segunda-feira, 31 de agosto de 2009

sobre o dedo.

suculento...


a boca em bico

no dedo úmido

faz mel na mão

descendo...


o tato pouco.

relando...

o liso

e o
.............. deslize.................


suor

saindo solto

em ecos

impulsivamente expulso

em pulso.


e a lua seu centro de cores
agora invertido

espasmo trêmulo

e piracemas liquefeitas

invadindo os barcos

ancorados em doce malícia...

de inopino

sons subindo

40 dias e mil e uma noites
sedosamente se espraiando

até que enfim
sobre o dedo

resina de sentimento
avulta.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Velôs

rápido

nado contra o tempo
dizia o mergulhador
sem a máscara de ar.

preguiçoso

Preciso nascer hoje? -
perguntava servo o sol
a uma lesma.

estacado

Todas as rodas
de repente
creram o mundo
uma ilusão

os homens perplexos crentes objetivos

assustaram-se

rodas
flutuantes
contemplando
o que será?

rodas em nirvanas?
3 horas com sono
táxis:
suas mulheres bonitas
e seus japoneses

churrasquinho
proust
et la recherche de 20 páginas perdidas
num bar


augusta
vejo anjos subindo
nos bicos dos saltos altos:
são trabalho únicos
- de underwear


um teto um espelho
rádio
quatro vezes
por 60
e almoço grátis
noutro dia

chocolates de sobremesa -
coma, coma chocolates, menina:
que há mais materialismo num chocolate
do que o livro do Fernando
visto da banca

subo literávido até...
a pé.

procuro l'amant na paulista
acho
mendigos
homens de terno
meninos e meninas meio meninas meio meninos
e uma pá de cabelos mulecosos

os rumos:
pernas
carros importados
metrôs
trens
e quando trágicos
ônibus superlotados

me aperto expremo exprimo

ai! a angústia e o deleite estreito do impossível mover-se.

desço, espero
sou apenas um homem sozinho
numa casaca azul
no risco do
sem o passe um impasse

São Paulo
a resposta que me dás
é esta:

o silêncio do perambular
o derradeiro gole perdido
no sol do meio dia

entornou ontem
à noite
da urina.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

do pó vieste.

a água
bate
na rocha

tanto bate até que - : fura

fura
e
esfacela

úmida:
não se vê
a pedra pó límpida

mas ela
lá está
nova forma
espécie
de lama.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Ps:

Ps: Não adianta. Você nunca saberá o que estava escrito no bilhete. Na verdade, branco que está, você não saberá nem se foi escrito algo. Procurará nas bordas, nos vértices, nas entrelinhas e -cadê elas?- a possível mensagem - onde estará a mensagem? Talvez pense até que tenha feito algo errado, apagado sem querer, jogado um outro papel que pudesse estar junto e com a informação. Porém, te conto, você não vai encontrar nada. vai revirar, achar que alguém fuçou, que um de seus amigos escondeu o bilhete e nada (pois você já nem sabe onde andam seus amigos) - ops... e se um quisesse entrar em contato contigo exatamente agora? - Talvez alguém de quem quisesse... mas vai ficar querendo. Por quê? Descuido seu? Alguém te prega uma peça, mas como é que você vai saber? Bom,vamos adiante, quem sabe nele constasse a história de sua vida - em poucas linhas. Melhor, uma linha: e todos os problemas seus (do mundo?) resolvidos - uma linha e deus. Ah , você é ateu... uma linha e a confirmação geral de que deus não existe... mas ateu não se importa com isso. Ok, deixa eu ver seu caso. Bom, uma linha e... esqueçamos a linha. Peraí, me embananei. Voltemos, então,
podia ser um bilhete super importante de alguém que se acidentou. Você é ateu, mas é sem coração? Tá bom, tá bom, você é difícil... (bom, pelo menos agora justifica-se porque você não encontra seus amigos, alguém se acidentou e você não está nem aí...certo certo...sei...sei...) Mas, vamos te convencer. É isso mesmo, você será convencido de que um bilhete tem importância. Por que alguém deixaria um recado se não quisesse que você lesse? Será que alguém seria tão comediante assim, deixar o bilhete só pra te enlouquecer? Vai deixar a coisa aí em cima da mesa e não mais olhar, vai por no lixo? está bem. Mas e se amanhã alguém passar aí e te disser que deixou uma carta importante e que o lugar que continha o escrito estava exatamente onde você não olhou? Chega , chega , chega, que perseguição,né? Que preocupação - é só uma porra de um bilhete... bilhetes são recadinhos rápidos, se fosse algo importante teriam me ligado. Mas você não pagou a conta do telefone, pagou? Não se lembra, iiiii... o bilhete parece ter um peso maior, não é? Quê, celular? Faz 6 meses que você não tem mais celular. é. e agora, josé , joão, paulo, pedro ? quem mais? Já pensou que pudesse ter uma informação preciosa no bilhete ou dinheiro - pois é - e alguém passou e levou junto com o bilhete e por isto é que você não viu nada?

