segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

e eu que me via
apenas um
descobri uns
que viam mais que
apenas.
o silêncio

e o verso diz apenas:

sem palavras.
meus amigos,

o silêncio é a primeira forma de verso

porquanto as palavras não saibam

nem o seu ser

e nem o seu existir

nem mesmo como ditas.


Desde minhas unhas queria tecer

a teia armada dos discursos;

e o entrave da língua

da mente

nem ao menos sussurra.


um misto de vergonha

e a sensação de total inaptidão

de total incapacidade

se revolvem em tiros

no centro

no centro de tudo

o que perpassa

a minha vida

e o meu viver em conjunto


- sou ainda o jovem de 16 anos,

observador e resoluto,

apenas o receptor de uma realidade

da qual as mãos não parecem saber o tato ideal

o tato real

e o desejo de mudar tudo

de ter a clave

ou mesmo o solfejo adequado

para compor

notas para todos os cantos

urbanos

de onde o desespero

não esvai nem de leve

a insipiência da boca.


Como sem saliva

são meus dedos.

e não sei o que violar

com meus cantos.


Como cantar todo este sofrimento?

como desencadear os versos sociais

os versos de denúncia

os versos de angústia

como ser a voz,

- uma voz -

de tudo o que se passa

de todo este sofrimento

deste medo inconcluso

deste hálito podre que nos reprime

da mão pesada que nos atinge

das armas que nos são impostas

para que não pendamos inermes

e a caverna burocrática qual mandíbula

nos mastigue, nos engula, nos defeque?


Como, meus amigos?

Não aprendi a empunhar versos

como versam armas

no entanto,

o meu corpo tem sede,

sede de hinos

não a deuses,

mas a estas figuras sulcadas de terra,

a estas figuras de calos,

a estes trabalhadores

alguns azuis, outros cinzas,

para quem gostaria de que um verso

fosse um repouso

ainda que a palavra nunca venha a valer

o leito

o descanso

nem mesmo a revolução e suas justiças.


Sim, tenho versos a estas mulheres e homens,

Não como um condor

mas apenas com suas lhanas asas

Não, amigos, não sei o que lhes dizer,

nem sou alguém de conselhos,

não dirijo nada

e nem ser sei um carro,

e das poucas e difíceis e duras palavras que tenho a dizer

não sei se delas sera extraída uma nesga de vida prática

No entanto,

eu dou o verso

e meus punhos

para que dos punhos

torne-se o mundo

que apenas hoje

são capazes os versos

de vislumbrar.


A vocês dou isto

a utopia

a utopia para além do abismo

desceremos muito ainda

cairemos

o abismo sequer nos mostrou a metade

de um lado de sua face

e nossos olhos por vezes ainda são fracos demais

pacientes demais

calmos demais


ainda somos muito mansos.


E confesso não saber se haverá um tempo

em que minhas palavras serão calibres

e o vinho, estúpido vinho,

a consumação da ceia

em que seremos comidos...


Contudo, não, não acredito nisso

sangram minhas gengivas

e mordem os meus dentes minha própria carne

antes que eu possa dizer

um ponto final.


Eu apenas queria ter o canto miraculoso

sem o divino ou o mágico

de tecer os dias como fazem as cobras seus caminhos

e, em sinuâncias,

ver a vida escapando por toda a tentativa

de se pisar sobre ela

de amarrá-la

de deprimi-la;

ver entretanto

seus olhos febris de raiva

a língua não tacanha

as presas afiadas

e a mordida apenas para inocular o veneno sóbrio

naquilo que se põe

como anti-vida.


É por isto, amigos,

que nem sei aos menos

o que dizer

não sei aconselhar

não sou messias

apóstolo

sequer profeta

temos apenas nossos calos

e o mundo

e mais um verso

depois de todo o silêncio

que vem nos chocar

e que nos impele

sem que saibamos

às armas

desconhecidas

que acabamos

nos descobrindo.