sábado, 9 de maio de 2009

Boneca de gesso

numa roupa
numa cor
num tecido
sua voz é gesso

e come o que te mandam
bebe o que te enfiam
e você não mastiga, não sorve,
não sabe os sabores
e você não tem sequer saliva.

E te cosem o imaginário:
você é uma princesa
uma atriz televisiva
uma modelo mundial
tudo, tudo menos uma boneca.

e em nenhum momento
te fazem realmente uma questão;
você não responde
não sabe nem ao menos
o que é responder:
você não tem opinião.

e te apertam, te colocam de baixo d'água,
e te esbofeteiam e dizem que te amam;
e você não sabe nem não gostar,
perder o fôlego,
sentir suas penas,
e nem aceitar com os braços
qualquer necessidade de amor.

E só se esmera na sempre
imobilidade;
os olhos acesos
esticados
os iguais traços
você não envelhece.

Você nem sequer sabe
que foi construída;
não sabe seu nome
nem seu lote
- você não tem
talvez
nem uma filosofia.

você é fetiche?
quem sabe?
Não, não você.
Os outros vão lhe dizer
o seu sentido;
e seus ouvidos
selam calados
você não sabe nem
apenas
se entender.

E por que existe?
Amiga,
filha,
boneca?
Será que um dia
você pensou em alguma coisa?
Não, isso ninguém sabe,
não,
ninguém sabe.

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