estou no meio do oceano.
qual seria o rumo
para aquela afastada ilha?
Não, não vejo o traço,
nem mesmo visualiso, ao longe,
sequer alguma gaivota.
como prosseguirei?
o barco não é capaz
as águas são demasiado
volumosas
os remos frágeis
nem mesmo
com todo esse esforço
marcaram a linha
de um progresso.
o céu pelo menos está...
estava limpo.
a chuva percorre todo meu rosto,
deveria chorar junto?
cada lágrima parecesse quiçá ainda mais mar...
mas o remo
mais e mais longe
se afasta
da baía.
Que faço, se nem mesmo pernas
tenho para fugir?
No barco, preso,
a comida escassa
o esforço escasso
e um sentimento de preguiça
misturado ao não,
não vale a pena o qualquer esforço.
de que vale, então, esta bússola em minhas mãos?
o norte é só uma direção,
mas não me garante terra.
de que vale, então, esta onda
que nos encaminha,
ela faz apenas o barco em círculos.
E a baía sempre ao longe
e o penoso processo de alcançá-la...
Ficar aqui?
Não chegar em nada?
Talvez esta seja a resposta.
Mas mesmo que eu queira
a correnteza ainda sem que eu a detenha
me leva.
Não, e não a controle,
não há controle.
Deito o remo sobre minhas pernas
e contemplo
a sem saída
a sem chegada
do meu olhar no horizonte
Abre-se uma terra.
Enfim, devo ter chegado.
Mas a alegria me esvai
ao ver meus pés afundando
na miragem dos oceanos
o corpo vai descendo...
era isso tudo a terra?
este era o tesouro?
Foi pra isto que me quis o alcance?
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