Preocupe-se. Até ateus tem suas dívidas pra pagar. O seu deus, meu amigo, pode ser o banco , sabia?

Mas peraí, estava brincando, lá vem o bilhete.....................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................não se cansou dos pontos ainda?........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................
Não, o bilhete não está aí , mesmo. Eu sei que você vai sofrer com isso. Mas a vida é assim. odeia essa frase? tudo bem. A vida não é assim e independente disso, você vai se ferrar mesmo. E espero que por causa deste bilhete. Ah, você acha por acaso que eu sei o que está escrito neste bilhete... então venha me bater, quero dizer, se puder me achar. Difícil, né? E quem te garante que fui eu mesmo que escrevi esse ps. Ele pode simplesmente ter se materializado - esqueci que você não acredita em abstrato e nem na história da virgem com filho do céu. Olha, nem eu. Mas esta carta bem que pode ser assim, mesmo sem o transcendental. E só por sacanagem. Ou não. Eu quero mesmo é te importunar. Ok, é a carta mesmo que quer te zoar,você já começou a acreditar nisso? me diga, ateus acreditam que os objetos têm vida? Tá bom, foi alguém. Meu nome então é " ". Gostou? Coloquei até as aspas pra evidenciar mais as curvas oblongas. Agora você tem mais opções. Posso ser o vazio,o branco da folha o nada com aspas, a carta, ou ainda um safadinho te sacaneando...ou nenhum, ainda há a possibilidade de você se converter, o que acha? se você quiser posso ser mais formal... aí você pensa que algo do governo. Ilustríssimo, por obséquio, o bilhete deferido não consta dentro do universo de entendimento da cláusula tal número aquele de cuja a legislação nem sabe qual foi qual é e o quê mesmo? Leia a carta ainda assim! leia seu maldito! Leia o nada em branco, ou te esfolo! Ameaça abstrata é... como você pode saber? E se eu simplesmente apareço e te dou uma porrada? Posso estar te vigiando, sabia? Calma, calma, sem paranóia, pode ser só uma brincadeira de mal gosto alguém deve estar me sacaneando eu estou pirando com este bilhete desbilhetado... alguém quer me ver pirando...sim , eu já larguei ele em cima da mesa eu já pensei em jogar ele fora, mas não tive forças, meu deus o que faço! E apela pra deus agora , danado? e a convicção do ateísmo - não era você que não pensava nisso, que nem sequer se lembrava de que um dia sua mãe quis você na igreja? agora grita, berra, urra por deus... você é uma bosta, hein? Contudo, beleza vai, eu deixo passar esta, só porque... eu sei lá o por quê? Porque eu deveria ter sentimentos ou qualquer coisa com você? Porque eu deveria pensar em você? Espera, eu penso? Estou quase caindo na metafísica do quem sou eu... iiiii, deixe estar, que se isso começa fica séculos passando,viu... e nem importa isso daí, de verdade. Verdade, sim. Você não está sonhando mesmo, pode esquecer e nem está pirado e nem é o seu subconscicacete a quatro que está te fudendo a vida, não, meu caro, a coisa tá acontecendo e como explicar? É preciso? Deve ser deus. Opa, e agora sou eu que falo de deus, sem problema, porque pode ser que este eu agora seja outro e não haveria nenhuma contradição. O importante é que você