Uma vez achei
que fora gado
mas vejo
que é algo mais
vegetativo
Penso, então,
saco de batatas,
balançando por aí
debatendo-se
entrecoxadas
amiudadas
sendo somente
levadas
e apodrecendo
cada vez mais jogadas
em ruas
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
sábado, 25 de janeiro de 2014
Show Reality.
De repente acordou. O mundo acontecia ao redor de suas fantasias. O espelho estava na parede e o contemplava e, apesar de não ser imaginário, sempre houve algo de imaginário no espelho, o espelho sempre foi a ilusão de que se podia ser mais do que si mesmo, de que se podia duplicar, de que se podia viver uma outra vida. Pensou quem sabe que ao sair da frente do espelho, aquela suposta imagem continuaria vivendo, deveria existir um mundo ao menos potencial, uma outra dimensão ou realidade para a possibilidade da vida do espelho.
Ou talvez fosse mais uma fantasia.
Pegou o jornal nas mãos, perdeu-se nas páginas. Mais alguma notícia em algum lugar. E como poderia acontecer aquilo? Como aquilo não seria apenas outra ilusão. Fora a leitura da página de nada havia experimentado aquilo. E no entanto sabia toda a estatística, a blusa e a cor perfeitamente visíveis, esboçadas imageticamente por palavras ou por aquela figura, a foto, que nem mesmo sabia se havia sido posta lá ou se algo representava do acontecimento.
Representava - e imaginou o mundo um teatro . Não o teatro de palcos e tanto fazia se existisse algum ator; a vida existia sempre em potência quiçá, pois nada acontecia de fato, nada que visse, nada que realmente estivesse ali, ao usufruto de seus sentidos.
Talvez como na tv tudo esperasse a hora do comercial, em que a vida existia se dizia vida porque as pessoas se lembravam de que deveriam consumir. Mas, mesmo aquele consumo seria algo, ou só atuava mais uma vez? Sempre o público lá, como se a vida precisasse sempre do aplauso para que fosse completada...
Show, realidade?
Mas, para além da tv, os livros de história. Pesquisa, busca de material, deduções lógicas ... Mas, na verdade, sentia os livros tão imprecisos quanto a si mesmo, e as provas tão revogáveis quanto. Comparado a um livro de história e suas justificativas e resoluções nada sentia de diferente. E, por isto, questionava-os , bem como a si mesmo, e brigava pela verdade. Mas, o passado, então, será que fosse uma disputa?
Lembrou-se de sua mãe já morta, sabe-se lá por que motivo. Decidiu tomar o álbum de fotos. Desceu as escadas pensando na lagartixa que costumava frequentar suas paredes - quando ela não estava ali, onde estava? Existia será? E toda a bolsa de valores, aquelas milhares de pessoas os investimentos... um monte de gente que nunca vi, um monte de dinheiro que nem sei onde está, tudo isso, tudo isso, existe?
O pequeno armário aberto, o álbum aberto, lembranças de acontecimentos. Nossa, nem lembrava do tio-avô e aquele bigode, olha a avó senhorinha e a aquela menininha que essa semana reencontrei, a prima, que me achava gigantesco e hoje sou um tampinha perto dela...
Mas, aquilo existia? Como sentia aquilo se aquilo não estava ali, se tudo não passava de um desenho de acontecimento e o relógio não figurava aquilo, o relógio não soava a precisão daquele quadro, e mesmo as imagens já meio que sumiam, as faces e gestos meio que se confundindo, nada nítido totalmente, algumas coisas indecisas de seus fins como se a própria cabeça quisesse que a vida fosse politicamente, emocionalmente favorável para si mesmo.
Numa conversa de bar um dia ouviu, lembro, meu amigo dizer sobre uma coisa que sempre pensei ter sido de outra maneira. Alguns dados ressoavam, mas algo tinha sido vivido ou éramos dois que olhávamos de ângulos diferentes um mesmo espelho, mas ainda assim apenas um espelho? E se na verdade, o espelho estivesse partido e cada caco configurasse um possibilidade de futuro acontecendo e de passado potencialmente acontecido ou acontecendo?
Tustra, a palavra veio a mente, desconfiado de seu significado. O que seria? Vivera algo , alguma referência? Não encontrava o caminho para aquilo, nem mesmo o descaminho. De onde surgira? Será que alguma experiência do passado poderia ter emitido a luz que criasse algo do nada?
Ficou divagando.
