sexta-feira, 31 de julho de 2009

Samba

à Oswaldinho da Cuíca.

samba

palavra para oração

do corpo


o corpo

música

bambolejando o bambo
bombásticos bumbos
os bumbuns

pés em sapatos tamborins tântricos bancando em bate-que-bate

cuícas corando

e cantando e cantando e cantando e!

e cantando e cantando e cantando e!

as coxas charchalhando
chanchando chacoalhando
xiriquixiquis de chocalho

as costas como varas
e os ossos sétimas ressonâncias
zunem sibilantes os harmônicos
violões com setes cordas

e os cavaquinhos tiritando
tirlintando tiriricas as canelas
tiritando

como apanham os pandeiros
pancadas pencando botando bronca
balindo bicas debandantes
são como palmas

e até a panelinha
meus parabéns
pelos pérererens perenes
são tal estalos
de dedos múltiplos

e os recos marrecos que regam
são pêlos que suam ao seco
ásperos rasgantes roendo roupas

o samba

enredo
de toda a faceirice
do sorriso branco maroto
do chapéu sobre o cachaço maduro
sapato jaleco calçado
brancos
por dentro vivaz e ligeiro
o negro alegre e zanzeiro
vai bem
e vai bem mais fundo...

O samba
na veste
na pele

sabe mais é quem samba

é crença
que canta
que dança
que zanza

música saída em forma física
e se balança.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

re-côncavo

arraso

a rasa

rasura

raspo

rasgo

racho

a finura da fissura.

fixa

na figura

ela firula

e fagulha.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Jean Jacques Sans-cervell e a high society

Jean andava distraidamente, o que, em língua de jornalismo,
significava que ele estava dissimulando. O que ele procurava, de fato,
era um furo, porque no fundo, todo repórter se assemelha muito a um
estuprador.

Bem ele sabia que logo encontraria algo. Quando menos se espera, se
espera muito e se ficasse demasiado tempo sem encontrar alguma
matéria, forjaria uma rapidinho, pois, quem aguarda a vontade de deus,
do cosmos, ou de qualquer nome que valha, termina sem salário no fim
do mês. E Jean andava meio magro demais e seu estômago ventrilocava
exageradamente, ultimamente.

Retirou, então, um lápis do bolso, imaginando qual notícia absurda
estaria na capa da revista semanal. No entanto, todos os seus amigos
repórteres já haviam se esmerado em criatividade naquela semana e
todos os acontecimentos mais violentos ou chocantes ou já tinham
(supostamente) acontecido ou era Jean estava sem ideias naqueles dias.

Bom, não é sempre que se pode ser artista e exercer a arte de inventar
a realidade. Sans-Cervell decidiu, desta forma, ir atrás de uma
matéria. Qualquer uma valia, desde que se assemelhasse com a realidade
inventada de sempre.

Foi quando cruzando uma rua, qual rua mesmo? E isso lá importa? Tenho
certeza que não é o que se quer saber. O que realmente é importante
para este texto aconteceu, Jean encontrou um evento. Deparou-se,
assim, com o Toreador’s Hall.

Alguém da nata da cidade parecia dar uma festa. É lógico que todo
mundo sabia do acontecimento, mas Jean, por sua vez, passava tanto
tempo tentando criar alguma coisa interessante para os leitores de seu
jornal que, por vezes, esquecia-se da vida ela mesma.

Chegava a pensar intermitentemente que toda a teoria evolutiva era só
balela e que, na verdade, as coisas só existiam mesmo porque havia um
jornal capaz de produzi-las por geração espontânea (ou bem dizendo,
depois de certas rasuras, que nem os deuses são perfeitos).

Contudo, havia um problema. Como faria para entrar?
Deve ter sido a Providência ou a Coincidência, (ou só a vontade do
narrador ou de um observador quântico de que os fatos aconteçam) que
surgiu de chofre. Num carro extremamente luxuoso, seja lá qual for,
uma senhora bem idosa saía ao lado de seu neto, adolescente.


