aqueles que me passam
não sabem nada sobre mim
não estiveram presentes
no dia singular da minha miséria
e nem na noite sem obstáculos de glória
e hoje querem me dizer o que devo fazer
o que devo pensar
o que devo seguir
Engraçado...
mas nunca pedi guias
nem chips de memória
muito menos pernas
e eu os percebo
tacanhos
com suas línguas arenosas
mãos pálidas
pernas frouxas
enquanto eu sempre estive sólido
lúcido ao ponto da cegueira
e fui cego
e abençoei a cegueira
e rindo
usei óculos escuros
para voltar a enxergar
enquanto todos continuavam os mesmos
tacanhos minúsculos
e eu trágico e exausto com meus disco-voadores...
enquanto pessoas e suas pequenas tvs cerebrais
cereais pela manhã
almoço
jantar
e eu devorando minha própria carne
roendo meus músculos
roendo os ossos
por vezes me empalando
apenas para não ficar nesse mormaço inútil
das tarde de barcos sonolentos
apenas para criar uma diafaneidade
quando o sol havia desistido de iluminar-se
e para quê?
para que viessem me dizer
que eu sou o nadicas?
É a mãe!
e a família
que surgem na margarina de teu pão santo
eu ainda prefiro a solidão daquela fruta sadia e carnosa
que apalpo rústica
e sugo o suco
cítrico
até esboroar-se o fruto todo
e os covardes ainda picam maçãs
e compram seus legumes em mercadinhos
em pequenos pedaços
pois já não mais sabem cortar
já nào mais concebem o ato de fustigar
de travar a lâmina ardente por sobre superfícies
hoje são todos inanes
organizados
comportados
etiquetados
em ternos padronizados
gravatas suicidicamente claustricas
e até cuecas trancáticas
para o desenvolvimento da moral e dos bons costumes
e o casamento perfeito
o filhinho pilantrinha domesticado
consumidor de bonecos exdrúxulos
e violento personagem tímido de desenhos animados
para quê?
quando viram apontar-me o dedo?
a cara está exposta
o olho espera ser furado
ao menos relado
quero a briga!
venham venham venham!
Mas, só dormem
só apatiam
só fingem-se homens e mulheres
quando não passam de consumidores passivos
1,99 frígidos de 29 andar
por que fogem
se escondem nestes píncaros cavernosos;
por que, platonicos,
acreditam que o mundo lhes virá
como maomés ilusionados?
Eu me enojo
pois como vocês
como dos seus produtos
e sobrevivo irritado
mas renitente
corrosivo
ácido
pronto para vomitar sempre
e vocês com seus garfos levantados
enrolando espaguetes
com seus sapatos italianos
suas roupas francesas japonesas
e esse sotaque inglês tosco
quem são vocês?
onde estào seus rostos
no meio desta multidão sem-sentido
que ruma rua, arruma senda
no viés nihiloso
como em sacrifício?
Onde estão o corpo
atrás destas cortinas de documentos
roupas
relógios
cpf rgs
números
documentos
nome de empresas
propaganda de cigarros
marketing
etc etc etc
onde estão?
juro que procuro
em cada esquina
alguém que tenha uma face levemente humana
e o que encontro são barbas e cabelos
sem donos correspondentes...
onde estão todos
que vejo a alvorada
e ninguém desponta
e nào vejo um sequer alguém nascer?
onde estão
se mortos
que nào vejo
os túmulos
só notícias
de enterros
e os espíritos nas avenidas
em tráfegos
aludindo existências...?
onde estão?
mexam-se
saiam de suas tocas
gritem urrem berrem
e venham me enfrentar sem seus papéis
vamos nos discordar trocando tiros
e pelo menos
ensanguentados
morreremos
de verdade.
bom saber que esse poeta ainda é afeito ao gosto de sangue da vida anti-asséptica.
ResponderExcluirsaudações, dom.
Muito bom...
ResponderExcluirSaudades desse poeta revoltado, só você entende completamente minha tristeza e nos cansamos do desânimo um do outro, por que é o mesmo desânimo...hehe
Bjus
Mi