quarta-feira, 23 de junho de 2010

entorno

entorna

contorno torna

tornado.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

amanhece

ciclone-negrumes
no esboço
de um pérola em botão

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Obrigado pelas gelatinas

Obrigado pelas gelatinas.

E não diretamente pelas gelatinas
mas por todo o carinho:

o trabalho das bolhas
(o fervor nos potinhos
a limpeza antimicróbica)

o trabalho das mãos
(no singleo ato de abrir as caixas
e quase se queimar, no fumegante líquido,
em despejamento)

o trabalho
já não bastasse o escritório
(a fadiga e o retorno ao lar
o valor quando do sono,
quando a cama cantigando
e os braços pendendo
como se o corpo os acompanhasse...)

Obrigado
pois antes da substância
vieram todas as preocupações
contra o sedentarismos das pernas
estancadas por horas nas cadeiras
esperando quiçá o momento de atrofiar
não fossem as gelatinas

obrigado
pois antes do caldo,
do suco
vem o cuidado
especioso de
educar
a filha
e cada gota de aprendizado
entornando
trazendo as nossas mãos
não apenas o alimento
mas o acumulo de cidadanias e carícias imperceptíveis

obrigado
pelo tempo na geladeira
e a colaração se tonificando
o sabor como que se solidifando
a invisível ansiedade nas bocas
antes do momento de a colher
colher o suco quase rígido
em molescências tranquilas
e os esforços gastro-intestinais diminuídos
e não há mais peso nutricional

estamos na calmaria dos bens nutridos.

sim, obrigado,
obrigado pelas gelatinas
porque ela é, sem que pensemos,
alimento, fonte que nutre cada dia.

Negociantes

a vida demanda
em interstícios empregatícios
carcaças metálicas
válvulas
clockworks
molas
escapamentos
freios
aceleradores
arruelas
parafusos em formato de cone
porcas
engrenagens
mecanismos de fricção
dispositivos
aparatos
intrumentos
utensílios
beletrismos técnicos dos aparatos de cozinha
as agulhas bojudas ou cegas
os anúncios nos urinóis
cláusulas
artigos
joint ventures
concessões
insolvências
investimentos
bens
haveres
recursos
benefícios
ônus econômicos
notas fiscais
proventos
honorários advocatícios
o bar não bar dos advogados
patentes repetitivas e insolúveis
a haste no tubo no cone transversal da barra de apoio número 2
as reclamações
reivindicações
etc etc etc

e no âmbito
dos esconderijos
dedos tecendo o emaranhado
e insensível, por vezes,
negócios dos homens.
os segundos de preguiça ao teu lado
antes do momento de partir
mais um dia, o trabalho,
e torno ao teu lar
não aquele prédio,
suas coisas
mas, sim, suas mãos
o seu riso aberto
o divertimento
e o afago
e quando vejo
o banal dos atos
torna-se eloquente
beber água
tomar banho
vestir-me
e mesmo dormir
é sempre outra
experiência, uma outra vida
e quando em sono despertado, ainda em preguiça;
o sol despontando no vão das cortinas...

já nem mais o sinto
- acho que às vezes eu o confundo com o seus olhos... quem sabe?