terça-feira, 7 de dezembro de 2010

sobre as acusações

1
aquele que te adverte
de algo
pode ser o primeiro
a te denunciar.

2

por que te afimas pássaro
quando rastejas
tanto quanto eu?

3

para que ainda despejar álcool no cádaver aberto e exposto?

4

e me dizem sobre o caminho certo
aindei pela primeira rodovia
e ela não levou a nada

subi aquele morro
e ele não me levou aos céus

desci aquela ladeira, apronfundei-me em um lago
e nada consegui senão um suicídio

e tentei até ficar no meio
mas o meio era só o passar inane
entre o querer estar alto
e o caminho desleixado do baixo

e diante de todos os caminhos
espirais passando por todos os rumos
eu apenas eixo rodopiando em tudo


ainda me estenderam a mão e me afirmaram:
- veja ali, a saída!

mas eram apenas espectros
que se julgam capazes de
espirituais
oferecerem graças
morais
salvação
a tudo e a todos

não viram eles
as asas pendidas
o céu rasgado
no dia do juízo final
que nem houve?


vejo apenas anjos boiando
na psicina sem viés
flutuam somente
e a água apenas os debatem
nas quinas.


5
sim, eu vou me ferrar na vida
mas não será por palavra humana
ou divina
nem sequer por macumba
mas porque
a vida nunca será o que eu espero
nunca será o que eu desejo
nem será aquele dia em que eu quis
que o último copo
restasse em um ainda gole

sim, eu vou me ferrar
não porque é o agouro
mas apenas
porque
se ferrar
é tão normal

quanto um dia que se espera o sol
mas se acostuma com a chuva.

6

nenhuma ironia
ou ressentimento
serão capazes
de fazer do mundo
o espetáculo
nem dos prazeres
nem dos conselhos
estamos todos
jogados

transbordamos de vazio
num buraco negro.

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