegres.
E eu os observo,
em contraposição,
àquela entrada -
a balbúrdia das vozes
o trote pueril dos passos
o frenesi do indômito
e os dedos, os gritos
na tentativa de coibi-los
e suas vestes pedindo a lama
seus risos humilhativos
seus olhos de lanças
o alucinado latente de seus corpos
às vezes suas faces quedas
seus prantos sofridos
ou persuasivos
suas vontades de devorar tudo
suas sedes de domínio
de dominação, de subversão
sua anarquia
nos gestos, palavras, atitudes,
mas também seu enorme conformismo
ou suas ânsias de quimeras
suas perguntas
suas mãos às escuras no intuito do tato
no meio do impalpável sentido
seus hiatos e gramáticas
sobre o mundo do cálculo e das hipóteses
sobre a vida biológica e histórica
e seus enormes egoísmos
e medos
seus pelos saindo
suas partes brotando
tudo em si querendo formar-se
e o curioso pelo absoluto
e o imenso em vazio
Me pergunto,
como?
Mas como?
Como posso vê-los assim parados
presos
em um outdoor de ofertas
augúrio de uma existência dada, coesa, profícua,
como?
como, se eu ainda os percebo
confusos inertes ilúcidos
frutos ainda no ar
na espera de enxergar-se
quase que caídos,
estraçalhados,
ou pelo punho apanhados,
seguros,
enquanto os vejo ainda
flutuando
sem atinar
seu imponderável espaço,
sua desbalanceável ação?
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Inseto
Quero a calma do inseto
que fica horas lacônico
sobre a parede
como se a assemelhasse.
e que, contudo,
está sempre esperto
asas ágeis de saída
esquivo como um vento,
ao menor risco de vida.
que parece morto
mas está a par de tudo
e que no seu quase imperceptível modo
abunda em disfarces
e gera proles no mundo
- sem que se possa ver quando.
que fica horas lacônico
sobre a parede
como se a assemelhasse.
e que, contudo,
está sempre esperto
asas ágeis de saída
esquivo como um vento,
ao menor risco de vida.
que parece morto
mas está a par de tudo
e que no seu quase imperceptível modo
abunda em disfarces
e gera proles no mundo
- sem que se possa ver quando.
o fundo do poço
no fundo do poço
reside água
que sobe sobre os pés
sobre as pernas
avança sobre o tronco
e invade os pêlos
(tal raízes)
e penetra o peito
explora os úmidos de dentro
faz do sangue lágrimas
transparentes
até sair
feito suor
e invadir a face
deslizando até o topo dos cabelos,
suas minúsculas pontas,
e transcende
ao ponto de nos sentirmos
como que
a substância de impalpável líquido
e aquilo que fazia o furo
do buraco do poço
torna-se como que
o reflexo de sombra da noite
e por um segundo
faz-se do claustro da água
algo de material estrela
refulgindo soturna
na incapacidade do ar
que se torna,
sem que se respire,
a bolha que escapa
vagarosa e impulsiva,
procurando o teto do poço
para se explodir em um grito
de socorro...
socorro
socorro que vira chuva
e entorna do olho do poço
suas lágrimas retidas...
já fora
alcançada a terra e sua firmeza
reside agora lama
dureza até macia.
reside água
que sobe sobre os pés
sobre as pernas
avança sobre o tronco
e invade os pêlos
(tal raízes)
e penetra o peito
explora os úmidos de dentro
faz do sangue lágrimas
transparentes
até sair
feito suor
e invadir a face
deslizando até o topo dos cabelos,
suas minúsculas pontas,
e transcende
ao ponto de nos sentirmos
como que
a substância de impalpável líquido
e aquilo que fazia o furo
do buraco do poço
torna-se como que
o reflexo de sombra da noite
e por um segundo
faz-se do claustro da água
algo de material estrela
refulgindo soturna
na incapacidade do ar
que se torna,
sem que se respire,
a bolha que escapa
vagarosa e impulsiva,
procurando o teto do poço
para se explodir em um grito
de socorro...
socorro
socorro que vira chuva
e entorna do olho do poço
suas lágrimas retidas...
já fora
alcançada a terra e sua firmeza
reside agora lama
dureza até macia.
Assinar:
Postagens (Atom)