terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Quando você partiu

aquela chuva veio
incontrolável
do nada,
estávamos submergidos em seu caos
eu e os outros tripulantes daquelas ruas

voavam lixeiras,
os sanitos rumando sem sugestão de destino
árvores tombando
e vi alguém morrer inevitavelmente
por debaixo daquele enorme tronco frágil
eram dois seres mortos
instantaneamente como a vida

vi também ,da queda,
aquele fio rasgado
faíscas pululavam
fritando águas
e a mistura de calor e frio
produzia um colapso dentro do espaço
neblina e fumaça
e no viés da calçada
espuma...

quando você partiu
vi vidros estilhaçarem
os pingos devem ter sido apenas
a superfície do céu alquebrada
azuis se degenerando
enquanto eu olhava as pessoas ao lado
céleres
buscando proteção
encharcadas de medo
suas sombras como velas
fundindo entre a bruma
os existires de corpos

mas,pestanejei
não quis a tempestade
não valia a outra encouraçada
nas pestanas

desci,rumei mais baixo
lá-baixo, em ressonâncias confusas
achei meus olhos prostados
numa luz branca e difusa
aquilo fosse o dia,
ainda que em artifícios coruscantes

Mas, onde estava?
que tive pavor ao pensar
que a estrada pudesse ter se tornado oceano
ou que o mundo tivesse eclodido longe
e meus braços não soubessem nadar ou voar...

Queria você
contudo
tudo partia-se.

e você nos ondes invisíveis
e eu suspeitava que existia
ma,não via
e como alguém pode existir
enquanto existimos
se não o vemos
se não o sentimos?

Sua resposta veio
desceu naquele barulho estrondoso
um relâmpago cruzou
suas raízes ramificaram
pelos oxigênios

senti sua respiração leve
numa recordação mesmo viva.

e tudo se partia
e você partiu

mas,nada nosso
estava
partido.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

respirável

.............................................................a Toninho Malvadeza



militar
não é a farda
e nem o fardo
mas, a força.

esta força
que é apenas
o sentir-se no movimento
e sê-lo

como o
hoje
já o futuro
de cada dia.

militar, sim,
esse louco vício natural
escândalo das engrenagens
- dos edifícios, dos cofres,
das casas comportadas, do verde invisível
e até mesmo das fumaças desesperadas...

militar,
que é o avesso do outro militar
que é ter as mãos limpas de mudança
e o sangue de indignar-se
que é previsão, se organizar
e fazer deste pequeno burburinho de avenida,
disparo de aves sobrevoantes e sem utópico...

militar
que é a indignação
como impulso
e a estratégia
em puro instinto.


militar,sim,
que é ver mais que o espaço
destas ruas
observar os longes
até antípodos
e juntos erguemos bandeiras
lado a lado.

militar,sim,
que é saber,
sem precisar de um livro
ou mesmo de um deus,
que esse tempo
em que passamos lutando
é tão intenso
e fundamental

que é
matar a sede
em águas mais respiráveis

em águas...

bem mais respiráveis