esse aquário redondo
de rochas e líquidos
estraçalhou-se.
Contemplamos inermes os cacos
e se tentamos
re - a- jun- tá-los
temos apenas uma forma frouxa
do que um dia chamou-se figura
se tentamos varrê-los
eles se tornam mais miúdos
e se escondem pelos fiapos dos tapetes
para mais tarde romperem
e assim rasgar
de chofre
nossas próprias peles
Melhor seria mesmo
botar fogo
caco sobre caco
deixar pés nus:
A carne aceitando
as cinzas ardentes
das brasas-vivas.
sexta-feira, 29 de maio de 2009
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Maria
Cheia de Graça a men-s-truação subiu para o feto tomou-lhe o braço direito arrancou-lhe da masturbação umbilical- se deus existisse: do cu, bêbe voltando a ser nuvem, azul disperso finalmente invisível verbo e o verbo desfez a carne - a mãe atéia mas madre, sentiu o peso morto do nada nas entranhas o jorro liquefeito nunca despejado, o pensamento de que podia ter acontecido, a vontade dos pelos macho e fríccios, sair do manto alvo-negro do claustro casto do cubículo colado à pele à calcinha colado ao suor às entranhas urubus comem trompas de falópio não mais trombas, agora ovidutos não ovídiodutos ovários gélidos apesar do olhar rabo de olho querendo quentura bells sinam o seio a frigidez do colostro -
ser mãe é útero abstrato de um dia de chuva queimante.
ser mãe é útero abstrato de um dia de chuva queimante.
segunda-feira, 25 de maio de 2009
The pericoulous
Nem um pouco grego
o sanque afro-
dionisíaco-
beat
e o sol de Jah Jah
nas pantorrilhas
negro
mais negro
que a noite
em sua cor
nele
é só transparência...
.....................................Pra Pericoso.
o sanque afro-
dionisíaco-
beat
e o sol de Jah Jah
nas pantorrilhas
negro
mais negro
que a noite
em sua cor
nele
é só transparência...
.....................................Pra Pericoso.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
O mineirim.
ô rapaiz:
há que se pensar
no ódio aos botões
e no caos
como comida
...................................JuJo.
há que se pensar
no ódio aos botões
e no caos
como comida
...................................JuJo.
Escriba
é engraçado
e magro
mas tome cuidado
"você vai me trazer o dinheiro amanhã - ali é minha casa!"
disse ao cara que morava com o travesti no meio da favela.
.....................................pra Renamzinho.
e magro
mas tome cuidado
"você vai me trazer o dinheiro amanhã - ali é minha casa!"
disse ao cara que morava com o travesti no meio da favela.
.....................................pra Renamzinho.
Trombetti
..............................À Marcus Vinicius
Um homem que lê Goethe
em festas de luzes
altissonantes
ele ainda
verborasgando
cristalinos ouvidos
de cristãs crianças.
Um homem que lê Goethe
em festas de luzes
altissonantes
ele ainda
verborasgando
cristalinos ouvidos
de cristãs crianças.
terça-feira, 19 de maio de 2009
segunda-feira, 18 de maio de 2009
trágico.
ele peidou no túmulo de sua mãe
nojento - alguém diria.
de tristeza- outra pessoa...
mas a verdade é que
o corpo agiu sem intenção
a não ser aquela
de espantar os ares.
nojento - alguém diria.
de tristeza- outra pessoa...
mas a verdade é que
o corpo agiu sem intenção
a não ser aquela
de espantar os ares.
sexta-feira, 15 de maio de 2009
III.
18 horas
espero a pálpebra do azul descer
meu corpo
suor cheiro cansaço
e a lembrança de papéis encralavrados
sou um túmulo de arquivos
em mim aterram-se documentos,
holerites de antigos funcionários defuntos,
nomes desconhecidos encaixados por sobre uma estante do departamento de eletrotecnica,
manuais de aulas, folhetos,periódicos, normas variadas
NBRS:ISO IEC;ANSIS,NF, BN CISPR
e, principalmente, imagens de mulheres tão intimamente apenas lidas:
Lanas, Kátias e tantas outras...
E no entanto,
continuo no embolorado dos livros, nas traças, nas gavetas,
nos computadores acesos,
nos ares-condicionados
e respiro quase
a sensação do ar.
18 horas que não chegam
e eu espero
sentado
sou uma árvore num deserto
de brancas folhas;
sou o fantasma dos que me pagam
bem como eles são pra mim
uma ode ao abstrato
no dia do pagamento.
18 horas
espero a pálpebra do azul descer
meu corpo
suor cheiro cansaço
e a lembrança de papéis encralavrados
sou um túmulo de arquivos
em mim aterram-se documentos,
holerites de antigos funcionários defuntos,
nomes desconhecidos encaixados por sobre uma estante do departamento de eletrotecnica,
manuais de aulas, folhetos,periódicos, normas variadas
NBRS:ISO IEC;ANSIS,NF, BN CISPR
e, principalmente, imagens de mulheres tão intimamente apenas lidas:
Lanas, Kátias e tantas outras...