Era a deixa. Seria fácil. Só se aproximar e pimba. Mas não foi tão
simples... Apesar da elegância dos trajes e o semblante quase que
caindo de maduro, a senhora era boa de briga. E digamos que o netinho
lá não era fragilzinho. Jean teve algum puta problema. Por mais que
tivesse conseguido empurrar a velha e seu neto para um canto em que o
pessoal da festa não olhasse, ele sabia que precisava ser rápido,
antes que os gritos que ela dava chamassem a atenção de outras
pessoas.
Consigo, ele pensava nas demandas sociais de respeito aos mais velhos
e em como eles possuiam a sabedoria adquirida pela experiência.
Pensava também na juventude, ah a natalidade revolucionária... sua
intensidade de vida, sua capacidade de mudar o mundo... ah idosos e
jovens de mãos dadas como num círculo viconiano, nada mais tocante...


Realmente. Tocou mesmo. A juventude quis atingir por baixo, a velhice
por cima. Quando Cervell viu, lá estava o encontro magnânimo das
idades vindo em sua direção. Uma bolsa tentava atingir sua cabeça,
enquanto que o maldito mulequinho gremily, tentava mordê-lo por trás e
por baixo no mesmo golpe.


Por mais que Jean tenha conseguido se esquivar, vai por mim, ainda
assim doeu. E ele retentava uma ação, com insistência, era aquilo ou
passar fome mais uma semana.


Só que não havia jeito. Quanto mais ele tentava acertar um golpe, mais
a velha lhe agredia com sua bolsa pesada, girando-a qual massa medieva
em sua direção ( a mulher parecia , de fato, um viking ogro e cheio de
pêlos nas axilas, só que trajado no melhor requinte da high society da
época, por ironia histórica). E Jean Jacques buscava se esquivar
daqueles ataques de pura velhice em forma, tão em forma que a velha
chegava até a cuspir nele, pois babar como um cachorro louco era pouco
para aquela velha ensandecida. Ela precisava pustular pela boca,
soltar toda raiva escondida por debaixo de suas vestes, mais peles do
que roupas, uma vez que a sensibilidade pode se acostumar a tatear as
coisas sem perceber realmente texturas ou temperaturas, ou dizendo de
outra maneira, percebendo-as, mas demonstrando-as com as melhores
formas e cores, aptas a se adaptar até o ponto de agradar a vista dos
outros.


E o muleque não fazia diferente não. Debaixo daquele terninho, só
queria dar uma trivelada no dito-cujo de Jean, que fazia o máximo para
se esquivar. Neste caso, talvez fosse o excesso de video game que
formasse no garoto a constituição mental adequada para copiar todos os
ataques de seus personagens favoritos, o que o fazia, às vezes, fingir
estar jogando bolas de fogo no ar, coisa que, se não fosse pelas
bolsadas que recebia, produziria em Cervell o desejo de trazer o
menino para a realidade – com uma boa sova.


De repente, a velhinha ficou com o braço cansado e vacilou um ataque,
o que proporcionou a Jean o imenso prazer de passar por ela,
achegar-se ao muleque, dar-lhe um chute, e retirar-lhe das mãos o
convite, na porrada, que é a expressão máxima da finesse: nada tão
natural e fino do que poder se expressar com espontaneidade.


O garoto tombou no chão, como um anjinho desalado, cena quase pia. Sua
avó, então, foi tê-lo em seus braços, cena quase bíblica. Após
sustentar seu neto no calor de um abraço protecional, ela olhou para
Sans-Cervell. Antes que a raiva pudesse maximizar a vontade da velha
de transmitir o amor doce de um abraço para o mundo e estrangular
Jean, este, sem saída (e sabendo que ela merecia) bicudou a cara da
velha, com o mesmo amor doce que os chutes provocam entre os
gladiadores. Cena linda, aquela.Jean a deixou mais bonita, ao roubar o
terno do rapaz. Pena que Jacques não pudesse observar mais tempo
aqueles dois caídos, deitados um no outro,o garoto quase nu, numa
reunião de família angelical (ou será que sugestão inconsciente de
incesto? - vai saber, não sou o crítico literário para sugerir isso).

Jean, finalmente, dirigiu-se à entrada do Toreador's Hall.