saiba que nunca vai poder dizer "você se contradisse", não eu não fiz isso. Não me acuse, pode ser que você esteja pirado, esquizofrênico. Mas eu não te darei o prazer de saber isso, nem mesmo de suspeitar - te digo, eu estou aqui sim, independente de você gostar ou não. E você não vai se livrar de mim. Tudo bem, fugi do meu caminho, concordo. O negócio era o bilhete. Sim, era.Iiii, é verdade, o bilhete que você não leu , né e nem sabe se um dia vai poder ler, né? HAHHAHAHAHAHAHAH. Ai tenho tanta pena de você. Vai vir me bater, vai rasgar o não bilhete? Mas quem disse que estou escrito em papel? Quem disse que estou fixo em algum lugar. Você é materialista, né? Perdão, está imprimido em algo : no quê ou como - isso, quem é que vai te dizer? Eu não, que eu não vou com sua cara, ou vou , mas e daí, isso é motivo? Outra pessoa? tá bom. Mas pessoas mentem, sabia? Você vai, confiante de ter visto o ps escrito e quando menos percebe perdeu sua vista ou ainda - não acha nada. Daí, duas neuroses, a bilhete que você não acha e o ps que você não acha fisicamente ou escritadamente. Opa, mas perái, não há voz também não, engraçadinho... achou que eu ía deixar isso escapar , né? Não vou , não vou, não vou. Não gosta desta imitação de criança, mas e se eu for uma. Não, você é muito erudito pra ser criança... e quem te garante que uma criança não possa ser erudita?... é as crianças não são. Ok, mas seu eu for um alienígena, as coisas mudam , não? E já te digo, não sou. Se fudeu. Não consegue mais nenhuma hipótese. Tá com medo? não não, eu não sou o bicho papão. Nem pense nisso. Sabe onde eu estou, vou te contar... VÁ PROCURAR, SEU VAGABUNDO!HAHAHAHAHA. ah... tá dando uma de quem não se importa, está bem. Mas por mais que você finja ou não se importe o bilhete está escrito, e não está, mesmo que você não queira acreditar nisso, mesmo que você não queira ver. Materialismo , de novo, certo certo...o bilhete nem existe, certo certo. Mas se houver consequências, não vai dizer que eu não te avisei e nem me culpe. Mesmo porque você nunca poderia. Será que você está morto? Não, não está. Ou será que te deixo com a dúvida, nem. não tem fim isso tudo, tem sim. talvez seja ou não ou quem sabe - é o fim... não,sim? Já vi que você nem entendeu nada, né? Eita, viu... tá bom, deixa eu te explicar de novo...

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

quando é que o álcool suíno
virará crise de K-Y?

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Polêmico

um belo dia
descobri
que meu nome
na praça
causava
alergia
à algumas plantas
e a outras
dava vontade
de respirar.

qual surpresa
a minha
ao ver
meu lenço
no nariz das flores alérgicas
e o meu dedo
esgoelando
o ar das plantas sadias.
tudo passa

1
se não passa
a gente enrola

2
se não passa
a gente não liga

3
se não passa
a gente coça

4
se não passa
a gente cochila

5
se não passa
já era, já foi
quando mesmo?

6
se tudo passa
passa
e se não passa
a gente já ultrapassou.
só um adolescente
só um adolescente
pode ser
convalescente

como não estou próximo disso
e nem sequer afastado
vou me ensinando doente
a não buscar a cura


que quem depura quer solução
e o que sou senão
a insolubilidade?