E no entanto,
continuo no embolorado dos livros, nas traças, nas gavetas,
nos computadores acesos,
nos ares-condicionados
e respiro quase
a sensação do ar.
18 horas que não chegam
e eu espero
sentado
sou uma árvore num deserto
de brancas folhas;
sou o fantasma dos que me pagam
bem como eles são pra mim
uma ode ao abstrato
no dia do pagamento.
II.
um real e pouco
finalmente
a bolha na pele
algumas buganvíleas
sobre o verde
de bromélias assassinas
subo ... quatro ... rolos ... de ... escada
um bilhete na porta:
"aproveitar o tempo não significa trabalhar mais tempo e mais forte, é investi-lo sabiamente" (...)
sobre o ressoar da palavra "tempo"
sem conhecer o autor
a mensagem ecoa arranhacéus
paletós
e toda um cidade de papel
e lixo
e eu, carne-osso, fingimento da bolha.
um real e pouco
finalmente
a bolha na pele
algumas buganvíleas
sobre o verde
de bromélias assassinas
subo ... quatro ... rolos ... de ... escada
um bilhete na porta:
"aproveitar o tempo não significa trabalhar mais tempo e mais forte, é investi-lo sabiamente" (...)
sobre o ressoar da palavra "tempo"
sem conhecer o autor
a mensagem ecoa arranhacéus
paletós
e toda um cidade de papel
e lixo
e eu, carne-osso, fingimento da bolha.
I.
nas nuvens
sobre as caixas
e seus vales cinzas
luzes
vermelhas
.........amarelas
............... verdes
e anúncios
caem sobre o cego caminhante
cumpridor de scripts
de sobrevivência.
Entre ele
vestes de branco:
o sol se perde
amanhecendo
no clarão translúcido de obrigações
tudo é pouco nítido
como a roda reflete a perna
e do retrovisor se avista
a sensação de que nada havia atrás
vê-se
o pára-brisa desligado agora
gotas de chuvas esclarecendo o sol perdido,
trazem-lhe um harmonioso
e sem obstáculo
sem-sentido.
nas nuvens
sobre as caixas
e seus vales cinzas
luzes
vermelhas
.........amarelas
............... verdes
e anúncios
caem sobre o cego caminhante
cumpridor de scripts
de sobrevivência.
Entre ele
vestes de branco:
o sol se perde
amanhecendo
no clarão translúcido de obrigações
tudo é pouco nítido
como a roda reflete a perna
e do retrovisor se avista
a sensação de que nada havia atrás
vê-se
o pára-brisa desligado agora
gotas de chuvas esclarecendo o sol perdido,
trazem-lhe um harmonioso
e sem obstáculo
sem-sentido.
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Helena e Cormac
Pra quê ele foi dizer aquilo? Ele não sabia. Coitado. Helena não era pavio curto, era um incêndio amazônico declarado.
- Pode deixar comigo - E Caz saiu pela porta, em busca de alguém que a escutasse. Seria bom para ela, de fato, pois não conseguiria conversar com a "amiga", desabafar seus problemas e angústias no meio de um alvoroçado extripamento. Fez bem ao sair, portanto. E até mesmo Helena se sentia mais à vontade, afinal, torturar é um ato solitário, em que a consciência do torturador tem de estar toda focalizada no objeto sofredor para que não haja a falência dos golpes ou a própria falência do torturado - isto que é a maior danação para aquele que exerce a conduta de impingir dor, pois, morta a vítima, a graça de tudo se acaba. Assim sendo, o melhor com certeza era manter as feridas sempre expostas, uma a uma, em compassos lentos e agradáveis (para o torturador), acompanhados por cantarolares de cantilenas dóceis ("raindrops keep falling on my head" ) e confecções de novas feridas, respeitando sempre a intermitência do sofrer do outro e, também, sua própria vida - pois as pessoas precisam aprender a lidar com a dor.
E Helena tinha ironicamente o título de doutora nessas práticas, era uma médica ao seu modo. Verdadeiramente ninguém sabia manter a vida de uma pessoa como ela, especialmente naquelas condições.
O pobre Cormac não sabia disso. E agora era tarde pra saber. Helena, de um movimento ágil, tomou-o pelos cabelos e colocou - o de cu pra cima, com os braços para trás e a cabeça presa no colchão de uma das camas do quarto. Era do feitio dela esse tipo de atitude meio dramática no momento em que iria "tranquilizar" alguém, gostava de grandes feitos em sua arte e , portanto, provocar a dor não podia ser um ato rebaixado à inúteis e delicadas sutilezas - estas, com efeito, deveriam ser empregadas poucas vezes, no intento de trazer um arredondamento do estilo e um brilhantismo estranho às coisas - enfim, ela usufruia certamente da rudeza, e o bruto de seu estilo era o exílio do pedantismo. O machucar deveria ser obrigatoriamente truculento, mas de feições macias, dolorosas, sensíveis, bem sensíveis... totalmente femininas.
