segunda-feira, 19 de setembro de 2011

T.: leão e os dinossauros.

história: "leão era rei da selva e queria pegar bebê dinossauro, queria comer. Daí leão começou a escorregar e caiu, daí depois de 10 semanas voltou, tava mais saudável. Daí o papai dinossauro comeu o leão e fim"

laudo médico: ele é inseguro.

crítica: apesar do texto insipiente, vemos ali qualquer coisa de fabular, típicos por apresentarem personagens cristalizados na forma de animais, representando, porém, as vicissitudes do comportamento humano.

mãe do garoto: se eu soubesse que ele se sentia assim... teria prestado mais atenção em sua formação... talvez ele tenha se sentido menos que o irmão e fragilizou-se...

comentário no facebook: o bulling tem sido um longo processo de violência entre as crianças e jovens, que deve parar. Eu me lembro de quando era pequeno e todos os garotos me zuavam por eu ser diferente. Isso tem que parar. Nenhuma criança deve passar por esta violência infindável- como aconteceu com o garotinho que apelidaram no youtube de Sangief"s Kid (nome de um dos personagens do street fighter...o muleque é um herói... Temos que acabar com o Bulling! compartilhe isso , se você também quer ver o fim fo bulling!

facebook: talvez nenhuma pessoa tenha curtido isso.

citação de relatório de estágio: O "aluno-problema" " Houve um momento em que presenciei um acontecimento muito interessante, ainda mais pelas ressonâncias que ele obteve nos diversos âmbitos da escola. Um aluno estava parado, observando algo, que não pude ver concretamente o que era. No entanto, o que não pude deixar de ver foi que um garoto passou rapidamente por este primeiro aluno e não sei se com a intenção ou não, acertou-lhe os cabelos. Após isto, outro garoto, um pouco mais alto e que parecia ser mais velho, passou e repetiu a cena, entretanto, a reação do garoto acertado não foi a mesma. Correu atrás do outro e (...) foi por isso que a diretoria estava uma confusão naquele dia e todos os professores não paravam de dizer," sim, não há como trabalhar com educação hoje em dia... aguentar estas pestes".

narrador: houve um dia, não me esqueço, eles me levaram até lá. Achei que seria uma brincadeira ou algo assim. Passamos pelo corredor, notei de leve que ambos se entreolhavam. Olhares dizentes. Por algum motivo eu não me senti bem com aqueles olhares. Tentei fugir. Com palavras."É que sabe, cara, acho que tenho que corrigir aqueles exercícios lembra, de matemática, se eu não fizer vou me foder" - quando terminei a última palavra, o mais velho abriu no canto um antesorriso: "matemática, pra que você precisa disso? Você já sabe contar, não sabe? Então, já sabe toda a matemática que vai precisar em vida".

"Cara, existem coisas na vida melhores do que matemática, venha com a gente, vamos te mostrar..." e foram me levando. De repente, já no corredor, um deles tirou um isqueiro, e entre os dedos capturava uma ponta, disse: "qué unzinho?" - não sabia responder, nunca havia visto unzinho na minha frente, até ali achava que aquilo era apenas proibido - mamãe alertava, papai aconselhava, professora proibia. Olhei, quando esticou e apertou. senti o cheiro em queimando aquilo. Contiuamos a andar.

pedi - me vê um? O rapaz esticou de leve a mão. Pega aqui. Quando meus dedos quase tocantes, ele tirou. fiquei puto. Como podia? Ficar me colocando curiosidades e, depois, retira todo o desejo de mim. Subiu uma raiva, mas tive que disfarçar, eles eram dois e bem maiores que eu, seu eu ficasse querendo dar uma de poderoso, acabarei era ferrado. Abaixei a cabeça de leve, incomodado e querendo fingir um desdém. O mais velho , então , me fitou..."olha só, ele ficou bravinho... tadinho... calma, calma, guri, nós vamos dar pra você na hora certa."

encontramos a porta, banheiro. Os muleques foram para o último dos vestiários. um deles, abriu um ralo que ficava bem no fundo do banheiro, longe da porta , das salas de aulas, do diretor que pitava seu cachimbo olhando a foto de seus dois filhos, excelentes em nota e que não estudavam ali; longe,longe das salas de aulas em que naquele momento a inspetora subia uma escada pensando em quanto tempo a mais ficarei aqui nesta escola com estes alunos desinteressados, praticamente delinquentes; longe, da professora Matilde que, apesar daquele dia tormentoso continuava a pensar que a educação vale a pena, o difícil são estas condições de trabalho, o mundo atual, bem, enfim, olha pessoal lembrem-se coseno de x, tangente de beta; longe, e ainda mais longe.

No vestiário, inalamos. aquela sensação... única. os dois garotos também, brisando. e comecei a achar alucinações... eles riam sem parar. e se olhavam. Eu ria junto. E o tempo parecia não existir. Então , eles me olharam , a boca deles em gargalhada sem o barulho do gargalho. Fixaram o vermelho dos olhos em mim. e se murmuraram grubhidos e risos: Agora nós estamos dando pra você o que você precisa para a vida... é isso. o efeito da brisa enloucando. vinha em golpes. Os socos vinham, do nada.batiam. E eu apanhava. Quando vi, estava lentamente , no chão, e as costas arqueadas. Os dois garotos, o unzinho na mão e rindo. Senti uma dor profunda. Eu estava entre eles. Minha boca tremendo da violência da loucura e liquefeita. Nas minhas costas, como uma eletricidade queimando e pontadas que me acabavam todas as energias. Mas, não podia mais nada dizer. O silêncio contornava todos os músculos. Eles gritaram, eu acho, "é acho que agora ele sabe tudo" -e com o grito o riso, um mais agudo que o outro. Eu estava acabado. Deitei no chão, desloucado e sem poder me mexer. talvez algo tinha sido feito, uma exaustão dolorosa resumia tudo. Talvez eu nada entendia. Precisava de estar dormindo, quem sabe. Vi o último passo deles saindo pela porta, as mãos fechando os cintos e alegres.

Diretoria: Foi difícil, os pais vieram. Os dois garotos disseram que nada fizeram. O garoto sempre foi meio estranho também, não dá pra dizer o que aconteceu direito. Um dos pais ficou chocado. mas, já dissemos a ele que o filho teria um acompanhamento psicológico. a conduta tem estado estranha mesmo e depois disso, talvez seja melhor deixar nas mãos deles.

banheiro: Saiu em pressa. Observou o pátio, apenas observou. Um deles veio correndo, a mão raspou a cabeça, o outro , porém, pareceu um tapa talvez. Passaram. A raiva fora tanta que o que acabara de sair pela porta e observava o pátio não se conteve.

dois dias depois vejo ele, saiu de novo. Passaram os outros dois, algo reluzia mais forte que o sol. Nas mãos. Os dois alegres, o negócio escondido. Um deles olhou para o outro e falou " deixa pra mais tarde". O negócio escondido. Vinha vindo o outro, solitário, os olhos em vinho e vinagre. o solitário então, chegou, encostou nas costas de ambos e os chamou meio balbuciando...algo reluzia mais que o sol e nada mais se pode ver.

Pais: Isto é inconcebível... como deixaram que isso ocorresse?

...e veio o dinossauro e comeu o leão e fim.

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