meu amor,
quando te verei?
e quando
para além de ti
eu me verei
no seja lá o que eu for
sozinho?
quanta luz já te depositei no colo
e você mulher apenas
osso carne unha e respiro
mas não toda a luz
que me veem aos olhos quando te fito
luz que arde
que queima
que te dá novas cores
novas roupas
muda a tua pele
endireita tua velhice
nivela os teus defeitos
e te projeta como
metáfora
e metáfora
e metáfora...
mas
tua carne
não é e não pode ser poesia
minhas mãos é que são
teu corpo em verso
e te derramas...
e te vejo a minha vida de repente
todo o amor que retiro do mundo
toda a beleza
toda a singularidade das experiências
contudo, não o podes ser.
Uma vez que tu és tu
e vives tua própria vida no mundo
os teus próprios medos
o teu próprio desejo
os teus próprios sonhos
as tuas belezas diárias
únicas
e todas tuas...
uma vez que eu também
vivo a minha própria singularidade
da qual não participas
ao menos não integralmente
e vivo os meus temores e
meus vícios
mas também o canto de pássaro
que nunca sequer passou em teu ouvido...
Sim, meu amor, temos vidas diferentes.
e é por isto que eu preciso te ver
além das luzes desta cidade escandalosamente noturna de fachos que és
além
como o óbvio
como mulher
pessoa
seja lá qual fores.
e ver também a mim
nem maravilhoso
nem tampouco horrível
só homem
seja lá o que for isto.
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