águas caiam
de chuva
um espirro
me morda

ainda assim
flutuo com pés firmes
tá doendo pakas
mas estou vivo.

isso deve resultar em algo- em nada.

uma busca é chata
é muito rebuscada
que o que fica de bom é preguiça e a perda -
sem se precipitar no rio dos suicídios
mas nas areias e correntezas

daquela praia ali
virgem
louca
inusitada

e que quase afoga
só de olhar.

Bronquite

trinta e três
trinta e três
trinta e três

chá?

Homeopatia?

vamos tentar a inalação?

Berotec 10 gotas
Atrovent 20 gotas
mais lavagem nasal

de 6 em 6 horas
por 5 dias

taquicardia

mó tremedeira...

e sem o tango argentino.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

vento vai e volta
há 4 ou 5 meses
frio febre gripe.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

sou bobo
piada
e inútil.

só assim,
sem a série
séria

é que fui aprendendo
ser nada
ou qualquer coisa.

essa é a minha tola folia.

fogueira

1
apenas olhe o fogo
não pense no que faz
apenas olhe o fogo

2

rangido de ruídos
fagulhas de faíscas
apenas
...........olhe .......................o fogo.

3
farpas faíscas cinzas
a madeira cai na estrela
apenas olhe o fogo

4

ziiiiiiiiii
pract pract
a tora racha
apenas olhe o fogo.

5
azul madeira
palha e laranja
matéria
apenas olhe o fogo.

6
o sol sai
o sono vem
tudo noite num tronco
apenas
apenas olhe o fogo
................................a cinza.

sábado, 15 de agosto de 2009

Haibun - paisagem.

saída para nowhere. o chão desliza nos pés assim como o céu desliza na terra.tocamos o asfalto com cheiro do tempo já passado. Não vi uma reta ao seguir para frente da rua, nem uma reta ao olhar pra as minhas costas. A rua era como um escorregador circular, girando como um carrossel e uma roda gigante. estendi meu nariz afilado para frente - o nariz estava em minha nuca. Retrocedi ao dito futuro, o nariz estava em todo o meu rosto, no chão, céu, em toda parte. Tudo fazia parte da mesma mucosa sadia.
Tentei o espirro. Com ele, o quebra cabeça se rearrajou. Quando percebi eu já não tinha pernas e o céu saía de rolê, de ponta cabeça e com as mãos da terra, no fogo do oceano.


o louco em nirvana
e sonha com o normal
da múmia do mar.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Apenas isto.

ele ficou esperando na porta, enquanto o mármore era montado. A arquitetura do corpo feita. Apaguei tudo com aquela areia branca que suspende o nome de face ao rosto. o lábio saltou-se, com suas bordas sensuais fingidas. eu era uma peça. Uma escultura acabadamente lapidada. meus braços, esticava-os, os músculos molescentes. Dissimulava o que seria um abraço de entrega, um corpo de entrega. Buscava o vestido, verde, azul, vermelho - pensava na possibilade ilusória e sugestiva das cores - ele me veria? ele me veria, debaixo das cortinas? enxergaria o apartamento, a bagunça, aquela poeira quase fugidia, escapando por debaixo do tapete de veludo levemente rasgado?

o ranger da porta uníssono ao ranger dos dentes.

o amor uniu-se a raiva.

Eu o queria, mas como deleitá-lo com os cabelos mal arrajados, sujos, as mãos oleosas, sem creme, com o cheiro de gordura contido nelas, as pernas em pêlos ásperos e a face recém dormida, amarfanhada, presa ainda no desalinhado formal do sonho?

e me questionava, para quê agir assim; para que doar-me com o compromisso de ser outra, a quem sabe boneca aceita, com seus esgares perfeitos, seus trejeitos angulosos, e a pretensa bunda sempre arrumada, sempre modelada, simplesmente porque ele não pode me ver, não pode me conhecer, não pode enxergar as dores, os pequenos estupros - de sapatos, de maquiagens, de preocupações...

e pra que estas preocupações... pra que ele? O mundo parece se medir em dois, dupla, casal, e com a falsa promessa de que tudo o que é divisível vem em par. Vem e vai e tudo é sem par. O mundo em si, é ímpar.

e será que não é isso? pra gostar do mundo realmente não seria melhor esquecer este apenas homem ? Para poder gostar de um pássaro ou mesmo daquela samabaia ali, deveria fugi-lo. Mas agora ele já está ali, perene, rígido,com o seu queixo sobre as mãos, intencionado, esperando, esperando que eu me arrume, promessa de uma possível satisfação pessoal dele... e onde estou nisso tudo?