E o foi. Amarrou quase romanticamente os braços e as pernas de Cormac na cama, este último tentava reagir , porém, e bulia todo o corpo veementemente. É, mas, me desculpem homens, algumas mulheres são bem mais fortes do qualquer ser barbado, algumas até possuem barba, fato que testifica a força sombria das mulheres? Não sei. Isso fica pra outra hora. O importante é que Helena imobilizou seu desafeto.
E pensou, então, em começar por aquilo qie os seres masculinos mais zelam como pórtico de segurança da varonilidade: Chutou veemente o saco de Cormac.
Ele fez um "uh" seco e tímido, mostrando , no entanto, que a sua face não mudara de expressão. Achara a atitude da mulher provavelmente boba. Típica das mulheres. e de quaisquer espécies outras que Cormac desprezasse. Aí estava incluída, sem dúvida, a humanidade inteira.
Helena, até tristonha, percebeu aquilo e decidiu mudar um pouco estilo. Se o saco não era o alvo, que seja então "O" outro alvo (e, por favor, atente-se a circularidade do "O" da questão). Ela sabia que a saída para resolver aquele problema talvez fosse a própria "saída". Foi buscar, então, alguma coisa que não possuísse formato anatômico - tinha que doer, ah se tinha. E verdadeiramente.
Seguiu rapidaemnte à sala ao lado, onde estava escrito "Centro Cirúrgico". Ali era o lugar real para encontrar o que procurava. Entrou. Felizmente, achou uma gaveta interessante. Ficou em dúvida sobre o que utilizar, era tudo apetecível. Finalmente, encontrou uma espécie de bastão maluco, bem grosso, que encontrara, grosso modo, bem debaixo da estante onde estava a gaveta. Pensou consigo: Pra que ser sofisticada? - e lembrou-se de como a medicina estava decadente na atualidade, extremamente cuidadosa, sendo que a premissa maior nos hospitais é a de evitar a dor do paciente a qualquer custo... Tempos deprimentes aqueles. E Helena consultava sua memória e captava os tempos inesquecíveis em que o melhor era, de jeito, o primitivo das coisas, o rudimentar, o precário...ah... tempos modernos frágeis e reprimidos da dor - e bateu o bastão na mão numa pose de desprezo - e retornou de seus enlevos : "vamos terminar o serviço! Adoravelmente não há outro jeito mesmo!"
Ela saiu, enfim, do Centro Cirúrgico e deu de cara com uma cena inesperada. Bem, para nós pelo menos, mas não para as enfermeiras ressentidas e vingativas que assistiam à cena da prisão de Cormac que uma das camêras do hospício gravava ao vivo, à cores e hilariantemente para todo o edifício. Todas estas mulheres faziam uma enorme fila branca que se espalhava do quarto até os límites inatingíveis do corredor. Eram tantas e tão histéricas que o eco de suas vozes parecia ressoar como que timbre sobre timbre , formando um uníssono atabalhoado de quizilas vocais pustulentas. Helena se questionava... "mas como isso? E em tão pouco tempo? Era a raiva, Helena, que semelhante às reações imediatas do corpo que se fortifica ao estar em perigo, surgia inebriante e demoniosa, dando a fúria necessária para o intuito destrutivo daquelas enfermeiras.
Ora, em vida ( e eram centenas de vidas), todas elas já haviam sofridos os ataques fulminates de Cormac e não apenas enrabadinhas descompromissadas e sem querer, como também, astuciosas voadoras nas costelas, violentas, mas exercidas, segundo Cormac, com carinho, muito carinho. Tal atitude vingativa tinha sentido, portanto, e o sentido era diretamente direcionado rumo à bunda espalhafatosa daquele homem.
Nunca aquela cena acontecera antes. A oportunidade era única e tão apropriada para o ato de espancar. Cormac estava escancaradamente aberto a tal propenções. Aquele momento era extremamente agradável (para às mulheres somente). Elas estavam até pensando em pedir uma pizza e um vinho para celebrar. Como eram enfermeiras e ganhavam pouco, desistiram logo. E o salário foi descontado. E já se sabe em quem.
Helena, passando pelas sandias mulheres, entrou mais uma vez no quarto. Refletiu um pouco. Talvez o acontecimento repentino pudesse ser interessante.
As enfermeras foram pra cima de Cormac com tudo. Atacavam sem pudor, e como haveriam de atacar com pudor se a posição dele não as deixava escolha? Continuaram. Inúmeros tapas de mão explicitamente aberta, pontapés com os dedos afiados de unhas não feitas e duras, injeções de líquidos aberrantes e inomeáveis sendo aplicadas furiosamente e milhares de vezes em cada uma das nádegas de Cormac, esse era o cardápio do dia. E a bunca era quase o alimento, porque algumas delas queriam substituir a pizza não obtida pelo almoço de algo tão macio quanto a massa de uma napolitana. Só não o fizeram com medo de que alhos surgissem, retamente, como cheiro de algo novo, e em suas caras.
Cormac, por sua vez, estava tranquilo. A cena não o incomodava. Ele estava calmo como uma porta parada e sendo manuseada com a chave, para que se pudesse abri-la. Simples assim, sem exageros. Doer? Doía. nada que o fizesse ,contudo, sofrer verdadeiramente.
