terça-feira, 2 de junho de 2009

Uma das história do palhaço biffe bouffon

Biffe Buffon não entendia mais nada. Quem teria certeza de alguma coisa? Tirou do bolso um dicionário de etimologia de um autor desconhecido. Observou a palavra, ele estava certo, não se sabia com certeza nem mesmo da onde vinha a certeza.

Mas aquele era assunto frugal. O que se passava ao redor é que dava ares de imprecisão. Buffon, palhaço que era, não conseguia entender a piada.

Raridade.

Os trabalhadores e os que empregavam. O velho confronto. Greve grave. 4:30 da manhã, sol nem escorregado no céu ainda, e lá estavam todos. Remelas nos olhos e temperatura de guerra, no frio gélido da matina.

E chegou chegando de repente, dos invisíveis do dia, a gambezaiada. Um gambá escondido gritava “roubaram meu nome, roubaram meu nome”, mas o conflito sobrepujava o hálito de seu corpo, fazia de assobio o grito de sua voz.

Bom, mas lá estava a polícia. Protegido o corpo em sufixos: colete, capacete, cacetete e etcete. Quem poderia tirá-los destes sufixos e acertar um único golpe que pudesse chocar o CHOQUE até a raiz?

Pelo menos tentavam, os manifestantes.E para quê mesmo? Buscavam os seus direitos. 20 anos de tentativas frustradas de ter o seu direito vindo direto dos cargos mais altos. E foi por isso que quiseram invadir. Ou talvez alguém tenha dado um berro um dia e aquilo se metamorfoseou em dor do proletariado. E aqui vai parecer que é o narrador é conservador. Melhor então eu tirar o meu da reta, flauberar, deixar a história falar por si mesma.

Ouviram então o grito :

- Você quer nadar, burguesinha? – era um homem tentando manter a greve que havia sido aberta por um policial.

Aberta mesmo. O portão havia sido educadamente escancarado. Os policia declamaram que o lugar estava operando normalmente de novo. O detalhe, o lugar era uma faculdade, autônoma, cheia de si, apelando agora para instâncias maiores, mais autônomas( mais violentas?).

Enquanto isso, um garoto acompanhando de longe pensava: um dia entraram na classe de aula, darão porrada nos professores ... ou talvez até em nós alunos... sinistro...

E Buffon não entendendo, não entendendo. Olhar por todo e só via o todo desconjuntado, pedaços de argumentos válidos descendo pela cabeça, mas a piada não se fazia, não tinha sentido, nem sequer ía pra algum lugar, estagnava, piava piada parada.

Só vozes voando, berros roendo o ar, e a disputa política fugia. O barulho dos cacetetes era mais forte, os escudos enfrentavam melhor, os argumentos procuravam tocas para poderem murmurar até que escapassem sem dono, surgindo de um buraco apenas por um eco reivindicatório.

Logo logo, só existiam soldados ali. E onde era mesmo? O lugar parecia ser a terra de ninguém, conquistada agora pelo cinza policial.

Dentro do movimento dos manifestantes, acordos dissidentes. Um megafone de som conhecido e vindo do nada pediu: Vamos todos ficar unidos, nós do Sindicato dos... – ele pausou, talvez tivesse esquecido o nome, talvez não pudesse fazer aquilo, estivesse com medo de dizer o que precisava ser dito, decidiu:

- Deixa quieto, estou cansado. – e outro som substituiu: - é preciso que é preciso qué preciso que é preciso e alcançaremos um dia o é preciso! Greve atrevida, continuaria, apesar de tudo. E ainda assim, grevistas ainda tinham medo do depois mais tarde. Que fariam? Uma voz vociferava do alto de um prédio: Vós vos preocupais com o que comer, o que beber, pois eu vos digo : não só de pão viverá o homem, mas também de porrada, de cacete e de instâncias superiores para ferrar sua vida, papéis, leis espirituosas, aparatos de controles das massas e muito mais... – sumiu alguns instantes –
E

Voltou:
- Esqueci de dizer: abandonem vossas famílias – elas só castram e enchem o saco, depois de puxá-lo.