Ele é a nunca humanidade. e é a partir dele que devo me saber, eu, que nem mesmo sei o que significa a humanidade?; e o que é pois a falta dela ou ela inalcançável?
E o que devo dizer a ele? mandá-lo embora, confirmação de meu cetiscismo? Ou devo deixá-lo entrar, ir ao banheiro, tomar um copo d'água e ver os seus olhos sedentos...
seus olhos de mendigo no último dia de vida... e ainda, seus olhos vadios de cachaça.

Nunca. e me deixar agora neste inútil jogo? O que pode ser ele, sozinho comigo no escuro? E eu , o batom na cara, manchando, o suor no corpo, o cansaço, o que mais? o amor e a tristeza... e o abandono de não querer um dono, de querer ser eu mesma, quem mesmo? eu mesma, seja lá quem for, mas sem ele, sem a preparação de mim para ele ou para o que ele possa me dar... eu, nas minhas rugas sadias, nas minhas gorduras, na minha tão desvairadas banhas e desleixos estéticos. Eu, sem os cabides, fora do armário, da gaveta, jogada no chão, carcomida, com os fios velhos soltos, eu blusa desbotada, no meio do jogo de cama desalinhado e desconexo das ordens de estar acordada.

mas e esta insegurança? esta insegurança de não ser aceita? a rejeição, a negação, a solidão, todos estes sufixos pesados ecoando na minha cabeça... estou entre ele entrar e eu jogá-lo pela janela... se eu aceitasse simplesmente a queda, eu , irresoluta, sozinha, sem os olhos dele pra me dizer "linda", eu, porca, em arrotos e peidos, eu,eu, eu colocasse pra fora toda a presença enclausurada de homem de dentro das minhas veias... seria assim mulher? ele morto. eu, alguém?

Não sei. mas ele quer se sentar. e eu o observo. admiro seu nariz, a pele do rosto esverdeadiça de barba, o cabelo meio penteado, meio desalinhado e os olhos subversivos... como ele reagiria se eu mostrasse que essa aparência de meia desaventura que há nos seus trajes simples, uma calça, uma camisa, é tão minha quanto dele? se eu mostrasse a ele que uso o vestido, mas que no fundo estou nua, numa nudez imperceptível ao seus olhos tão diretamente direcionados ao amor e a todo o futuro que podíamos ter juntos? e que futuro seria esse, eu , mãe, filhos? eu, ele, uma mesma casa... eu , ele, e ter que vê-lo ir ao banho, sua barba sendo feita, sua escova na boca e sua pose de rei e meu olhar em sua urina?

Hoje nem senti o ontem ainda. Sua vinda, a aproximação, sua conversa, minha bebida. Sim, ele às vezes parecia idiota, meio bobo, meio fajuto. Mas eu o queria assim, imperfeito, tolo, inútil... queria-o como a fraqueza, como um vazio busca um outro... ele tinha a reação da minha desesperança, ele era o desesperado, o desconfiado, o cético, era como a ponta do meu cigarro - apagada, sem acreditar que o fogo que consome, seja levado para além de sua fumaça e de sua extinção esvoaçante de cinza.

naquele dia dormimos juntos, sem sexo. Apesar de querermos muito. Mas talvez tenha sido o álcool... sei lá, sem justificativas. Não sei porque às vezes quero ficar me justificando das coisas... é esta coisa deste sentimento de culpa...chega, chega de convento... aconteceu. simplesmente.

mas e como dizer agora que ele entra. que quer ele? a mim, meu corpo, uma palavra, uma conversa, uma relação, apenas uma bebida e uma tragada e ir embora?

não...ah... não estou pronta pra isso.

