1
não deixa rastros
o horizonte entanto
seja história
passos que seguem
hachuram o chão
mas não se há nada
para ir, para chegar.
o abrupto corte
que inaugura a mudez.
os ses que pudessem ser feitos
e o nunca, frio, selador de respostas.
Tudo porque não é crível
o aspecto da palma reluzente
que atravessa o fio do real
e cria sonhos de indeléveis
tudo porque a visão sabe do tato
sabe que a vida não é mera ideia
que a vida não é mera superstição
e o incenso queima já esvoaçante,
suas cinzas são só cinzas
e nenhuma partícula irá ser
transparente em carnes de ar.
2
o líquido que explode
fica-se aquático
queimando até
a última quietude rarefeita.
3
quando dormem as palavras
o trauma como dizendo
há quem? o quê?
4
coração deita-te
serás o próximo
a ser menos
que menos
a ser a matéria
para sempre da história
que alguém talvez sabe
mas que mais ninguém percebe.
5
como se diz foi-se
quando nem nada existe.
6
aquele lugar
irei revê-lo?
porque tudo some
senão está mais
nem mesmo como notícia
nem mesmo como lembrança
nem mesmo como respiração
ou ainda
nem mesmo o nem mesmo.
7
suor
mas e quando seca
até o seco?
8
"comer é um sinônimo de viver"
mandamos, pois, o banquete
onde não residem nem mesas
nem garfos, facas, sequer colheres
somos os garçons sem ofício.
9
pra que estas flores
se são a mesma coisa
ao qual elas querem
que sobreviva?
10
e de repente isso
nada que fosse
ou tivesse
nascemos para um dia
restamos
talvez nem dita história.
à Toninho, como o impossível alívio.