terça-feira, 12 de julho de 2011

reflexões sobre a dor III - obscessivas.

1
O desejo é a música
dança pulsante dos que se amam
e se emudece o ritmo do compartilhar
quê nos sobra,
senão a solidão dos lagos
em que nada se move,
apenas os concêntricos
de nossas imagens
e seus desnítidos?

2
É preciso que eu me esqueça
para te esquecer.
Esquecer a parte do delírio
erigido pelo hábito.

esquecer o quanto
eu me fiz de ti
pra poder ser mais
do que a solidão.

o quanto eu criei
o futuro
para matar a ausência do passado
e as frágeis borboletas do presente em sussurro...

tão monótono-sempre.

É preciso que eu me livre
do tanto amar
todos os anos foram sombras,
as sombras que me seguiram
e aprendi a amar mais as imagens
do que as pessoas
e aprendi a cuidas de suas parcelas enterradas
amargamente no âmago
como um jardineiro regando com veneno
as plantas carnívoras.

É preciso, e quanto é preciso,
perder-me na minha própria reclusão,
ver os meus totens feridos,
arruiná-los
até mesmo o especular totem,
minha face, meu amor, meu desejo,
meu desespero de ser eu mesmo
e de ser em ti, em mim, em tudo.

em todos.

3
Sofre, Carlos,
sofre porque é o único jeito
de aprender a não sofrer mais
ou pelo menos
de aprender a sofrer sem tanto peso
porque nunca silenciará a dor
de não estar certo
mas nunca também a dor
de procurar
não estar errado.

4
Não sei sofrer
juízo triste que me faço de mim
não, não aprendi ainda
a passar pela dor
apenas revoluteei
por anos

tudo
sensível dentro do corpo
como se qualquer chaga
se tornasse uma ferida profunda
tornasse pela pele um pensamento de dias
como lâmina

Eis que chega a hora da dor
e eu finalmente a sinto
como dói não poder fugi-la
de olhos abertos observá-la
gradulamente exposta
em cada meu silêncio
e no desvio do esgar
e na areia da lágrima.

como dói saber
que não há nada que se possa fazer
não há como resolver
a ostra en que se fechou o passado
retirar dali uma pérola nova
que não seja este arpão-presente...

Não, é a hora da dor,
sem volta.
e não te ressintas pelo que não podes
e nem consegues controlar.

Apenas sofra.

Não és nem o amante
nem o profissional
nem o aristocrata
e nem mesmo o verme que te imaginas

és este meio
que continua vivo
e não há razão para tantas dramáticas emoções.

Permanecerás vivo,
porque as dores simplesmente passam
mas tu, antes e irresistivelmente,
perpassará primeiro
por elas.

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