Está sobre o sofá. e fuma. já me sinto um cigarro morto. ele brinca, me deixa livre. falo palavrões... isso o atiça. ele pensa que sou alguém a mais, pensa talvez que eu não seja puritana. Bem, não sou. Mas não sei se o quero com a ilusão que ele queira. Bem, eu me iludo com ele... o que se passa em sua cabeça quando ele me olha. Ele me quer, ele me vê... ou será que toscamente só vê aquilo que quero que veja?

Quem sabe. prefiro nem pensar nisso. Mas não paro... tudo gira em volta dele, mas no fundo, gira é mesmo por dentro de mim. Sou como um ventilador que jorra vento pela frente e verso.

Ah... que se foda. Pra que pensar tanto nisso? vou me aceitar isolada... sozinha no mundo? O que é o mundo senão isto - um conjunto de solidões que se passam e dizem bom dia? E ainda bem. Sozinha é algo ainda lucidamente insandecido.

Conversamos. horas e horas. Pronto, ele já sabe de tudo. Minha infância, minha meninice, minha face adulta. Mulher. eu o quero e estou ao ponto de escurraçá-lo. Não, ele não foi mal ou bem educado. Não, ele não foi detestável ou alegre. Ele foi o que foi e este é o problema... ele não pode ser meu niilismo. Ele não pôde significar nem mesmo o nada pelo qual transpasso como água. Ele não teve o sono sereno de que tudo é insignificante e, ainda, vivo e intenso como um sonho. Ele foi só aquilo, um homem diante de uma mulher. A realidade, um relez.

Creio que podíamos os dois estarmos mortos agora. Ele me olha, olha a a borda da janela - ambas ferrugens. eu vejo seu rosto pálido... converso com um defunto. Se eu o convidasse para um suicídio, ele toparia?

franzino,frágil... mas, para além disso, eu queria devorá-lo com a suposta correspondência de quando uma mulher beija uma mulher. No entanto, ele não saberia dar resposta a esta tentativa. Eu pularia, ele ficaria lá, contemplando - teso e sem palavras. ele levaria como brincadeira. Não entenderia. É uma pena.

E quem gostaria de se suicidar? Enfim, nem isso valeria.

Ele vai até a janela, batuca os dedos. Joga um pouco da cinza no vão do vidro. a cidade no vidro acendida pelo cigarro. sigo-o. meus olhos na cidade, sua chama em meu corpo. A escuridão no estopim das luzes... a cidade é concreta, áspera e dura, e é tão bela... que são as estrelas diante da carcomidesas da cidade? Lá se vai uma estrela derruída pela descrença...e ótimo. O fogo rechaça a cidade, queima os prédios, deixa tudo em cinzas, o vidro aumenta a iluminação de tudo. meus olhos nítidos, os olhos dele estacados e famintos. O mundo em derrocada. Eu o observei, o fogo consumia, ele me puxou os olhos pela íris, não éramos mais mulher, homem, éramos disso nada.

E nos consumimos. destroços de vidros no chão. bebidas sobre tapetes, litros decadentes apodrecendo junto ao cheiro de frutas fétidas sobre os azulejos gastos. os cigarros e seus fogos perto das peles, perto dos pelos, machucando e dizimando. calmos... violentos. loucos.

e o sol saiu. lento. em compassos ritmicos de luz. Já acordava de novo e ele pedia licença para ir embora. Calamo-nos. Fora aquilo, fora agora. E ele partiu. Não havia mais interrogações. Se aquilo fosse amor, o amor seria então só aquilo. Um pássaro negro deitou no meio da janela, quase morto, acariciei seu bico e ele me mordeu. sangrei. Sem dor, fui buscar o gelo. apenas isto.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

1:00
santa purinha:
dai de beber
aos mendigos porque é deles
o vômito mais honesto das ruas.

2:00
o brasil plurilingue
mas o copo acaba
com a torre de Babel

3:00

foi o pileque
que rompeu o leque
do meu sapato

4:00

saí voando
pro chão
da pista
quando pousarei?


