sábado, 20 de julho de 2013

Invidência


O futuro é qualquer coisa.

Não construirei vias
nem pontes
nem tecerei
com o dedo
um rosto divino

o futuro é qualquer coisa
de instantâneo
um vento
uma faísca
uma espuma

por isso,
não cavarei túneis
Não gritarei aos ecos
não passarei a noite em claro
esperando pelo sombrio desespero
por que o futuro

o futuro é qualquer coisa,
nada mais do que a passagem...

No entanto, vejo homens a hastear o braço em seta
o arco vergado
a flecha querendo um alvo...

e que são os alvos?
apenas balas perdidas
no corpo de um desconhecido
de uma vítima, um responsável,
ou somente alguém que passou e não teve
a esquiva.

O futuro, sim o futuro,
lembra?
é qualquer coisa.

Meio nova talvez, quem sabe antiga
cheia de auspícios perdidos,
bolas de cristal fendidas,
cartas, oráculos sem marcas ou figuras,
clepsidras,

e de longe
o vigiar das estrelas.

o futuro, assim, como uma pérola
imersa ao mar sonâmbulo,
profunda me uma concha

O futuro - e de repente-
o horizonte
uma luz ao raiar do dia
em que o hábito não nos convenceu
de que o sol não haveria.

O futuro, qualquer coisa.

E nada a se pensar tanto
que não seja a possibilidade
de um respiro

mesmo quando se sabe que o ar
é qualquer coisa
nem ao menos vista,
mas quiçá
sincera.

2 comentários:

  1. Sonoro como o canto do vento e a batida das pálpebras que piscam a contemplar os versos.
    Parabéns, cara. Realmente muito bom.

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