escovo meus dentes
tomo banho
penteio meus cabelos
e em quanto acreditei
sem nem mesmo perceber
que estava no meu corpo
todo um idealismo de progresso?
A imaginação de estar mais vivo
já no hábito imperceptível
de uma história
que rearraja atividades
erige novas necessidades
forma naturalidades
(hoje olho e olho
e me sinto ridiculo de achá-las
e não achá-las
normais)
será isso a utopia?
e me lanço nos espaços longíquos?
e o que sou hoje não será senão
a âncora que se perde no fundo;
a distância próxima do celular?
É trágico
o nosso destino
de não encontrar nada
e ainda assim
tomar a escova
o banho
o pente
e sentir-se mais belo
tudo por no próprio ato de viver,
banal e em certa forma,
condicionado,
agirmos como que trazendo ao mundo
mais do que nosso corpo
algo quem sabe de organismo organizado -
nossa literatura de carne para todos
nossa imagem abstrata que sugere conceitos
de estética
de valor
de ideologia
e quem sabe também o medo do fim, só chão,
falseado,porém, na convivência com os detalhes burgueses mais inúteis?
sim, sociais somos,
sou.
e tudo porque não se pode ser somente
biológico;
e porque vive-se num apartamento
em meio a objetos e adornos
que me olham e dizem
- e você ainda não tinha percebido isto ?
Parece um resumo do meu dia de hoje. Gostei.
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