Não obstante isso, elas prosseguiram, à força de supositórios e remédios horríveis que íam sendo depositados, mais uma vez e mais outra, na parte posterior do nêmesis. Cormac, diferentemente de outros homens, não chorava ou gemia. Ria e ria e mais ria e ria. Ele não era homossexual. Bem, ao menos nunca demonstrara tal tendência. O fato é que o necrófilo, acostumado a situações bem mais bizarras do que aquela, considerava o que se passava como ridículo. Gritava, então, meio que em gargalhadas de demo:
- Vocês não prestam nem pra isto! Acham que causam dor, rejubilam-se com a minha posição, mas não me arrancam nem sequer um peido de medo! - e uma delas pôs a mão no nariz esperando uma bufa. Que não veio... ainda bem - Vocês são tão desajeitadas e medíocres e não são nem mesmo enfermeirinhas de merda (e , de fato, muitas delas não sabiam nem limpar o cu de velhos)! E não conseguem nem aplicar essas injeções direito de tão lesadas que são! Se eu pudesse eu as ensinaria... Sabe, quase me apiedo de vocês e só pra ferir ainda mais seus nenhuns orgulhos! Aliás, quem foi o imprestável que contratou vocês, piores que imprestáveis - inúteis!?
As enfermeiras ao ouvirem isso, ficaram possessas. Quem era aquele idiota para saber das suas dificuldades de enfermeiras? Ele, sempre um calhorda, sempre um estúpido machista, que nunca nem mesmo as cumprimentava e se, distraído, por acaso o fizesse, seria é claro para lembrá-las de como ele se sentia superior só por nascido com um pinto e não sem bunilá-las um pouquinho e falar que queria empalá-las... por amor selvagem a elas.
Bom, elas imaginavam aquilo de Cormac, no entanto, ele nunca pensara naquilo somente. Gostava também de causar incômodos nos outros, e para dar prazer. Em quem, nós já sabemos.
Helena, após observar tanto, notara como a mente daquele homem funcionava. E se enfureceu. Observou todas as mulheres e se enfezou de vez. Introduziu, pois, uma onda de violência que se alastrou até os ovários daquelas inúteis. É claro que sua mira não estava tão boa e alguns golpes foram bruscamente introduzidos em Cormac. Ele estava imovível, no entanto.
Helena, cigarro em mãos, amarga. Aquele maldito cara não se enputecera com a tentativa de humilhação que as ridículas tinham desejado causar nele. Sabia que o machão achara tudo um grande circo. Ela só não sabia quem estava sendo a palhaça, se elas ou as outras. Se quisesse torturá-lo, com efeito, sua tática tinha que mudar.
Relembrou-se da cena toda até aquele instante. Da maneira como tinha entrado no quarto, da sua tentativa de afirmação pra cima dos outros, do seu desprezo e gozo com as estúpidas enfermeiras. O que ela podia fazer. Espancá-lo era só lhe dar um gás hilariante. E ficou assustadoramente nervosa. Viu que uma aranha passava por ali, andando por sobre a cama em que se encontrava o maldito. Com uma raiva absurda, vinda do fato de não poder impingir uma dor tamanha que o fizesse Cormac surtar, Helena deu um peteleco na pobre e inocente aranha, que entrara como uma falta de criatividade do autor da história, e que, logo percebida, já fora submetida ao ritual característico dos entrões defeitusosos - levar bordoada.
Cormac se assustou com o acontecimento. Seus olhos estavam repleto de desejo e confessavam uma certa frustação causada pela incapacidade de participar do esporro. Helena, percebera de pronto a angústia do "camarada" e trouxe a aranha mais próxima dele, bem em frente a sua vista para aguçá-lo ainda mais. Espreitou a aranha quase que encostando no nariz do sempre cruel homem. Finalmente:
- O que acha desta aranhinha? Tão frágil e indefesa... E nós aqui, deuses para ela. Melhor dizendo, eu, já que você agora é apenas um vaso de porcelana que escuta vê e fala e que , ainda assim, continua não servindo pra nada. Olha só como é bonitinho este serzinho... imagino o que posso fazer com ele. Aliás, imagino o uq evocê poderia fazer com ele, lógico, se você estivesse solto. Hum... quem sabe um petelequinho, só pra começar? ... Ai coitadinha, não sofreu direito! Deixe eu dar mais um... ops... não não não, acho que eu não levo jeito pra isso. Nossa, talvez você pudesse me ajudar, hein, machão? Tsc tsc... me esqueci, você não pode. Eu sei , você adoraria estar aqui no meu lugar , colocando toda a sua potência masculina ao longo de todo o corpo dela. É, os homens são assim, o que quer que façam ou falem sempre acabam falando do ou espressando o próprio falo. E é uma pena que você não possa fazer isto agora. Porque, no fundo, neste momento, você é pior do que esta aranha. Eu sei. Não suporta esse meu falatório não é? - e Helena deu um tapa um pouco mais forte na aranha, o que fez Cormac encher os olhos de prazer e de tristeza, ao mesmo tempo - Nossa, esta daqui é bem resistente, não é mesmo? ..................
