nem pense nisso
os cavalos continuam viajando sobre vênus
mas, o teu orbe de plumas aprumadas
não irá, hoje, descer o muro sobre minha testa
não descerá a palavra proletariada
e nem suscitará as flores de encontros românticos
não trabalharei todos estes anos pelo teu sorriso cafeínico
nem te darei o vício do drogado e nem a clínica
restam os estandartes mornos
sobre a pétala sanguínea
e dormem os montros sobre o leito derramado...
não me escutes
deita-te
no teu vão moralista
não te darei o suor de cada dia
e o pão não haverá
nem café
nem leite
e nem mesmo a garapa
deitarás teu sono mórbido de cocaína
na pronunciação da palavra escravo
porém a terra sempre trabalhará
com seus gusanos e suas dúvidas
e esse trabalho telúrico
de nada constará nos autos de teu escrutinioso cadáver
saberás apenas
que foste
ordem
e que tua ordem
nunca foste a minha
não reconhecerás em meu rosto teu dicionarizado catálogo de reclamações
não serei apenas ofensa
mas te tratarei com todo o meu ódio
inconformismo
sóis pela janela e nada de janela e nada de sóis
sangue sem veias
o ar no vermelho
carabinas no centro de sp
aonde dormem os mendigos lúcidos?