Aquele que parecia ser o porteiro, recebia os convites de todos, no
entanto, quando Jean decidiu passar, aquele homem alto, bombado e com
um sorriso de “eu não te conheço e logo vou te dar porrada”conteve sua
entrada.

- Você sempre vem aqui? Eu nunca te vi.

Jean acreditou que aquilo pudesse ser uma cantada. Por isto, sorriu
levemente e prosseguiu mais um passo rumo a sua entrada. O outro,
porém, esticou o braço gigante e disse, a voz tonitruante:

- Se eu nunca te vi... é bom que você tenha um convite.

- Com quem pensa que está falando! Quer ver meu RG?

- Era exatamente o que eu queria saber. Sim, por favor... o RG.

Jean retirou algo do bolso. É claro que não era o RG. Na verdade, era
uma nota de 1 dólar. Ele entregou ao porteiro.

- E veja bem, eu quero meu troco, viu! Não queira se fazer de
engraçadinho, que eu levo estas coisas à sério!

Sem que tivesse notado, contudo, Jean havia entregado junto com a
nota, o convite que roubara do garoto. O guarda olhou.

- Está certo, Sr Charles. Mil desculpas. É que faz muito tempo que não
o vejo. A última vez que o vi, o Sr. Era deste tamanhico aqui ó, quase
um bebê. Nem falava direito ainda, mas já era birrento. Mais uma vez,
peço desculpas. Sabe como é, o que tem de entrão nestas festas.

- Tudo bem, tudo bem... desta vez te perdoo.

- Mas, como o senhor cresceu não é mesmo? Está um rapagão! Deixe-me
ver... sim, são os olhos de sua mãe, mas a pele, a pele é de seu pai.

- Sim, mamãe tinha lindos olhos... Mas meu pai... não sei. Acha mesmo
que minha pele parece com a dele?

- Sim, “ C’est blanche comme le lait” – como todos diziam ao seu pai.

- Ehhh... acho que minha mãe chegou a comentar sobre isso. Olha, o
papo está bom, mas tenho que ir. Você entende, minha presença é
requisitada lá dentro.

- Já... mas tá cedo ainda, a gente ainda nem se falou direito. Falta
falar dos seus tios, da sua prima Beluska... e o Willer, seu primo,
como anda?

- Todos vão bem, todos vão bem...olha , se você não se incomoda...


- E sua vó, não veio? Ela nunca perde uma festa... ainda mais quando
se trata de uma festa de Madame Garceau.

- Sim, vovó adora madame Garçon.

- Garceau...

- Ah sim, desculpe... foi só uma piadinha.

- HAHAHAHAHA... que ela não saiba que eu ri.

- Agora, se me dá licença...

- Mas...

Jean voou pra dentro. Se continuasse naquele ritmo ele seria
descoberto ou, pior do que isso, coberto, pois o porteiro parecia
estar demasiadamente interessado em saber de Jean, em se aproximar
dele...e... Bem, quem lê sabe imaginar reticências pra quaisquer
acontecimentos.

O Toreador’s Hall estava cheio, o que era ótimo, pois Jean Jacques
podia se esconder no meio daquele mundaréu de gente. Tirou seu
caderninho e começou a anotar tudo. O piso estava lindo naquela noite;
as portas, luxuosas; os lustres – meu deus, que maravilha!; as
pessoas... bom, as pessoas estavam na mesma; e havia algo a mais: o
Buffet.

E foi para lá que, pressurosamente, ele se encaminhou.

Que beleza! Nada melhor para um bicão do que aquela fartura de comidas
desconhecidas, juntas, por sua vez, com comidas conhecidas, mas que
não se vê todo dia: ah coisinhas miúdas que se derretem na boca, ah
licores azuis verdes vermelhos amarelos, ah bebidas das quais o nome é
praticamente impronunciável, ah quitutes, petiscos,ah suculentas
iguarias sem fim, ah vinhos de todos os tipos! ; ah... mais vinhos de
todos os tipos!; ah... por favor, mais vinhos de todos os tipos! ...

