quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Una

depois

do trago

veio o sono

mas a madrugada

em seu sopro

abriu

a vontade de novas passagens...


despós

lembrei do passado

ou talvez tenha-o criado


e vieram à mente
todos os nossos rituais capitais

ocidentais

- dores de sisos arrancando-se em ruídos:


divagações sobre futuros
projetos
heis de ser
heis de fazer

e aquela enorme paciência que mais se assemelha a uma reduzível apatia
e a um moroso e marcecível tédio...

e de tanto agitado que se encontra nos nervos
e de tão cheio, estufado, entumescido
de objetos sem serventia, penduricalhos,
kitschs,

e de tão entorpecidos
pelos outdoors
anúncios
e revistinhas de cosméticos
para cuidar do nosso fingimento de jovialidade imortal


e de toda aquela massante massa
dias de gentes, anos de populações,
séculos de avós, pais, filhos, fetos
grávidas em potencial

e exponencial

e com tal massa suas roupas, bolsas, fetiches
e principalmente,
seus índices suas estatisticas seus inúmeros papéis
suas produções e
suas sempre tão fortemente incontroladas necessidades

onde estamos, onde chegamos com tudo isso?

Após...

tudo saiu na fumaça...
e a madrugada veio sentir a minha pele

tudo vomitou-se pelos poros

fui andar pela areia

visualizei as estrelas
havia uma certa dança nelas
e eu
sapatos fora
percorria a praia

sentia um outro perfume ritualístico nas veias

em cada pisada que dava
sentia o caminho que viria subindo

empós

Una

falo
que
não
fala

aquela ironia machista foi
só a constatação
de que
o machismo
é só uma fraqueza


mas me perguntei
em meio as piadas

se realmente eu podia
olhar meu corpo
com formato muscular maciço

e vê-lo desencantado

pensando em ser outro

algo como um símbolo

metamorfose

notei

e sem ser esquisito


- um broto de botão

queria nascer

como seio.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Una

O paraíso artificial

em cima da mesa

a tequila era água
e por dentro
chama


e sensual era seu movimento

periextáltico

ela foi escorrendo

tanto que buliu
que o conhaque não aguentou
e esgoelou-se

sua fornicação exagerada
somada a surpresa inesperada da cerveja
e o perfume de bitucas internas

brotou
languidos líquidos

eu era o holofote branco da lua que queria deslizar
ébriamente
ao longo da extensão mélica da praia...

Una

espécie de grama
que pode ser

dissecada

e levemente mais escura

a ti te dão o nome
de fuga
ou de loucura

mas no fundo és só esta coisa verde
sem aparente força
a não ser o valor de visões que de ti se projetam

projétil que és

pois levas alguém a ser ouro
nas luzes que se soltam de tua fumaça

uma só apertada,

um puxo,

................................

ah...

o devaneio se abrupta

e vejo o fio dourado navegando pelos ares como um submarino rasgando com suas asas
passando passo a passo no intuito de não apagar nunca as pegadas de suas patas
daqueles mecânimos visuais espaciais...

Una

como a projeção
do meu desejo
o teu vermelho
me trouxe
o sangue afora
e senti meu corpo
em trêmitos
imaginando
que um esgar teu
um movimento

fosse o necessário
para fazer maremotos
(pelo ar)
nos desertos mais
remotos
e até mesmo
nas minhas ideias mais estagnadas de água

fosse o necessário
para derrubar
todo o meu imaginário de edifícios
para derrubar todos a minha prosa de cumes
e a minha poesia de céu inatingíveis

No entanto
logo vi
que não eras fatal
não como eu pudesse pensar
eras apenas mulher

Mas, em algum dos lados,
talvez tenha sido a cor do teu vestido
que tenha me causado uma certa dor de olhos

e sofri por pensar numa espécie de paixão
que era, na verdade,
a minha apreciação tácita
e às vezes quase sufocante

da plasticidade das coisas
que impressionam
demovem
mas que às vezes
desconfio se são só a capa do desejo oculto

no fundo
na forma
que forjava
o delírio

o rubro aceso
fora
quiçá
a iludida
promessa
de uma ainda
beleza.