A água caiu em seus pés. Será mesmo que se não tomasse água, não viveria? Será que se não comesse? Não só de pão viverá o homem... e se perguntava se o pão é que não viveria sem o homem, se o pão estava de fato lá e que só existia na medida em que alguém o notara e pensara na sua possível existência, juntando elementos sabe-se lá como e quando e criando algo como uma massa com vida nova e, ainda assim, sem vida de fato. O pão que só existe porque um dia alguém pensasse em fome e o acaso ou a ideia tivesse o concebido. Então a ideia concebia também pães e a ideia poderia talvez conceber homens?
Deus sentado na mesa ao lado, o pão e o vinho, era isso? Deus poderia ser outra figura no espelho, ao fundo?
Não quis responder.
A figura da mãe nas mãos e do pai na foto ao lado. Ambos em fotos diferentes, vidas em lugares diferentes. talvez também aquilo tivesse definido a relação dos pais. O que fora aquele encontro e agora a face daquele jeito, de um terceiro elemento amálgama de duas informações, como se o espelho pudesse criar um desvio de foco que fizesse duas imagens se forjarem em um outro foco mais afastado e que irá por sua vez se desviar para que outro se afaste ainda mais até que tenhamos inúmeras imagens cada qual mais a fundo da outra no desenho de imagens infinitas dentro de um espelho, todas supostamente iguais e, na realidade, diferentes e mais afastadas no tempo?
Talvez mais uma vez delirasse. Suas fantasias.
Naquele dia pensara em mulheres. No que buscava delas. Pensava se realmente podiam ter existido e por que, de certa maneira, parecia que ainda estavam lá e causavam dor quem sabe. A moça tinha acabado de sair do quarto e nem sabia se poderia dizer que ela existira. Do quarto ao banheiro, qual realidade se apagou?
Pensou no que já havia buscado, um futuro, uma fantasia, uma segurança pretendida em uma harmonia que nem ainda havia se concebido, mas que, por outro lado, já estava vivendo em algum lugar, quem sabe, e lá estava eu, mulher, filhos, a mensalidade da escola, o sorriso da esposa, nós velhos e os netos, eu lá contando uma história. Mas, nada disso acontecendo exatamente ali e parecia tão realizado sem que nunca meu corpo tivesse se movimentado e, no entanto, eras já teriam acontecido, eras que os livros me contaram e que eu imaginei de uma forma que talvez nunca estivera lá, enfim...
Ao dormir, o cheiro de algo existido residia em seu travesseiro. Uma tarde se afirmava como tendo existido. Emoções se insinuavam no tempo, até mesmos alguns cabelos diferenciados acusavam a vida de algo, a história, a passagem de uma existência.
Achava que estava perdido. Eu toco as coisas, elas existem, nãos ou as coisas, elas estão aqui e a materialidade das pessoas não está no fato da minha sensibilidade não estar em direto contato com elas. Mas, estava certo disso?
Sua mãe na cabeça de novo. A moça de novo. Imaginava se suas relações não eram a analogia daquela relação maternal. Entretanto, qual seria a lógica que poderia fazer de uma fantasia infantil transformar-se na mesma busca estúpida de adulto, qual seria a realidade de uma relação que se repetisse sempre? Sua mãe continuava morando ali, na mesma rua, se acaso a tivesse perdido, não era só pegar o carro e ir. E, contudo, ela não estava ali. Será que poderia buscá-la no passado, pois, se aquela mãe era apenas atravessar algumas ruas com seu carro, não seria a mesma coisa para achá-la no passado, num outro suposto tempo? Ou será que a moça poderia então ser um desvio daquele espelho, mas como o reflexo da íris colocadas em sua figura.
Será que era só confuso?
O sonho veio. Era ele, ali, eu. Ele pegava o maço de cigarro quando o elefante barbado lhe perguntou se poderia sentar-se e beber, a tromba enorme assustando. Nunca conseguira aceitar a tromba, lembrou-se, e ao fundo queria beber leite, mas a garçonete não estava ali, a garçonete tentava chegar em casa, depois do trabalho ao qual faltara. Queria apenas um refrigerante.
- Você teve este sonho ontem? O que este sonho significa para você?
- Olha, creio que o elefante me remete a algo... Penso que poderia ser algo relacionado ao meu casamento, ou aos meus pais...
- Bem , o sonho será o que você considerá-lo, não acha?
Sangue.
O estilhaço do espelho cortara seus pés dolorosamente. Dor, isso seria porventura um indício? Ou nem o sentir se confirmasse, ou fosse apenas um fenômeno, e só pudesse entender pelo fenômeno a exatidão daquela sensação. Não, não, o caco estava lá e a minha atuação diante dele e sua reação em meu pé me confirmavam que eu existia e que o caco existia e, ambos, nos interferíamos.
