terça-feira, 27 de julho de 2010

ar

ar, germe de nada
que nos permanece.
comida, antes da comida.
como insandece,
a matéria bruta
e gera mãos
sociedades
possibilidades múltiplas?

como reina
e percorre
socorrendo veias
no momento do colapso?

como arfa
e mantém ainda
sustenta o corpo lânguido
no meio do trabalho inútil?

Não te indignas?
não vês que teu vento às vezes mais mata do que alivia?
que nos teus suores e promessas de brisas
estendes mais o frio àqueles que só tem a promessa do fogo?

E nutres mesmo assim
com teu humanismo rude
porque não julgas
porque não te colocas
porque não te fazes político
porque te crês deus,
por tudo isso;
nutres a todos, alimentas,
mas nem todos podem te sentir

pois tu te dispersas, evades,foges,
e vejo toda tua contradição política
ao contemplar furacões e a destruição
de mansões e casas...
Como podes?
Tão imparcial e tão seletivo ao mesmo tempo?

Não concebo explicação. Apenas entendo que quando
estendem-se bandeiras
é tu que ergues sentido
e ao mesmo tempo
és tu que leva
a roupa sobre o varal
a onda e a areia
a pele e o ruído

e tu te instaura
como silêncio
impiedoso ou apenas sereno.
tu arrebatas
e depois és apenas sumiço.
onde é que deixaste os ventos das pessoas que respiravam?

tu os domiste
e agora te calas sem deixar pistas
mas ainda sinto teus assobios à noite
mistura de ódio e prazer
nos meus movimentos...

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