quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Para as flores que em subterrâneas...

1

não deixa rastros
o horizonte entanto
seja história

passos que seguem
hachuram o chão
mas não se há nada
para ir, para chegar.


o abrupto corte
que inaugura a mudez.
os ses que pudessem ser feitos
e o nunca, frio, selador de respostas.

Tudo porque não é crível
o aspecto da palma reluzente
que atravessa o fio do real
e cria sonhos de indeléveis

tudo porque a visão sabe do tato
sabe que a vida não é mera ideia
que a vida não é mera superstição
e o incenso queima já esvoaçante,
suas cinzas são só cinzas
e nenhuma partícula irá ser
transparente em carnes de ar.

2

o líquido que explode
fica-se aquático
queimando até
a última quietude rarefeita.

3

quando dormem as palavras
o trauma como dizendo
há quem? o quê?

4

coração deita-te
serás o próximo
a ser menos
que menos
a ser a matéria
para sempre da história
que alguém talvez sabe
mas que mais ninguém percebe.

5

como se diz foi-se
quando nem nada existe.

6

aquele lugar
irei revê-lo?
porque tudo some
senão está mais

nem mesmo como notícia
nem mesmo como lembrança
nem mesmo como respiração

ou ainda
nem mesmo o nem mesmo.

7

suor
mas e quando seca
até o seco?

8

"comer é um sinônimo de viver"
mandamos, pois, o banquete
onde não residem nem mesas
nem garfos, facas, sequer colheres

somos os garçons sem ofício.

9

pra que estas flores
se são a mesma coisa
ao qual elas querem
que sobreviva?

10

e de repente isso
nada que fosse
ou tivesse
nascemos para um dia
restamos
talvez nem dita história.



à Toninho, como o impossível alívio.