E isso acaso provava algo?
E será que importava que algo se provasse. O espelho está ali e vejo algo, mas e daí se vejo algo? E daí se não visse? A imagem ali disposta, poderia ser só mais uma entre muitas, e outro espelho, outra imagem e outra imagem e, depois, poderia ir desviando imagem por imagem e apenas o continuar de mais uma imagem criada ou interpretada conforme se quisesse de acordo com a circunstância.
Mas, será que nenhuma das imagens existiria de verdade. Ou longe, poder-se-ia ver sua história encarnada e perpassando o tempo. Quantas daquelas imagens viveram e quantas morreram? Será que alguma ou todas foram eternas, mesmo que em um instante?
Baboseira. Cerveja, só a cerveja ou qualquer bebida, uma droga, poderia trazer aquelas coisas. A vida? Era simples. Saia de casa, trabalho, algumas coisas no meio, comer, beber, cagar, transar, conversas entre isso, ouço algo, vejo algo, enfim... vida...
Será mesmo? Pensava em raças que não fizessem nada do que se pudesse denominar humano, mas todos os exemplos que buscava pensava pensar ainda se baseavam em algo que de alguma forma emitisse alguma referência, ainda que escusa, de humanidade.
Então era isso, tudo só podia ser humano e isso era o real, mesmo o que era objeto, só o era porque um humano assim o definira?
Adão no Éden e então tudo se fizera? Ou será que lá estava o corpo de alguém deitado, sonhando, e vivíamos o sonho?
Realmente importava? Poder-se-ia apenas seguir em frente, atravessar e a existência era esta? Como se justificar, portanto o movimento? Viver era sonhar o movimento, atravessar, confirmação ou segurança de tudo. Apenas mais um espelho em movimento fingindo que um compasso de imagens, como vários desenhos, movimentando-se até que parecessem existir e , com isso, nos fazendo reais?
Tudo confuso, tudo confuso... ou apenas certo demais, quem sabe?
Estava exausto, como se tivesse vivido anos em apenas uma palavra. E será que não vivera? Seus olhos pousaram em algum lugar desconhecido. Um total branco apossou-o. estava mesmo em algum lugar? Isso seria o não-tempo , a não existência, quando nada sentimos, vemos, percebemos? Não sabia figurar. Não importava. A cabeça, entretanto caiu. Alguém se apercebera daquilo, ou no mínimo, olhara o espelho e com suas mãos segurara pela imagem a cabeça do outro para que não se machucasse, para que não morresse.
Morrer seria então a confirmação de uma existência? Era possível morrer? O sono falou mais alto. Ou fosse a morte que sonha ou que vive.
Sentiu que respirava, ou era fantasia. Calado, não havia mais letra, desenho, som. O espelho será estava lá?
Ou talvez fosse mais uma fantasia.
Pegou o jornal nas mãos, perdeu-se nas páginas. Mais alguma notícia em algum lugar. E como poderia acontecer aquilo? Como aquilo não seria apenas outra ilusão. Fora a leitura da página de nada havia experimentado aquilo. E no entanto sabia toda a estatística, a blusa e a cor perfeitamente visíveis, esboçadas imageticamente por palavras ou por aquela figura, a foto, que nem mesmo sabia se havia sido posta lá ou se algo representava do acontecimento.
Representava - e imaginou o mundo um teatro . Não o teatro de palcos e tanto fazia se existisse algum ator; a vida existia sempre em potência quiçá, pois nada acontecia de fato, nada que visse, nada que realmente estivesse ali, ao usufruto de seus sentidos.
Talvez como na tv tudo esperasse a hora do comercial, em que a vida existia se dizia vida porque as pessoas se lembravam de que deveriam consumir. Mas, mesmo aquele consumo seria algo, ou só atuava mais uma vez? Sempre o público lá, como se a vida precisasse sempre do aplauso para que fosse completada...
Show, realidade?
Mas, para além da tv, os livros de história. Pesquisa, busca de material, deduções lógicas ... Mas, na verdade, sentia os livros tão imprecisos quanto a si mesmo, e as provas tão revogáveis quanto. Comparado a um livro de história e suas justificativas e resoluções nada sentia de diferente. E, por isto, questionava-os , bem como a si mesmo, e brigava pela verdade. Mas, o passado, então, será que fosse uma disputa?
Lembrou-se de sua mãe já morta, sabe-se lá por que motivo. Decidiu tomar o álbum de fotos. Desceu as escadas pensando na lagartixa que costumava frequentar suas paredes - quando ela não estava ali, onde estava? Existia será? E toda a bolsa de valores, aquelas milhares de pessoas os investimentos... um monte de gente que nunca vi, um monte de dinheiro que nem sei onde está, tudo isso, tudo isso, existe?