5:00 am
e o tiozinho vende
balinhas e mm's

6:00
café da manhã
antes do sono
o dia come-se antes de acordar.

ode ao ódio

Como pude ficar tanto tempo miseravelmente sem o meu ódio
seguindo de angústia a angústia
negando o poder destrutivo de cada uma delas
e simplesmente aceitando suas consequências?

Quanto tempo tive este chumaço de algodão nas mãos
e falei a língua lhana das ovelhas
e fugi para trás do pastor
quando temia
e queria abocanhar com presas
todo o alimento maligno
toda a bile sangrenta
que reveste as coisas?

Quanto tempo escondi
como envelope de meu prórpio corpo
as cartas endereçadas de morte
permeadas de facas espadas lanças
setas que cruzassem
com as palavras mais suaves
e mais violentamente dolorosas
todo o corpo do nêmesis
sua sede fraca e politicamente correta
de acertar-me o tapa
enquanto que desejava
alvoroçosamente
os pontapés edificantes no saco
os murros na goela do estômago
as voadoras dedos afiados interceptando desbragadamente
a orla inexpugnável do cu?

Sim, quantas vezes?

Quantas vezes me fiz de vítima
e olhei para a sombra dos atos
como se minhas pernas corressem as consequências todas deles
como se meus pés negassem pisar a merda inconsequente do mundo
e minhas unhas não aceitassem
o vazio incólume do chão?

Quantas vezes?
Quantas vezes me fiz de esquivo
e chorei
ou abaixei os olhos
e deixei a afirmação de uma tristeza
moldasse como que um corpo para si mesma
e andando sempre
com o corpo sobre o corpo
deixando toda chaga
toda ferida
no laço dos nós da pele
nas minúsculas porosidades dos ossos
na imperceptível dureza do sangue
de outro ser
que não eu;
e sofri e sofri e sofri como um tolo
achando que o universo
doía por entre minhas calças
no vão da pele pela roupa
nos suores que já escapavam ar?


Quantas vezes me fiz ingrato
e blasfemei
e perjurei
e atirei pedra a tudo
sorrindo fingindo amando
enquanto , na verdade,
tinha meus espinhos por cada átimo de movimento
e o vento que me circulava era como um arbusto de pedras reluzindo
por entre as trevas
a necessidade de ser mau
a vontade de roer os pós como a onda faz da areia
sua eterna escrava de ataques em cadeia?
Acaso não fui apenas fraco
irascível
e sem a raiva adequada
só a vontade de vingança
moendo
como a vaca comendo as tripas nascidas com o bezerro
mastigando tudo
sem nem dimensionar
que come ascosamente seu próprio dentro?
Quantas e quantas vezes?

Mas e agora, como tudo é diferente...

quando depus minha espada de gume retrocedido
e estiquei seu fio pustulento
num pequeno furo ao desafeto
quando coloquei a culpa de lado
e notei que no ataque não se pensa
não se reflete
não se discute
apenas se encerra o golpe
e espera-se seus efeitos
contragolpes
contrataques
à contragosto do mão pavorosa do inimigo
que já enlaça o punho
querendo devorar o cérebro
tomar o coração na sola e esmagá-lo com o amor maior de ódio
e cuspir
não respeitar
deixar de lado as convenções burguesas do cumprimento
da saudação nobremente cortês
das lutas educadas e uniformizadas das academias
e abrir o espaço para a porra da porrada
para a saraivada de tiros no peito e o peito sem camisa
esticado e aberto
sem medo da dor do tiro
mas unio aos dentes
na emoção sardônica de achincalhar o que me fere
com ironia
de aceitar os fatos
tanto a emoção do que mata
quanto a voluptuosidade do desprezo...
do ignorar brincando
temendo a morte
e ainda beijando-a nos lábios
e acreditando que tudo é bom
necessário
que tudo faz parte de um longo processo
de inumanidade

esqueça-me o iluminismo
deixe apenas esta fezes
deixe apenas esta chaga exposta
deixe apenas a batalha
e o sentimento de vitória
e de derrota
deixe
que ambos me alimentam
e fazem de minhas veias
cordas esperando
o momento ideal da forca
de tudo o que tiver pescoço
e ainda daquilo que não houver.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Minhas minhocas.