Cormac estava tremendo. Suas pernas estavam duras, seus braços doendo devido à pressão que as cordas faziam em sua pele; sua boca, em especial, estava deplorável, uma saliva escorria como um fio oleoso que descia do queixo até o lençol da cama e não atingia a aranha, não chegava nem a se aproximar. Em dado momento, ele começou a rugir grunhidos intraduzíveis, podia até parecer um animal sedento, no istante sem ruído, esperto para fincar seus dentes na presa estacada. No entanto, nem isso parecia, uma vez que seus dentes não alcançariam tal presa e o desejo dele não era o de comê-la, mas, unicamente de fincá-la, atitude esta impossível,ou pelo menos improvável, para aquele contexto.
- E eu apagasse vagarosamente meu cigarro nela? O que você acharia disso. Acho que adoraria. Por que você não tenta? - E Helena colocou o cigarro perto das narinas de Cormac. A aranha passou por cima do cigarro, bem longe da área que queimava, Cormac encheu os olhos de água. A mulher, então, levantou a aranha pela perninha, afastando-a do homem preso. Colocou a aranha sobre sua própria mão e disse:
- Entenda logo, não há como você sair de sua posição. Sofra... vai te fazer bem. - mais um tapa no bichinho e uma leve tocadinha de fogo.
Cormac começou a babar mais, seu corpo se batia contra a cama, ele queria fazer exercício de toda a sua crueldade, seus instintos intimamente recônditos pediam-lhe isto. Ele já suava e frio. A temperatuda de seu corpo foi aumentando, aumentando, aumentando...
A aranha morrera. A pequena dose de fogo que a tocara fora suficiente para matá-la.
Helena voltou sua vista para Cormac. Ele desmaiara. Ela apagou o cigarro, inconformada e saiu pela porta com a sensação de fracasso. No fundo, talvez a torturadora tivesse sido torturada.
- Pode deixar comigo - E Caz saiu pela porta, em busca de alguém que a escutasse. Seria bom para ela, de fato, pois não conseguiria conversar com a "amiga", desabafar seus problemas e angústias no meio de um alvoroçado extripamento. Fez bem ao sair, portanto. E até mesmo Helena se sentia mais à vontade, afinal, torturar é um ato solitário, em que a consciência do torturador tem de estar toda focalizada no objeto sofredor para que não haja a falência dos golpes ou a própria falência do torturado - isto que é a maior danação para aquele que exerce a conduta de impingir dor, pois, morta a vítima, a graça de tudo se acaba. Assim sendo, o melhor com certeza era manter as feridas sempre expostas, uma a uma, em compassos lentos e agradáveis (para o torturador), acompanhados por cantarolares de cantilenas dóceis ("raindrops keep falling on my head" ) e confecções de novas feridas, respeitando sempre a intermitência do sofrer do outro e, também, sua própria vida - pois as pessoas precisam aprender a lidar com a dor.
E Helena tinha ironicamente o título de doutora nessas práticas, era uma médica ao seu modo. Verdadeiramente ninguém sabia manter a vida de uma pessoa como ela, especialmente naquelas condições.
O pobre Cormac não sabia disso. E agora era tarde pra saber. Helena, de um movimento ágil, tomou-o pelos cabelos e colocou - o de cu pra cima, com os braços para trás e a cabeça presa no colchão de uma das camas do quarto. Era do feitio dela esse tipo de atitude meio dramática no momento em que iria "tranquilizar" alguém, gostava de grandes feitos em sua arte e , portanto, provocar a dor não podia ser um ato rebaixado à inúteis e delicadas sutilezas - estas, com efeito, deveriam ser empregadas poucas vezes, no intento de trazer um arredondamento do estilo e um brilhantismo estranho às coisas - enfim, ela usufruia certamente da rudeza, e o bruto de seu estilo era o exílio do pedantismo. O machucar deveria ser obrigatoriamente truculento, mas de feições macias, dolorosas, sensíveis, bem sensíveis... totalmente femininas.
E o foi. Amarrou quase romanticamente os braços e as pernas de Cormac na cama, este último tentava reagir , porém, e bulia todo o corpo veementemente. É, mas, me desculpem homens, algumas mulheres são bem mais fortes do qualquer ser barbado, algumas até possuem barba, fato que testifica a força sombria das mulheres? Não sei. Isso fica pra outra hora. O importante é que Helena imobilizou seu desafeto.
E pensou, então, em começar por aquilo qie os seres masculinos mais zelam como pórtico de segurança da varonilidade: Chutou veemente o saco de Cormac.
Ele fez um "uh" seco e tímido, mostrando , no entanto, que a sua face não mudara de expressão. Achara a atitude da mulher provavelmente boba. Típica das mulheres. e de quaisquer espécies outras que Cormac desprezasse. Aí estava incluída, sem dúvida, a humanidade inteira.