Una

enquanto falávamos
algo como um soco
surgiu de repente

e vi que me acertava o assunto

senti pois
o ser sem si
doendo grande
nas úlceras

tentei acalmá-lo
mas ele só me pedia
para guarnecê-lo
para muni-lo
de armas que pudessem

tirá-lo de sua introspecção
e arrebatassem - no longe
como perto do outro que ele era
que não podia ser

e que só podia ser.

2
naquela noite
ele teve sua resposta
desmaiou após um soco
seu rosto fragmentado
pelas facas desestruturantes do Karatê

3
aquele que não era nada
agora cara enfaixada
como máscara
e abaixo nada de face
ou o antes dela.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Una

Hora do rango
langores no estômago
e a busca incessante por uma porção...

lá vamos nós mais uma vez
passando pelo tisnado

aquele breu danado e aqueles buracos

o chinelo quase que se transformando em espírito

ou será que estávamos todos fantasmagóricos

e, na verdade,

já éramos a fuga perene das vozes

silenciadas de fome?

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Una

o abstrato do querer
que é
senão espécie
de aspiração do transcendente

meio que a carne
se movendo
querendo se esvaziar

Mas contigo, Una,
fugi da promessa
do depois sempre

e percebi
que não havia
o que esvaziar

e te admirei
até deglutindo
a tua terra

nela
me criei
animal

e dobrei meus joelhos
sentindo todo o peso
do presente

e até sorri
vendo que
lágrimas
tristes
risos
apatia

são o mesmo
tudo porque fazem parte
de tudo o que concerne a vida

E é por isto que te quis, Una,
porque és a pedra polida do querer.

Una

à noite

será que alguém poderá um dia saber tudo o que sentiu?

Mesmo se você escrevesse poemas
compusesse músicas

gravasse

alguém algum dia
saberia

pelo menos um pouco

o que foi

aquele seu segundo paralisado

espécie de atino

sem o menor destino?

Não sei
e é isso o que ficou daquela perplexidade


Um enorme Não Sei
tornou-se bem claro


fiquei pensando se era uma estrela.

Una

Aquele frio vindo do horizonte
se fechando sobre meus ombros
navalhando
extirpando de mim
tudo o que fosse desepero

Vi

aquele rapaz soprando a voz
violino de grunido
ecoando por toda a praia
e naquele momento
meu peito tão puro
respirava
o fio bem afiado
de espadas furtivas

e fui apunhalado
e o sangue vazava
dolorosamente

mas era tão vivo e vermelho
que era como se aquele céu
no mais outonal dos horários
tornasse-se uma maçã


e uma espécie de fruto
tombasse sobre a minha boca
me alimentando

cítrico
ácido
inflamável

Quano vi
tudo estava corroído

e nem sabia sequer onde estavam meus pêlos

a noite então veio
era algo como brilhante
e me deitei nos lençóis refulgentes do escuro.

Una

o casco da caracol
as mãos girando convulsivamente no eterno

como hipnotizado
por aquele tempo
em que o agora atinge
todos os instantes
de um só vida

não pude saber em que época estava
sabia que o ano era aquele
tinha qualquer ideia do que fosse o horário

porém
o tempo, ele mesmo, desconfiava-se de si
duvidada de sua certitude
pensava-se fragmentado,
como as farpas de um caco de aço enferrujado
se minusculando
até o ponto de suas cinzas azuis
tornarem-se
o escondido invisível
sugestão de não-matéria.

Meu ser
todo ciclone
girando em abruptos absurdos
presto
foi e vai
vagarosamente voando
fui e
vou vou indo

eu sou o átimo da mais matéria impalpável.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Una

............................................................à Carlos

Qual de mim
foi aquele
que viveu
algo?

será que o
outro
que não se
chama por mim

ou nenhum

ou sequer
houve alguém?

ou ninguém?

e o momento
existiu?
e o vazio
existiu?

e esta dúvida
se faz?
e o não dela
também?

Será que sou então o mito
do
inexistente?