Alguém ligou a televisão: Não percam o último episódio de ontem de “os grevistas apaixonados” – era a reitora que assistia convulsivamente mais um episódio maravilhoso de sua novela das nove. Alguém fofocava, mas o que é que isso? Ela assiste lá, e a gente aqui, ah puta que pariu!

E chutaram uma porta de vidro. Buffon ficou com medo de ser jogado como tronco de árvore, no intuito de sua cabeça romper a janela e o pessoal entrar. Bom, pelo menos agora tava mais com cara de piada. Talvez até faria sentido.

E apareceram os alunos. Putos. Reclamando. Sempre reclamando. Ao lado deles, professores, quietos, sempre quietos. Um deles porém, deles quem, alunos ou professores? Tanto faz, um deles começou a espalhar algo que alguém de um partido ou da reitoria disse. E um alvoroço começou.( mais um?). E palavrões subiam, transcendentais, galgavam os espaços cósmicos das galáxias do mal.

A agitação aumentou.

O começo recomeçava.

Onde é que a história teve princípio? Era na era do capitalismo-baby? Quando ele cagava ainda na nobreza? E a exploração tornou-se outra e desembocou agora onde?
Bem na porta da reitora?

Não sei. Mas o fim deu na cabeça de Buffon. Ele, que não entendia nada do que se passava ali, nem percebera quando uma assembléia havia começado. As pessoas discutiam coisas sérias, mas grande parte do tempo o assunto era bem mais sério:

- Quem vota pra que se fique de pé?

Silêncios ecoantes.

-Quem vota pra que se fique sentado?

Eh...
-Quem vota pra ir embora.

Bem... eu não sei... e..

- Quem vota algo?

Ora...

- Quem quer pão quem quer pão muito pão pão pão?

As palmas começaram a subir. E as palmadas também, que era o que Buffon recebia por achar tudo aquilo muito engraçado. Uma revolta se instaurou quando ele não conseguiu mais se conter e peidou um pouco, até se cagar de rir.

O megafone, então, ressoou altissonante: Ele se enfeza de nós, ele ri, vamos quebrar os dentes dele pra que ele daqui pra frente só seja triste!

E lá foi Biffe, promovido de palhaço a homem bala, no circo cotidiano. Deu com uma janela, perfurou-a. Caiu de bunda na cara da reitora, escapou-lhe um gás. Ela lhe disse:

- Você anda saudável demais. E chamou a polícia.

E lá vieram as fardas, fartas das picuinhas de um universo bobo.Levantaram Bouffon do colo da reitora, colocaram-no as algemas, e ele com aquela cara de ovo. Criava piadinhas infames: “All gemas”- hahahahah-. E se acreditava um pinto. E ria de sua piada em estado de ovo frito.

Achegou-se no opala preto da polícia. Outra vez o início da história. Porrada. Porrada. Porrada. Pedras no vidro, paus nos cus, nas caras, policiais furiosos e com suas bombas. Buffon ria ria, e soltava. Escapava pelos fundos.

Finalmente, caiu no núcleo da sobriedade. E era jogado, um rockstar às avessas, pelo público. Uma porrada na cabeça, cadê todo mundo? Num momento tudo ficou longe, onde estava mesmo?

No começo de novo. Estivesse em casa, quem sabe, sobre o travesseiro. No hospital, depois de uma sova. Fim, começo, cada um tem seu preço. E os policiais continuavam a ronda, sirenes sempre alertas – todos sempre seguros.

Um comentário:

  1. Este texto é interessante. Gosto dele. Principalmente nestes tempos complicados de greve na Usp e tal. As normas estão em toda parte, nas regras composicionais de um texto, no convívio cotidiano - lá vem o camburão cheio de paixão e cacetete - sim, estão em toda parte. Segui-las e não pode dizer contrários, façamos o fascismo! E Ei-lo.
    Corromper um texto, com pedrinhas de rua ou meia de merda voando na cabeça de um milico,
    é a saída?

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