Helena, até tristonha, percebeu aquilo e decidiu mudar um pouco estilo. Se o saco não era o alvo, que seja então "O" outro alvo (e, por favor, atente-se a circularidade do "O" da questão). Ela sabia que a saída para resolver aquele problema talvez fosse a própria "saída". Foi buscar, então, alguma coisa que não possuísse formato anatômico - tinha que doer, ah se tinha. E verdadeiramente.
Seguiu rapidaemnte à sala ao lado, onde estava escrito "Centro Cirúrgico". Ali era o lugar real para encontrar o que procurava. Entrou. Felizmente, achou uma gaveta interessante. Ficou em dúvida sobre o que utilizar, era tudo apetecível. Finalmente, encontrou uma espécie de bastão maluco, bem grosso, que encontrara, grosso modo, bem debaixo da estante onde estava a gaveta. Pensou consigo: Pra que ser sofisticada? - e lembrou-se de como a medicina estava decadente na atualidade, extremamente cuidadosa, sendo que a premissa maior nos hospitais é a de evitar a dor do paciente a qualquer custo... Tempos deprimentes aqueles. E Helena consultava sua memória e captava os tempos inesquecíveis em que o melhor era, de jeito, o primitivo das coisas, o rudimentar, o precário...ah... tempos modernos frágeis e reprimidos da dor - e bateu o bastão na mão numa pose de desprezo - e retornou de seus enlevos : "vamos terminar o serviço! Adoravelmente não há outro jeito mesmo!"
Ela saiu, enfim, do Centro Cirúrgico e deu de cara com uma cena inesperada. Bem, para nós pelo menos, mas não para as enfermeiras ressentidas e vingativas que assistiam à cena da prisão de Cormac que uma das camêras do hospício gravava ao vivo, à cores e hilariantemente para todo o edifício. Todas estas mulheres faziam uma enorme fila branca que se espalhava do quarto até os límites inatingíveis do corredor. Eram tantas e tão histéricas que o eco de suas vozes parecia ressoar como que timbre sobre timbre , formando um uníssono atabalhoado de quizilas vocais pustulentas. Helena se questionava... "mas como isso? E em tão pouco tempo? Era a raiva, Helena, que semelhante às reações imediatas do corpo que se fortifica ao estar em perigo, surgia inebriante e demoniosa, dando a fúria necessária para o intuito destrutivo daquelas enfermeiras.
Ora, em vida ( e eram centenas de vidas), todas elas já haviam sofridos os ataques fulminates de Cormac e não apenas enrabadinhas descompromissadas e sem querer, como também, astuciosas voadoras nas costelas, violentas, mas exercidas, segundo Cormac, com carinho, muito carinho. Tal atitude vingativa tinha sentido, portanto, e o sentido era diretamente direcionado rumo à bunda espalhafatosa daquele homem.
Nunca aquela cena acontecera antes. A oportunidade era única e tão apropriada para o ato de espancar. Cormac estava escancaradamente aberto a tal propenções. Aquele momento era extremamente agradável (para às mulheres somente). Elas estavam até pensando em pedir uma pizza e um vinho para celebrar. Como eram enfermeiras e ganhavam pouco, desistiram logo. E o salário foi descontado. E já se sabe em quem.
Helena, passando pelas sandias mulheres, entrou mais uma vez no quarto. Refletiu um pouco. Talvez o acontecimento repentino pudesse ser interessante.
As enfermeras foram pra cima de Cormac com tudo. Atacavam sem pudor, e como haveriam de atacar com pudor se a posição dele não as deixava escolha? Continuaram. Inúmeros tapas de mão explicitamente aberta, pontapés com os dedos afiados de unhas não feitas e duras, injeções de líquidos aberrantes e inomeáveis sendo aplicadas furiosamente e milhares de vezes em cada uma das nádegas de Cormac, esse era o cardápio do dia. E a bunca era quase o alimento, porque algumas delas queriam substituir a pizza não obtida pelo almoço de algo tão macio quanto a massa de uma napolitana. Só não o fizeram com medo de que alhos surgissem, retamente, como cheiro de algo novo, e em suas caras.
Cormac, por sua vez, estava tranquilo. A cena não o incomodava. Ele estava calmo como uma porta parada e sendo manuseada com a chave, para que se pudesse abri-la. Simples assim, sem exageros. Doer? Doía. nada que o fizesse ,contudo, sofrer verdadeiramente.
Não obstante isso, elas prosseguiram, à força de supositórios e remédios horríveis que íam sendo depositados, mais uma vez e mais outra, na parte posterior do nêmesis. Cormac, diferentemente de outros homens, não chorava ou gemia. Ria e ria e mais ria e ria. Ele não era homossexual. Bem, ao menos nunca demonstrara tal tendência. O fato é que o necrófilo, acostumado a situações bem mais bizarras do que aquela, considerava o que se passava como ridículo. Gritava, então, meio que em gargalhadas de demo:
- Vocês não prestam nem pra isto! Acham que causam dor, rejubilam-se com a minha posição, mas não me arrancam nem sequer um peido de medo! - e uma delas pôs a mão no nariz esperando uma bufa. Que não veio... ainda bem - Vocês são tão desajeitadas e medíocres e não são nem mesmo enfermeirinhas de merda (e , de fato, muitas delas não sabiam nem limpar o cu de velhos)! E não conseguem nem aplicar essas injeções direito de tão lesadas que são! Se eu pudesse eu as ensinaria... Sabe, quase me apiedo de vocês e só pra ferir ainda mais seus nenhuns orgulhos! Aliás, quem foi o imprestável que contratou vocês, piores que imprestáveis - inúteis!?