Una

enquanto eu pisava
nas tuas costas dobradas
e via as tuas espinhas curvelíneas

os teus arrebóis desenharam minha pessoa
e delinearam também minha sombra

e ora me sentia refrescado
ora me sentia eu mesmo
a espontaneidade das dúvidas

mas me resignei quieto
espécie de Nirvana oculto
me concentrava
no tato escondido das coisas

os zéfiros
os líquidos
os duros
a luz

tudo mais tarde
me tingiu
de poemas


mas naquele momento
quantas perguntas me nasceram
com a mente em mudez?

Una

.....................................................à Arnaldo

O inverno de um aquário
sem os vidros
te prendeu
no teu vício de medo

por um segundo apenas.

Contudo, qual foi tua serenidade,
após o temor,
que te levou ao solilóquio
com o sol
e com os ares errantes?

estacado como
toda a paisagem
o azul da tua íris
íris-música
estava ileso
de tudo o que fosse o
ato combalente
de se preocupar
e o cerúleo arpejo
da tua retina
que era senão
a serenata diurna
da fluência
daquela vida transparente
riando...?

e,qual foi a surpresa,
o que te apareceu
que no assombro
dos calafrios
deu aquele teu semblante meditativo,
te evocou
a estética sadia
de ruminâncias dissolvidas?

Estava estarrecido...

E todo o amor
que vi no
teu nariz cheirando
o olor das ventanias mescladas
de açúcar e sal;

e todo o afeto
que notei
nas tuas pálpebras se fechando
como o movimento do astro declinando
nas sombras das massas de vapor;

e todo o carinho
que observei
nas linhas dos teus cabelos se fundindo
ao debuxo daquela terra-pó fina
chegando até mesmo
a contornar de rosicler a praia

Que foi tudo isso?
Que foi tal alumbramento?

E quando eu
sozinho
vi
teu rosto
inundado
do belo

porque já não te discernias mais homem

Será que eu via nascer
na verdade
o sereno?

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Una

..................................................à André

Se havia algo de heróico
quiçá estivesse emaranhado em sua pele rubra
uma vez que
o medo parecia não te existir
e te despejavas nos confins das matérias
e encaravas os riscos
sem se prevenir
e me remetia à épicos
aqueles oceanos nunca dantes navegados
eras acaso um dos varões assinalados?

No entanto, aquilo parecia se perder
não, que não mais estivesse em ti
tanto de fulgor
tanto de valentia
e de sagacidade
Não.

contudo,
existia algo mais agudo
algo que te fez afastar-se
tocando a orla da tua coragem

Não.
Não foi medo.

É que, dali,
voltarias para casa
sem a sensação de casa

naquela areia
não eras mais o Ulisses
que vai ao mundo
apenas para voltar para o lar

Não.
em cada edifício
você veria das frinchas
o infrene torpor das marés seduzidas pela lua

teu corpo seria
o que ele é enfim:

a única morada.

e te jorrarias
como a correnteza desta paisagem

nas ruas reticências das janelas horizontais...

Una

..............................................................à Renam

e a maresia ecoava a ondulação de seu falso nome

renam renam renam

convidava-o à palestra dos moluscos
ao parlamento das pedras
ao tagarelismo das conchas

mas estavas onde?

que tua sem camisa parecia a farinha
que descia pela amplidão;

que teus óculos nublados
pareciam o algodão
que escondia o castanho
múrmurio das rochas;

que teu tamanho todo
se estendia e não mais podias ver teu ossos
senão como torrentes
como sincronismos de imagens galopantemente trotando num espaço lúcido de calmaria
e os silvos sussurantes de quietude
margeando o límite do horizonte
como o viver que responde

ao vale guardado
esperando o uivo
dos que já conversam
com as entidades pacíficas
do de lá

da morte.