O pequeno armário aberto, o álbum aberto, lembranças de acontecimentos. Nossa, nem lembrava do tio-avô e aquele bigode, olha a avó senhorinha e a aquela menininha que essa semana reencontrei, a prima, que me achava gigantesco e hoje sou um tampinha perto dela...
Mas, aquilo existia? Como sentia aquilo se aquilo não estava ali, se tudo não passava de um desenho de acontecimento e o relógio não figurava aquilo, o relógio não soava a precisão daquele quadro, e mesmo as imagens já meio que sumiam, as faces e gestos meio que se confundindo, nada nítido totalmente, algumas coisas indecisas de seus fins como se a própria cabeça quisesse que a vida fosse politicamente, emocionalmente favorável para si mesmo.
Numa conversa de bar um dia ouviu, lembro, meu amigo dizer sobre uma coisa que sempre pensei ter sido de outra maneira. Alguns dados ressoavam, mas algo tinha sido vivido ou éramos dois que olhávamos de ângulos diferentes um mesmo espelho, mas ainda assim apenas um espelho? E se na verdade, o espelho estivesse partido e cada caco configurasse um possibilidade de futuro acontecendo e de passado potencialmente acontecido ou acontecendo?
Tustra, a palavra veio a mente, desconfiado de seu significado. O que seria? Vivera algo , alguma referência? Não encontrava o caminho para aquilo, nem mesmo o descaminho. De onde surgira? Será que alguma experiência do passado poderia ter emitido a luz que criasse algo do nada?
Ficou divagando.
A água caiu em seus pés. Será mesmo que se não tomasse água, não viveria? Será que se não comesse? Não só de pão viverá o homem... e se perguntava se o pão é que não viveria sem o homem, se o pão estava de fato lá e que só existia na medida em que alguém o notara e pensara na sua possível existência, juntando elementos sabe-se lá como e quando e criando algo como uma massa com vida nova e, ainda assim, sem vida de fato. O pão que só existe porque um dia alguém pensasse em fome e o acaso ou a ideia tivesse o concebido. Então a ideia concebia também pães e a ideia poderia talvez conceber homens?
Deus sentado na mesa ao lado, o pão e o vinho, era isso? Deus poderia ser outra figura no espelho, ao fundo?
Não quis responder.
A figura da mãe nas mãos e do pai na foto ao lado. Ambos em fotos diferentes, vidas em lugares diferentes. talvez também aquilo tivesse definido a relação dos pais. O que fora aquele encontro e agora a face daquele jeito, de um terceiro elemento amálgama de duas informações, como se o espelho pudesse criar um desvio de foco que fizesse duas imagens se forjarem em um outro foco mais afastado e que irá por sua vez se desviar para que outro se afaste ainda mais até que tenhamos inúmeras imagens cada qual mais a fundo da outra no desenho de imagens infinitas dentro de um espelho, todas supostamente iguais e, na realidade, diferentes e mais afastadas no tempo?
Talvez mais uma vez delirasse. Suas fantasias.
Naquele dia pensara em mulheres. No que buscava delas. Pensava se realmente podiam ter existido e por que, de certa maneira, parecia que ainda estavam lá e causavam dor quem sabe. A moça tinha acabado de sair do quarto e nem sabia se poderia dizer que ela existira. Do quarto ao banheiro, qual realidade se apagou?
Pensou no que já havia buscado, um futuro, uma fantasia, uma segurança pretendida em uma harmonia que nem ainda havia se concebido, mas que, por outro lado, já estava vivendo em algum lugar, quem sabe, e lá estava eu, mulher, filhos, a mensalidade da escola, o sorriso da esposa, nós velhos e os netos, eu lá contando uma história. Mas, nada disso acontecendo exatamente ali e parecia tão realizado sem que nunca meu corpo tivesse se movimentado e, no entanto, eras já teriam acontecido, eras que os livros me contaram e que eu imaginei de uma forma que talvez nunca estivera lá, enfim...
Ao dormir, o cheiro de algo existido residia em seu travesseiro. Uma tarde se afirmava como tendo existido. Emoções se insinuavam no tempo, até mesmos alguns cabelos diferenciados acusavam a vida de algo, a história, a passagem de uma existência.
Achava que estava perdido. Eu toco as coisas, elas existem, nãos ou as coisas, elas estão aqui e a materialidade das pessoas não está no fato da minha sensibilidade não estar em direto contato com elas. Mas, estava certo disso?