As enfermeiras ao ouvirem isso, ficaram possessas. Quem era aquele idiota para saber das suas dificuldades de enfermeiras? Ele, sempre um calhorda, sempre um estúpido machista, que nunca nem mesmo as cumprimentava e se, distraído, por acaso o fizesse, seria é claro para lembrá-las de como ele se sentia superior só por nascido com um pinto e não sem bunilá-las um pouquinho e falar que queria empalá-las... por amor selvagem a elas.
Bom, elas imaginavam aquilo de Cormac, no entanto, ele nunca pensara naquilo somente. Gostava também de causar incômodos nos outros, e para dar prazer. Em quem, nós já sabemos.
Helena, após observar tanto, notara como a mente daquele homem funcionava. E se enfureceu. Observou todas as mulheres e se enfezou de vez. Introduziu, pois, uma onda de violência que se alastrou até os ovários daquelas inúteis. É claro que sua mira não estava tão boa e alguns golpes foram bruscamente introduzidos em Cormac. Ele estava imovível, no entanto.
Helena, cigarro em mãos, amarga. Aquele maldito cara não se enputecera com a tentativa de humilhação que as ridículas tinham desejado causar nele. Sabia que o machão achara tudo um grande circo. Ela só não sabia quem estava sendo a palhaça, se elas ou as outras. Se quisesse torturá-lo, com efeito, sua tática tinha que mudar.
Relembrou-se da cena toda até aquele instante. Da maneira como tinha entrado no quarto, da sua tentativa de afirmação pra cima dos outros, do seu desprezo e gozo com as estúpidas enfermeiras. O que ela podia fazer. Espancá-lo era só lhe dar um gás hilariante. E ficou assustadoramente nervosa. Viu que uma aranha passava por ali, andando por sobre a cama em que se encontrava o maldito. Com uma raiva absurda, vinda do fato de não poder impingir uma dor tamanha que o fizesse Cormac surtar, Helena deu um peteleco na pobre e inocente aranha, que entrara como uma falta de criatividade do autor da história, e que, logo percebida, já fora submetida ao ritual característico dos entrões defeitusosos - levar bordoada.
Cormac se assustou com o acontecimento. Seus olhos estavam repleto de desejo e confessavam uma certa frustação causada pela incapacidade de participar do esporro. Helena, percebera de pronto a angústia do "camarada" e trouxe a aranha mais próxima dele, bem em frente a sua vista para aguçá-lo ainda mais. Espreitou a aranha quase que encostando no nariz do sempre cruel homem. Finalmente:
- O que acha desta aranhinha? Tão frágil e indefesa... E nós aqui, deuses para ela. Melhor dizendo, eu, já que você agora é apenas um vaso de porcelana que escuta vê e fala e que , ainda assim, continua não servindo pra nada. Olha só como é bonitinho este serzinho... imagino o que posso fazer com ele. Aliás, imagino o uq evocê poderia fazer com ele, lógico, se você estivesse solto. Hum... quem sabe um petelequinho, só pra começar? ... Ai coitadinha, não sofreu direito! Deixe eu dar mais um... ops... não não não, acho que eu não levo jeito pra isso. Nossa, talvez você pudesse me ajudar, hein, machão? Tsc tsc... me esqueci, você não pode. Eu sei , você adoraria estar aqui no meu lugar , colocando toda a sua potência masculina ao longo de todo o corpo dela. É, os homens são assim, o que quer que façam ou falem sempre acabam falando do ou espressando o próprio falo. E é uma pena que você não possa fazer isto agora. Porque, no fundo, neste momento, você é pior do que esta aranha. Eu sei. Não suporta esse meu falatório não é? - e Helena deu um tapa um pouco mais forte na aranha, o que fez Cormac encher os olhos de prazer e de tristeza, ao mesmo tempo - Nossa, esta daqui é bem resistente, não é mesmo? ..................
Cormac estava tremendo. Suas pernas estavam duras, seus braços doendo devido à pressão que as cordas faziam em sua pele; sua boca, em especial, estava deplorável, uma saliva escorria como um fio oleoso que descia do queixo até o lençol da cama e não atingia a aranha, não chegava nem a se aproximar. Em dado momento, ele começou a rugir grunhidos intraduzíveis, podia até parecer um animal sedento, no istante sem ruído, esperto para fincar seus dentes na presa estacada. No entanto, nem isso parecia, uma vez que seus dentes não alcançariam tal presa e o desejo dele não era o de comê-la, mas, unicamente de fincá-la, atitude esta impossível,ou pelo menos improvável, para aquele contexto.