Una

eis que de súbito
quatro olhares diferentes
o grupo se desfaz
e cada um
em seu canto
na amplidão de tudo
quer apenas
absorver

de pé
na saia salgada

no lado
no choque de espuma

ao centro
levemente andando

no fundo
olhando de mais distante

mas todas as vistas se perdem
todos músculos
em reação
ao que talvez se chamasse

místico.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Una

encontramos o teu encontro de ternura transparente
e chegamos ao auge do teu ser,
os círculos misturados de sal e doçura...

naquele ínterim,
o crepúsculo dourado que se encerrava ao longe
tecia inúmeros pensamentos

nunca achara em minha vida que te veria
e esteve será sublime
como o discernimento de que
tudo o que penso
é frágil como a sede
em sua última gota
é fútil
como o andar
que vaga sem sentir o ar
em respiração
fudamental substância
é tolo
como a preocupação
do que planejar num dia
é inútil como
olhar toda a borda do gigantesco
e resgatar a vida estúpida de caixas
que entram em caixas e mais caixas
enquanto estou aqui
te contemplando
vendo todas as nuances de seu inalcançável sem linha
de sua profundidade
sem pressão
de sua loucura
em amenidade
de seu delírio
que me faz sóbrio sereno lúcido
no instante mesmo
em que nem mais penso
nem mais sou
nem mais és
e existimos na medida do silêncio
e na medida de por tão imersos
já termos nos perdidos
nos rumos inusitados
de uma imagem além da beleza, no:
algo como o indizível
algo como o inexplicável
algo como apenas olhar
e de notar amiúde as minúcias
não perceber mais nada
nada
nem mesmo o silêncio
e nem mesmo o nada?

Una

e pois
o amarelo
no meio
daquele pico
e suas nuvens


o cinza
na unha
que brilhava

no centro
fazia o marrio

espelho

do embaixo
e
da baixada?

Una

um estrondo
pros olhos
a pororoca

despirocou

os rapazes
eram sereios que agora chegavam
pela margem arenosa
até o beijo
da desemboca?

Una

Enquanto o garoto parava se vendo

os outros amigos
tinham medo do frio
daquele conjunto de águas correntes...

- Pular?

- mas nem fodendo!

-Ehhh
a gente podia seguir a encosta até chegar no mar , né?

- Amanhã a gente vem aqui...vai ter sol e tal.
- é, é , isso daí mesmo...

e um pescador pescou um peixe que
olhou para aqueles estrangeiros e, vendo-se neles, disse:

- Puts, tá muito quente aqui? Não tem como me pescar amanhã, depois da chuva?

Una

..............................................................à Arnaldo



e o rolê nos rolou boiantes em terra

até o rio

Ei-lo: elo:


um garoto de pé
debruçado-se
no que há no ar
entre seu corpo
e sua imagem
reflexo
do rio:


- devo pulá-lo
e de alguma forma
não seria
saltar minha própria figura
mergulhar-me
no líquido
e depois
o medo da minha imagem
desfigurado/a?

e os círculos concêntricos
fazendo de mim
um debuxo do que eu seria
algo como
cores
pintadas
pelo movimento dispersivo da força inexpugnável
do rio?

Mas o medo ficou ali enterrado
esperando a manhã
do dia que viria
em que a pegada de medo
tornar-se-ia
o inerte informe
das correntezas...

Una

poças
e
restos de lama
ao lado
barro seco
caminho pedregoso
ou nós é que eramos muito
de fora
e desconhecíamos
a naturalidade
daquilo tudo

fomos seguindo
um verde do lado
e enfim
um embricamento
dois caminhos levam
àquilo que definitivamente não é Roma
mas que é o desejo de se chegar por todos os caminhos

demos de face com o rio
ou foi o rio que deu de água conosco
alguns pescadores
e a linha de seus anzóis sendo sustentada pelo elo do vento
na fundura
até que algum peixe faminto quisesse ter a bondade de puxar
a corda

quem sabe, nós seríamos assim tão educados
polidos para isto?

Um dedão quem sabe, robalo?

Mas , não, nosso objetivo era outro
contemplar aquele caminho
observar o seu deslizar pela areia

e fomos chegando mais perto para
termos a água mais diante
de nossa admiração.