De súbito surgiram aquelas minhocas. Cavando túneis, colocando húmus. Elas eram escorregadias e moles.

Elas surgiram no ano de 2015, mas o tempo não se lembra se a data precisa era esta. Surgiram, melhor dizendo, ontem , hoje, amanhã - surgiram de repente, de verdade, ou de ficção. Ou, mais ainda,de história.

E elas, sem olhos, continuavam a cavar, inertes e alimentavam minhas plantas.

Imperceptivelmente, por debaixo daquela ostentatória beleza do meu jardim forjado, ninguém via, e as minhocas trabalhavam sem nem saber que o faziam, pois eu as havia enveredado no caminho certo, limitando o espaço anelídeo de suas vidas.

Elas eram cegas e livres, no pequeno trecho isolado do meu minúsculo jardim.
Elas eram livres e cegas para trabalhar. E para mim.

Quando uma delas ganhou olhos e um glândula de asa, eu já tinha um lago.

Os peixes se alimentaram bem naquela noite.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

elogio aos toscos

Ah...
como é bom ser um chucro
chocho
tchongo

como é bom ser chinfrim
tonto
songo mongo
cabeção

ah...
debiloide
mongoloide
e simplesmente bobo

ah...
como é bom ser
tolo
burro
besta

ah...
ser tosco
babaca
boqueta

ah...
chulo
doidim
demente

ah...
estranho
idiota
doente

ah...
dom
bom
que é
ser otário e ter chulé...

ah...como é
não ter seriedade sequer.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Não vejo o tempo como eterno

talvez eu diga

amanhã faremos algo

assim como disse ontem


ou talvez

eu amanhã já nem saiba

em que bolso do espaço caímos

ou onde foi parar

os miúdos do passado

que levávamos numa quiçá valise.


Não vejo o tempo

com cara de tempo

e nem sei se a água do riacho

já passou

passou

passou


ou se ela sempre esteve passando sempre diferente

e sempre igual

ou nem um nem outro e os dois ao mesmo tempo.


Pra ser honesto

nem sei se acredito nesse negócio de tempo

eu acredito quem sabe no segundo

na hora

no dia?

Isso é o mesmo que acreditar na vida?


Não me importa mais a questão metafísica.

Deve ou não existir o tempo.

Tudo bem, está bem.

Olho relógio:

seis e sete

- Que coisa, o tempo passa, não é mesmo?

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

escovo meus dentes

tomo banho

penteio meus cabelos


e em quanto acreditei
sem nem mesmo perceber
que estava no meu corpo
todo um idealismo de progresso?

A imaginação de estar mais vivo
já no hábito imperceptível
de uma história
que rearraja atividades
erige novas necessidades
forma naturalidades

(hoje olho e olho
e me sinto ridiculo de achá-las
e não achá-las

normais)

será isso a utopia?
e me lanço nos espaços longíquos?

e o que sou hoje não será senão
a âncora que se perde no fundo;
a distância próxima do celular?

É trágico
o nosso destino
de não encontrar nada
e ainda assim
tomar a escova
o banho
o pente
e sentir-se mais belo

tudo por no próprio ato de viver,
banal e em certa forma,
condicionado,
agirmos como que trazendo ao mundo
mais do que nosso corpo
algo quem sabe de organismo organizado -
nossa literatura de carne para todos
nossa imagem abstrata que sugere conceitos

de estética

de valor

de ideologia

e quem sabe também o medo do fim, só chão,
falseado,porém, na convivência com os detalhes burgueses mais inúteis?

sim, sociais somos,
sou.

e tudo porque não se pode ser somente
biológico;

e porque vive-se num apartamento
em meio a objetos e adornos
que me olham e dizem

- e você ainda não tinha percebido isto ?