- E eu apagasse vagarosamente meu cigarro nela? O que você acharia disso. Acho que adoraria. Por que você não tenta? - E Helena colocou o cigarro perto das narinas de Cormac. A aranha passou por cima do cigarro, bem longe da área que queimava, Cormac encheu os olhos de água. A mulher, então, levantou a aranha pela perninha, afastando-a do homem preso. Colocou a aranha sobre sua própria mão e disse:
- Entenda logo, não há como você sair de sua posição. Sofra... vai te fazer bem. - mais um tapa no bichinho e uma leve tocadinha de fogo.
Cormac começou a babar mais, seu corpo se batia contra a cama, ele queria fazer exercício de toda a sua crueldade, seus instintos intimamente recônditos pediam-lhe isto. Ele já suava e frio. A temperatuda de seu corpo foi aumentando, aumentando, aumentando...
A aranha morrera. A pequena dose de fogo que a tocara fora suficiente para matá-la.
Helena voltou sua vista para Cormac. Ele desmaiara. Ela apagou o cigarro, inconformada e saiu pela porta com a sensação de fracasso. No fundo, talvez a torturadora tivesse sido torturada.
domingo, 10 de maio de 2009
sábado, 9 de maio de 2009
Melodia
De como um surto no meu corpo:
imagens em V
e o acento fazendo o efeito
dos elans explicítos...
e a grossura das dobras
em seu exercício carnoso
o tecido pálido arranhado de vermelho -
vicissitudes dos animais...
Líquidos estarrecidos -
toda a maciez da sensibilidade
da brusquidão leve
do tato que se aprofunda
e um desespero de ir além...
e além e...
No cerne, o centro, o bojo
e, ato-contínuo, fricção.
os disparos entrechocando-se:
cachoeiras no algodão.
e um último silvo
a água salgada rumando prum rio
até o seco do cansaço
e alastra uma nuvem
no abafado vidro
imagens em V
e o acento fazendo o efeito
dos elans explicítos...
e a grossura das dobras
em seu exercício carnoso
o tecido pálido arranhado de vermelho -
vicissitudes dos animais...
Líquidos estarrecidos -
toda a maciez da sensibilidade
da brusquidão leve
do tato que se aprofunda
e um desespero de ir além...
e além e...
No cerne, o centro, o bojo
e, ato-contínuo, fricção.
os disparos entrechocando-se:
cachoeiras no algodão.
e um último silvo
a água salgada rumando prum rio
até o seco do cansaço
e alastra uma nuvem
no abafado vidro
Boneca de gesso
numa roupa
numa cor
num tecido
sua voz é gesso
e come o que te mandam
bebe o que te enfiam
e você não mastiga, não sorve,
não sabe os sabores
e você não tem sequer saliva.
E te cosem o imaginário:
você é uma princesa
uma atriz televisiva
uma modelo mundial
tudo, tudo menos uma boneca.
e em nenhum momento
te fazem realmente uma questão;
você não responde
não sabe nem ao menos
o que é responder:
você não tem opinião.
e te apertam, te colocam de baixo d'água,
e te esbofeteiam e dizem que te amam;
e você não sabe nem não gostar,
perder o fôlego,
sentir suas penas,
e nem aceitar com os braços
qualquer necessidade de amor.
E só se esmera na sempre
imobilidade;
os olhos acesos
esticados
os iguais traços
você não envelhece.
Você nem sequer sabe
que foi construída;
não sabe seu nome
nem seu lote
- você não tem
talvez
nem uma filosofia.
você é fetiche?
quem sabe?
Não, não você.
Os outros vão lhe dizer
o seu sentido;
e seus ouvidos
selam calados
você não sabe nem
apenas
se entender.
E por que existe?
Amiga,
filha,
boneca?
Será que um dia
você pensou em alguma coisa?
Não, isso ninguém sabe,
não,
ninguém sabe.
numa cor
num tecido
sua voz é gesso
e come o que te mandam
bebe o que te enfiam
e você não mastiga, não sorve,
não sabe os sabores
e você não tem sequer saliva.
E te cosem o imaginário:
você é uma princesa
uma atriz televisiva
uma modelo mundial
tudo, tudo menos uma boneca.
e em nenhum momento
te fazem realmente uma questão;
você não responde
não sabe nem ao menos
o que é responder:
você não tem opinião.
e te apertam, te colocam de baixo d'água,
e te esbofeteiam e dizem que te amam;
e você não sabe nem não gostar,
perder o fôlego,
sentir suas penas,
e nem aceitar com os braços
qualquer necessidade de amor.
E só se esmera na sempre
imobilidade;
os olhos acesos
esticados
os iguais traços
você não envelhece.
Você nem sequer sabe
que foi construída;
não sabe seu nome
nem seu lote
- você não tem
talvez
nem uma filosofia.
você é fetiche?
quem sabe?
Não, não você.
Os outros vão lhe dizer
o seu sentido;
e seus ouvidos
selam calados
você não sabe nem
apenas
se entender.
E por que existe?
Amiga,
filha,
boneca?
Será que um dia
você pensou em alguma coisa?
Não, isso ninguém sabe,
não,
ninguém sabe.
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