Una

Vi vivi e perdi
de vista




e passamos para a estrada
agora terra mais ou menos seca
mas ainda iríamos mais longe
aonde não há mais passos
só as pernas do além-retina

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Una

a cantiga que era

senão luta?

e a garra que apalpava a casca
querendo demovê-la
querendo derruí-la
enfincar sua enorme espátula pelo dorso
atravessar tudo


havia algo de sensualístico naquela dança
dança mais batalha que era

engalfinhamento sibilante e sinuoso de caranguejos disputando o espaço no meio do lodaçal envolvido em suas próprias carapaças

de chofre
um recuo
um ataque
um acerto
sem esquiva
como se um quisesse ser devidamente atingido

Meu nome é Vivi
e o seu?

Una

Mãe?

mas tão nova?

e conversamos alguns segundos

ela fixou a vista na garra do caranguejo

e eu ouvi como que um ruído

que sibilou

de repente

era a cantiga do caranguejo?

Una

entramos num portal
e uma cena bucólica

ah...
as garças voando....
e os peixes podres no canto de uma espécie de ilhazinha com um cachorro no meio do mangue e uma criancinha querendo entrar pra buscá-lo estando próxima de cair naquele lodaçal e morrer afogada no meio daquele fétido cheiro de peixe....

mais uma vez:

ah...

nada mais idílico...

Uma mocinha sentadinha ali
lendo um livro sobre o hinduísmo
e dois garotinhos levados querendo brigar com um caranguejo astuto que poderá deixar uma mão bem ferida ou bem mais do que isso

cuidado moleque!

vamos andando...

uma ponte que leva para o rio una

ao lado

lodaçal
diversos caranguejinhos que se movem segundo o minúsculo frêmito de nosso peso de leve tocado no chão

alguns deles tretam

porrada pra valer
com aqueles seus ganchos machuquentos

ao longe
numa espécie de cais
um homem contemplando o rio
achei pescando
mas estava só olhando

bóias infladas
segurando nossas carcaças por sobre as madeiras
e a água fria..
e alguma substância existia ali

vai saber qual?

o homem silenciado
nem fala nada
nós nos voltamos pra pontinha
ficamos a contemplar caranguejos

e ele
mais esperto
sabia o nada que olhava
nós
só sabíamos
do nosso desconhecido
que queria ser entornado

morava em nós o disperso
que era o completo diário desperto
daquele homem diactivago.

Una

Naquele outro dia
outro
porque era dia
decidimos saber
até onde
se detinha o rio
em sua extensão
até onde
o mar
o sensualizava

mais tarde veríamos o pacto afetuoso
a linha tênue
dos corpos
liquefeitos
no prazer
de correr a vida

o rio e o mar unidos
e contemplávamos
como voyeurs
todo o seu exuberante sexo.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Una

Depois das ondas
em busca do teu vermelho férreo
fomos até a ponta do teu corpo
lá, descobrimos o suco
de goiaba
queria saber se o frescor da tua friaca
foi o mesmo
que desceu pela minha garganta
foi o mesmo
de quando senti que poderia escantear
o silêncio
pelo gelor nas estranhas.

Una

fugidio
fugidio foi o tempo
que ficou preso
nas tuas celas de prata
mas
por que
senti aquele ideal amoroso
de que o instante
fosse vivido
imensamente
como se tuas minúsculas pedrinhas
fossem
na verdade
anos de matérias carbonizadas
as cinzas cadentes do eterno
caídas pela crença difusa
de que nas tuas sinuosidades
residia
a tolice de uma transcendentalidade...?

No entanto, sei que só podes ser
breve
estalo de júbilo
que se fixa na memória
talvez
pelo narcisismo
de se sempre sacramentar o prazer.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Una

o que comemos foi peixe ensolarado?
e é por isto que ficamos depois
com estas escamas de pele
e este rosto mairoso de corado?

Una

10 no PF
cervejinha
e o chocolatinho com morango pra dar um grau
tocando a viola
à tarde
com a amizade de acampamento
e o beque baqueando a todos
rápido rápido

puft
doidescamente
logo veio o deputado de boston
que conhecera o che
que cantava "tu manga de mim
pois tu pensa como eu"
que era também
comediante
e outros vários ofícios que sua boa sandice chata inventava a cada segundo.

ele se depediu
após certo tempo
às vezes a urgência da manjobina é mais precisa.

Tarde
loucura
cerveja
onde mesmo que estávamos?

