segunda-feira, 3 de agosto de 2009

escovo meus dentes

tomo banho

penteio meus cabelos


e em quanto acreditei
sem nem mesmo perceber
que estava no meu corpo
todo um idealismo de progresso?

A imaginação de estar mais vivo
já no hábito imperceptível
de uma história
que rearraja atividades
erige novas necessidades
forma naturalidades

(hoje olho e olho
e me sinto ridiculo de achá-las
e não achá-las

normais)

será isso a utopia?
e me lanço nos espaços longíquos?

e o que sou hoje não será senão
a âncora que se perde no fundo;
a distância próxima do celular?

É trágico
o nosso destino
de não encontrar nada
e ainda assim
tomar a escova
o banho
o pente
e sentir-se mais belo

tudo por no próprio ato de viver,
banal e em certa forma,
condicionado,
agirmos como que trazendo ao mundo
mais do que nosso corpo
algo quem sabe de organismo organizado -
nossa literatura de carne para todos
nossa imagem abstrata que sugere conceitos

de estética

de valor

de ideologia

e quem sabe também o medo do fim, só chão,
falseado,porém, na convivência com os detalhes burgueses mais inúteis?

sim, sociais somos,
sou.

e tudo porque não se pode ser somente
biológico;

e porque vive-se num apartamento
em meio a objetos e adornos
que me olham e dizem

- e você ainda não tinha percebido isto ?

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