segunda-feira, 12 de julho de 2010

saber-se?

quantas pessoas perdi por tão pouco?

pelo muito amar,
pelo nem tanto...

quantas pessoas perdi pelos anos...

enquanto sempre estive perdido
já ressabiado, já confuso,
já racional, já incerto

e hoje só desconfioso
pesquisando páginas em branco
as informações no vértice de nada.

Quantas pessoas perdi
por acreditar ter encontrado?

e o toque nem de leve raspou
quando a pele inteira agarrou o outro corpo
cada pequeno pelo roçado...

e a sensação do frio de um copo
cheio de vazio por dentro
em cada sensitiva recordação.

Quantas pessoas, ai quanta gente
que perdi por deixar de lado
por ser indiferente?

pessoas que tive medo de ditar palavra
pessoas que tive medo de roubar a palavra
pessoas para quem não tive palavra
pessoas em que nem sabia o que significava a palavra
palavra

E no entanto
sobrevivi

sozinho e incapaz
e ainda cheios de consolações
afetos
abraços
e nenhum instante sozinho mesmo


mas quem é que pode ouvir sequer um único estalo do meu coração no breu soturno?

Sobrevivi verdadeiramente?

Sim, estou aqui
estou vivo

e viver resta-se
na perda de tudo


e tudo valeu
nas cavernas ficaram as imagens de meus convivas velhos
mortos
apenas realces que eu lhes dei
noções que eu lhes imputei
dias e dias criativos
vividos e degenerados por mim
na ponta do lápis

quem foram aqueles que se encontram junto a mim hoje
nesta roda confusa
neste melindroso novo desconhecimento?

conheci novas pessoas
e as desconheço
reconheci pessoas que sempre me acompanham
e o que sei delas?
e o que elas sabem de mim de si de nós?

nada além do que imaginamos

deito o pulso sobre esta mesa tardia
não devo ter conhecido ninguém em vida
fantasmas que perpassaram o corpo
atravessaram paredes e foram-se deitar
em reclusos recantos descabidos

onde fiquei eu nisso tudo?

vi sobre um caderno
escorrerem as minhas anotações de nada
e quanto mais descrevia cada singular instante
mais via repetirem-se ilusões
e abrirem-se novidades cada vez mais insólitas

um dia vivi a ceosão da vida
e no mesmo
sua total danação
seu total absurdo

gritei:

como é possível?
e tive como resposta apenas o eco de uma mesma pergunta:

Como é impossível?

Incontáveis surgiram os pós e pólens dos dias
e os encerrei na gaveta

quis deitar-me

ou delirava no sono
ou já nem mais me sabia.
soube-me?

........................................à Soraya,fraternamente.

3 comentários:

  1. A vida é assim mesmo... as coisas e as pessoas q nos passam acabam caindo no esquecimento, faz parte da vida e para que a se abra o espaço para uma nova pessoa na nossa vida...e como é bom viver!

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  2. E não me canso de ler este poema sabia? Thank you! E será que um dia vou conseguir saber me?

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  3. sim e não. e aliás, por quê não?

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