Não me recordo
talvez
exista de fato
momentos
que a memória inventa
pra não se lembrar dos diversos esquecimentos.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Una

andar à noite
fugindo da lama
mas quando me atolei repentinamente
naquela forma de líquido viscoso
foi que, grato, pude perceber
que uma estrela dormia em seu núcleo
reflexo embutido
de materialismo estelar
agora fazendo de memória
a já morta matéria
cicratizada
como uma sujeira transparente e indelével
tatuagem
fixa no corpo
e indescritível

Una

Entre este dedo
e os confins
dos teus aléns
quantos músculos
são sudorese?

Una

meu passo
passa
quem é que pega
a pegada
que já se foi
antes mesmo
de eu ter
passado?

Una

onda
una duas três
o menino quer brincar outra vez
una duas três


porém...

o sal da terra ficou no mar
mas um seu pouco
fez bolha
no pé da areia

eis que surge a água viva

morta.

o menino
a vista difusa
se ajoelha
e jorra um terço de seu sangue
pros antepassados

ele agora é só uma substância urticante.

Una

som de sol
nas minhas orelhas
é hora de subir
as sombrancelhas
fui ver o mar
o só no solo
a areia arreia
a dor do bate
das ondas
subo
a pedra do pico
mar olho
marulho
um casal se perdendo
amor amar mar
e de repente tudo é o gosto
minhas lágrimas
felizes
se confundem
com o areia o sal a espuma
meu corpo agora é
crista
de onda
e meu hálito
é sopro
violenta ventania
sou este movimento sincopado
e a onda vai vindo
e volta na correnteza
até se perder
no termo
dos líquidos deitados
e densos...

Una

a gargalhada
de tua maresia
de troça
fez cosquinhas
no interno
de meu colega.

Una

Dois ursos hibernando sob a chuva
puta dor nas costas

de repente

o tiroteiro por sobre a tenda

era a trincheira declarada

Um deles, pãos em mãos,

abriu de leve o zíper da barraca:

- Vamos atirar na chuva , meu camarada,
vamos enfrentar este demônio infrene!

E a bazuca de pão deixou em farelos a Moby Dick-Nuvem.

Una

Previsão do tempo:

No sábado você subirá as pedras,

após passar levemente pela areia de frios graus.

Em seguida, quando quiser subir nas pedras algo jocoso o surpreenderá:

- Tá liso aí, dá pra subir?
- Acho que...

e alguém desliza de bunda no líquen:

- Isso responde a sua pergunta?!

Mais tarde, já no topo do pico
quem sabe meio fumado
um baita frio
e um cachimbo

Chuvas fortes com temperaturas máximas de
aí-fodeu-meu-cachimbo
e mínimas
de toma cuidado pra não escorregar de novo

e médias de

corre que tá chovendo pra caralho!!!

À noite, por sua vez,
o clima será torrencial
a barraca estará mais ou menos quente
se você não tiver esquecido edredom cobertor ou até mesmo toalha

caso tenha feito isso - vá direto para o carro! ; ah , nada como o aquecedor!...-

no outro dia, pela manhã, nossa previsão que dissera que faria sol de manhã , te sacaneará:

vai chover e você ficará com vontade de dar o fora...

mas , como somos condescendentes, abrimos o sol mais tarde para que você não se sentisse tão mal.


Isso também para que você pare de reclamar do Frio (Porque você já tava enchendo o saco!) - contente-se de ter tido a sua única blusa devidamente molhada!

Bem, é isto, aproveite agora o seu dia.

Una

caminho difícil

perdidos procurando a espécie de paraíso

e ele ficava na décima terceira

e mais 20 Km

que a 20 KM/h
(ou por desejo)

significavam pelo menos

a procrastinação do infinito

e continuamos

barro

poças estarrecentes e paralisadoras

a visão da praia ao lado

e o medo que dum capote

aquela visão fosse o carro caindo -

nós nunca chegando

Una

Todo o meu medo
de cidadão metropolitano
estava contido
naquela chuva
de desespero
da tua face azul

pensei meu corpo em resfriado
síndrome do costume poluído
mas tu, que tinhas nos teus lábio de nuvem
que depois de destilar tua enorme saliva
açambarcou todo o meu medo
com o brilho de ouro matinal
do teu sorriso?

