quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Um mais um

A voz que pedia um "ser algo", escreveu-se. Meio ponto apenas e o ano se passaria. Mas o lente acreditava diferente, não na disputa exercida pela palavra, mas sim, no sem conflito do único todo-poderoso. Se era descaso do outro, Carlo, é provável que fosse. Um semestre mal feito, ou relativizando, meio mal meio bem feito - valia a consequência, mas valia a culpa?

Ela veio de qualquer forma.

Do lente, lentamente. Veio no enorme pronome 'sua', em caps lock - SUA - tudo porque o poder do Um, oculto e fingido de escondido, surgia como asa por trás de suas costas. Ao olhá-lo, parecia um anjo, um anjo de papéis e prazos, e o prazo era a morte pela obrigação. E o prazo era seriedade e ela, a nota. Notou isso, Carlo, e revindicou a certa seriedade instituída ao longo do ano.

“Meia seriedade, meia nota, meio ponto”.

Mas, a lógica do lente era outra, o que gerou o embate. Embate que nunca ocorreu, pelo menos, não como embate... Vieira, padre, não parecia ter entendido a língua dos índios, e os jesuítas já tinham impregnado de linguística suas bocas. Eles já sentiam o poder encantatório das belas palavras, não sabiam, porém, que atrás daquele discurso, vinha a pena, em único sentido, sem a ideia outra de pluma. E a pena não dançava, só se aplicava, não permitia uma resposta semelhante de belas palavras- em linguagem não portuguesa.

Foi, então, que o anjo assumiu tudo. E ele não permitiu a diferença e nem a indiferença. Não permitiu o "está bem, seja como for, faço o que vier ou me reprove logo, amanhã é outro outro"... Não. O anjo queria recuperá-lo. Trazê-lo para a única e sempre perspectiva eterna do grande Um, a de ser alguém que no devir será este mesmo alguém, ponto fixo uníssono da unidade, ente da regra singular da sagrada Igreja do Um.

E isto fez e disse: "Faço isto, pois um anjo é bom. Você tem que sentir-se mal,pois não é bom, nem um anjo." E aí estava. Todo um anjo só pode ser bom, só pode ser um anjo. E Carlo, que era? Era Carlo, claro, mas era. E o era da experiência criou um novo mundo do vir-a-ser. Louca, a fera não notada, criou-se aos olhos do lente - pena rasgada do um anjo, que já nem anjo era. E aquilo um que se chamava céu, sem meio ponto, outro, que é que seria?

Nenhum comentário:

Postar um comentário