Sua mãe na cabeça de novo. A moça de novo. Imaginava se suas relações não eram a analogia daquela relação maternal. Entretanto, qual seria a lógica que poderia fazer de uma fantasia infantil transformar-se na mesma busca estúpida de adulto, qual seria a realidade de uma relação que se repetisse sempre? Sua mãe continuava morando ali, na mesma rua, se acaso a tivesse perdido, não era só pegar o carro e ir. E, contudo, ela não estava ali. Será que poderia buscá-la no passado, pois, se aquela mãe era apenas atravessar algumas ruas com seu carro, não seria a mesma coisa para achá-la no passado, num outro suposto tempo? Ou será que a moça poderia então ser um desvio daquele espelho, mas como o reflexo da íris colocadas em sua figura.
Será que era só confuso?
O sonho veio. Era ele, ali, eu. Ele pegava o maço de cigarro quando o elefante barbado lhe perguntou se poderia sentar-se e beber, a tromba enorme assustando. Nunca conseguira aceitar a tromba, lembrou-se, e ao fundo queria beber leite, mas a garçonete não estava ali, a garçonete tentava chegar em casa, depois do trabalho ao qual faltara. Queria apenas um refrigerante.
- Você teve este sonho ontem? O que este sonho significa para você?
- Olha, creio que o elefante me remete a algo... Penso que poderia ser algo relacionado ao meu casamento, ou aos meus pais...
- Bem , o sonho será o que você considerá-lo, não acha?
Sangue.
O estilhaço do espelho cortara seus pés dolorosamente. Dor, isso seria porventura um indício? Ou nem o sentir se confirmasse, ou fosse apenas um fenômeno, e só pudesse entender pelo fenômeno a exatidão daquela sensação. Não, não, o caco estava lá e a minha atuação diante dele e sua reação em meu pé me confirmavam que eu existia e que o caco existia e, ambos, nos interferíamos.
E isso acaso provava algo?
E será que importava que algo se provasse. O espelho está ali e vejo algo, mas e daí se vejo algo? E daí se não visse? A imagem ali disposta, poderia ser só mais uma entre muitas, e outro espelho, outra imagem e outra imagem e, depois, poderia ir desviando imagem por imagem e apenas o continuar de mais uma imagem criada ou interpretada conforme se quisesse de acordo com a circunstância.
Mas, será que nenhuma das imagens existiria de verdade. Ou longe, poder-se-ia ver sua história encarnada e perpassando o tempo. Quantas daquelas imagens viveram e quantas morreram? Será que alguma ou todas foram eternas, mesmo que em um instante?
Baboseira. Cerveja, só a cerveja ou qualquer bebida, uma droga, poderia trazer aquelas coisas. A vida? Era simples. Saia de casa, trabalho, algumas coisas no meio, comer, beber, cagar, transar, conversas entre isso, ouço algo, vejo algo, enfim... vida...
Será mesmo? Pensava em raças que não fizessem nada do que se pudesse denominar humano, mas todos os exemplos que buscava pensava pensar ainda se baseavam em algo que de alguma forma emitisse alguma referência, ainda que escusa, de humanidade.
Então era isso, tudo só podia ser humano e isso era o real, mesmo o que era objeto, só o era porque um humano assim o definira?
Adão no Éden e então tudo se fizera? Ou será que lá estava o corpo de alguém deitado, sonhando, e vivíamos o sonho?
Realmente importava? Poder-se-ia apenas seguir em frente, atravessar e a existência era esta? Como se justificar, portanto o movimento? Viver era sonhar o movimento, atravessar, confirmação ou segurança de tudo. Apenas mais um espelho em movimento fingindo que um compasso de imagens, como vários desenhos, movimentando-se até que parecessem existir e , com isso, nos fazendo reais?
Tudo confuso, tudo confuso... ou apenas certo demais, quem sabe?
Estava exausto, como se tivesse vivido anos em apenas uma palavra. E será que não vivera? Seus olhos pousaram em algum lugar desconhecido. Um total branco apossou-o. estava mesmo em algum lugar? Isso seria o não-tempo , a não existência, quando nada sentimos, vemos, percebemos? Não sabia figurar. Não importava. A cabeça, entretanto caiu. Alguém se apercebera daquilo, ou no mínimo, olhara o espelho e com suas mãos segurara pela imagem a cabeça do outro para que não se machucasse, para que não morresse.
Morrer seria então a confirmação de uma existência? Era possível morrer? O sono falou mais alto. Ou fosse a morte que sonha ou que vive.
Sentiu que respirava, ou era fantasia. Calado, não havia mais letra, desenho, som. O espelho será estava lá?
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