Foi quando Jean viu o ponche, o Éden das bebidas. Não se conteve e não
somente se deliciou em beber inúmeras taças, como também bebericou o
resto de bebida resignada nas taças daquelas pessoas que de tão
acostumadas com a opulência, já nem percebiam a sublimidade de tudo
aquilo. E continuou a beber. O ponche era fraco, porém delicioso e
tanto, que Jean começou a procurar as pessoas menos lúcidas da festa,
para que pudesse, assim, roubar as taças que ostentavam em suas mãos
e reencaminhá-las para o seu bucho, lugar perfeito para não deixar
evidências do roubo. E saudável, diria-se.

Ora, mas como se sabe: tudo que desce, desce ainda mais. E as ondas de
vinho, precisavam se quebrar. Sim,naquele instante, Jean, , começava a
entender desbragadamente a expressão “passar por um aperto”.

O problema agora era saber onde ficava o banheiro. Olhou para todos os
lados e sequer uma porta escrita W.C. Ele precisava ir logo, alguns
pingos de leve avisavam-no de que quarenta dias e quarenta noites de
ouro jorrariam como maná, não mais do céu, mas do homem e para os
homens.

O banheiro, o banheiro, o banheiro. Nada, nada, nada. Jean era um
conta-gotas garoando. Não agüentando mais, foi para trás da mesa
principal e escondeu-se. Apertou-o firme para que nem mais uma
gotícula escapasse.

Segurou.











Segurou










Segurou.






E não pode mais se conter. Nem tentando esquecê-la, a vontade não
passava. Precisava fazer. Olhou para todos os lados, as pessoas
estavam distraídas... e na mesa havia uma taça grande.

Não teve outra, Jean apossou-se da taça, enveredou-a até mais embaixo.
Um jato. Quente de fazer suspiros e até brandas fumaças:
“ahhhhhhhhhhh” – o começo do alívio.
Contudo, aquela taça grande não era proporcional ao valor líquido (ou
será bruto?)da atitude de Sans-Cervell... outra taça era
necessária.Substituiu a primeira, pedindo licença a ela. Sua educação
era tanta que, no fim, até chacoalhou docemente, com finesse e
elegância e, finalmente, vendo que ninguém mais consumia o ponche,
decidiu doar um pouco de seu interno teor altamente alcoólico para os
companheiros de festa. Despejou seus litros no ponche e misturou
vagarosamente. Sim, agora sim! o ponche estava com uma cor vivaz e
sedutora, enfim.
Toda aquela emancipação dionisíaca começou a crescer. Os internos de
Sans-Cervell queriam também participar da festa. Houve um alarme que
indicava a vontade de revolução intestinal. E ela vinha em hora
errada.

Duas pessoas estavam se aproximando. Jean com “o” na mão,
literalmente. Uma delas era uma garota de Jeans, que o olhava com uma
atenção estranha. A segunda, era um senhor com um enorme bigode e
extremamente bem trajado.

O repórter estava completamente envergonhado. A garota não parava de
olhá-lo. E chegava cada vez mais perto e perto. E ele perto de...
Foi quando veio um golpe e Jean dobrou-se pra que algo não saísse.
Porém, quem é que pode conter os atos falhos?

A garota agora colada no jornalista. Olhos negros, amendoados que
aumentavam a vontade dele... As contrações vinham... Jean respirava
como uma grávida, uf uf uf... E onde estava o lugar onde ele poderia
abundar-se e refestelar-se com o prazer de se libertar por inteiro,
longe das inibições causadas pelo convívio social?
O olhar da garota de Jeans era de uma espécie de amizade. Sans-Cervell
já não podia mais aguentar, foi andando até a moça, tropego e com
dores de parto. Algo lhe dizia que ela lhe entenderia e,ainda por
cima, ajudaria-o. Ele então suspirou, colocando a mão por sobre o
ombro dela:

Pelo amor de deus me diz onde é o banheiro que eu preciso cagar urgente.

A garota não escutou direito, ou na verdade, escutou e reagiu. Porém,
Jean, por sua vez, sentiu apenas como que o vagido de um bebê saído.
Era alarme falso, de flato – e ainda bem...