Una

Antes de me aconchegar-te
pensei que eras
só pingo
espirro
a contrapromessa de paraíso

E por isto
me escondi
naquela barraca
esperando o momento
em que as tuas gotas

transformassem-se
depois de dias
em lembranças

pelo próprio processo de
evaporação
do sonho.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

a outra vida

Fabíola
naquela noite inusitada
de fábio
era a fábula.
Caí no subsolo
e dei de cara
com Cristo
qual minha surpresa
ao ver que ele
cansado
suicidara-se
e de braços abertos.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Gasa

When I turn off the light
everything seems just like a pond;
embracing in my arms the air as it slips away,
like wild rose petals falling
I feel my pulse.


(Jang Seok-Nam - poeta coreano)



um dia o diáfano pela janela.......e a cortina o dormiu
acordo hoje cheirando pétala...daquele sol que viveu

a ponta da ponte

o que há
depois
da ponta
da ponte?

destino?
selva?
abismo?

ou é só mais
parte
que a ponte
desponta?

filosofias

solar

..................................................no meio solo?

subsolar

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

de óculos escuros e chiclete

tu mastigas qual clarice
a substância de tediosa eternidade
e eu te vislumbro
de longe
o repetido ato de ruminante
e o cíclico não digerir do doce
permeia minha retina
com o interesseiro deslumbrar de surpresa
quero-te
não a carne
o chiclete
me grudá-lo
me melecá-lo
até me prendê-lo por inteiro...

Mas quando sumiste
e não vi mais o incessante movimento mastigatório
onde cupiste
a ideia de eternidade que
tornou-se só breve momento?

ut pictura poesis

olho-te figura
e acho que és
o instante de devaneio
a raiva de seres só tinta
a inveja de eu não poder só ser tinta
e para além disso
o tédio

e depois somes.

tiro

ou eu tento o voo
por de cima da bala
ou eu encaro-a
de peito aberto?

às vezes o tiro sem querer escapa

ou foge.

piloto remoto

o carro vai sendo pilotado

por alguém que não sabe dirigir


o acelerador não pára


e confesso que não quero que pare

quero bater bater bater

me estourar

o carro desgovernado

mas quando surgia a rota de uma rua

não era pra isso :

pra não se chegar em nenhum lugar

para apenas perambular-se?

talvez o negócio mesmo seja só acelerar

- continuar pilotando.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

a princesa

Era uma vez uma princesa que
já era:

cansada do século passado
a princesa dinamitou o castelo
nem pó sobre pó
sobrou
estava só
e nem olhou pra trás
sem perceber
matara o principe encantado
tadinho...
mas a vida continua
e roubou um carro e foi morar no Rio de Janeiro,
cansada que estava de tempos míticos.
vida estrela
ambas passageiras
a menos que não haja vida
ou ainda estrela.

a menos que sob os nomes
só soe ser
e ser é

sem a película do espetáculo.

sábado, 3 de outubro de 2009

4 pessoas numa cama
coxa sobre coxa
dedo na pele da bunda
suruba?
não. mas uma puta dor
nas costas
e o sono não rendeu
a não ser a coluna em 8 dolorida
e pra quê isso?
Estranhos são pra estas coisas.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

um pedregulho.

Ir - rompeu

saudade:

o tijolo solto
sobre barro escuro

que seco
alumbrou a prisca sombra
numa forma de fumaça

- tudo quando apanhei aquela espessa pedra...

...espaço esparso...

Qual foi a duração daquela metáfora ?

quantas alegorias teve aquela memória?

Houve céu?

O tom de azul daquele dia era o idêntico matiz de hoje?

: e


Torno

agora

tornado miúdo
nem quase brisa

vejo este pedregulho:

e ele só pode ser um tijolo
sem os meus rebuscos
sem os meus afetos

- penedo é, rochoso e seco
sem o sol
ou o brilho,
fingido espelho,
que o olho
quer fazer
deste pedregulho.