III.
18 horas
espero a pálpebra do azul descer
meu corpo
suor cheiro cansaço
e a lembrança de papéis encralavrados
sou um túmulo de arquivos
em mim aterram-se documentos,
holerites de antigos funcionários defuntos,
nomes desconhecidos encaixados por sobre uma estante do departamento de eletrotecnica,
manuais de aulas, folhetos,periódicos, normas variadas
NBRS:ISO IEC;ANSIS,NF, BN CISPR
e, principalmente, imagens de mulheres tão intimamente apenas lidas:
Lanas, Kátias e tantas outras...
E no entanto,
continuo no embolorado dos livros, nas traças, nas gavetas,
nos computadores acesos,
nos ares-condicionados
e respiro quase
a sensação do ar.
18 horas que não chegam
e eu espero
sentado
sou uma árvore num deserto
de brancas folhas;
sou o fantasma dos que me pagam
bem como eles são pra mim
uma ode ao abstrato
no dia do pagamento.
Todos os Nomes, Saramago. A imagem me persegue.
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