sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

...esperando...

1

enquanto falavam
como em showmícios
eu observava atônito
- o corpo mudo.

2

esperando sob a porta dos ares
a vida em um pulso
de tanto branco impulso

eletrizante nas veias
ouço
o sino desesperado
atino
e a multa de olhos
sobre meus músculos caídos
- um rato passa pela perna -
e estou de roupa e nu:
despido de ritmos pulmonianos
mas a natureza morta dialoga diretamente com meus ossos
como um cometa cadavérico
de séculos apagados à tiro

- estou aqui em baixo
não me ouço

e o sinos vozes tristos
chacoalhando

sobre frio
me desresto.

3

não veio a ambulância

eu aguardava

sem saber eu aguardava

meu braço deu o último alarme

um singelo pulso ainda

e só

olhavam

- sob o sol escaldante, meu corpo gélido
branco de tanto duro

só o latido de cães pareceu importar-se.


4
do pó vieste
ao pó voltarás

- e retornei demasiadamente.

hoje nem a cinza do pó já tenho,
nem a molécula.

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