Mas o outro homem que passara pelo repórter, dirigia-se à mesa principal.

Ao ver aquilo, Jean buscou aproximar-se. O rapaz havia depositado o
ponche numa taça e estava prestes à bebê-lo.

Eu não sei não... acho que talvez o senhor não devesse tomar o ponche.
Ele parece meio quente demais – disse o jornalista, tentando ser
caridoso.
Olhe , rapaz, eu não me lembro de te questionar sobre o meu gosto por
bebidas... E quem o senhor pensa que é para me sugerir algo? Agradeço
sua preocupação, mas não será necessária a sua argúcia na escolha das
bebidas. Ora... Eu bebo ponche desde antes de o senhor pensar em
existir. Se o senhor me der lincença, agora desfrutarei de minha
bebida.
Está bem,está bem. Mas eu sei do que falo, esse ponche eu conheço
desde sempre... e ele vem sempre bem quente... e espumoso... o que
pode não agradar seu gosto...
ORA!

O jornalista ainda chegou a dizer mais alguma coisa, contudo, aquele
senhor não o escutaria nunca. E também quem o faria diante daquela
bebida maravilhosa? Qualquer um – absolutamente.

O senhor bebeu numa talagada só. Seu enorme bigode todo molhado,
deliciosamente, fio a fio, com aquele suco alcoólico fino, um pouco
salgado naquele dia, de fato, mas, “meu deus do céu que relíquia!
Quem foi que deu este sabor?, este sabor... hum...suavemente marítimo,
sim, essa é a melhor definição! Eu preciso conhecê-lo e agradecê-lo”.
Bem, quem sabe um dia Jean mudasse de emprego, seguindo as tendências
naturais de seu corpo. Não deve ser o caso, entretanto.

De repente, uma senhorita de roupas extremamente aprumadas se
posicionou ao lado do senhor de bigode. Ela estava contente por ver
aquele homem feliz, inebriado. Jean observou-a, ela era linda. O
debuxo do corpo, a resplandecência da pele, o jeito sensual de se
mover, aquilo tudo fez com que o rapaz sentisse impetuosidades
desabrochando.

O problema é que a senhoria também percebeu a forma destas
impetuosidades e a braguilha estava aberta, ainda por cima.

AH!

E o jornalista não soube o que fazer. Tentou zipar-se, mas uma espécie
de coceira se manifestou no mesmo momento em que ele tentava fechar a
calça. Não teve jeito, a coceira era intensa demais. Ele até tentou
disfarçar a presença incessante daqueles comichõezinhos, no entanto,
sua mão já se manifestava por si só. E Jean ficou lá, tentando fechar;
tentando coçar. E ninguém sabia quem venceria a luta, se a mão direita
– coçante – ou a esquerda – zipante.

O público do espetáculo, entretanto, queria era jogar seus tomates. O
senhor de bigode se aproximou, buscando proteger a visão das damas.
Jean, temia uma bifa e se afastou, o que fez com que todas as outras
mulheres do recinto vissem o estado alterado dele.

Um show de gritos:

Tirem este porco daqui!
Pelo amor de deus, como é que pode?
Que vergonha, eu nunca imaginei que num lugar como este algo tão
horroroso pudesse acontecer!
E algumas mais agitadas:

Desçam o cacete nele!
Na cara, acertem na cara!
Um chutinho não faz mal a ninguém!

E uma, totalmente possessa:

Vamos assá-lo!

Jean estava perdido e a braguilha continuava aberta. Umas das
mulheres, mais empática, mostrou-se solícita em ajudá-lo. Apesar
disso, sua vontade foi dizimada quando o rapaz, que coçava avulta e
aviltantemente, para agradecê-la, sem querer, fez isto com mãos
acabadas de saírem do úmido, caloroso e obscuro “dentro-das-calças”.
Foi o suficiente. A mulher estendeu de mão dada um cumprimento...
TÁ!!!!! Aquele tapa teria doído muito mais, não fosse a fervorosidade
das partes de baixo do rapaz, que se agitavam em frenesis de
pulgações.

O tapa, contudo, levantou os ânimos da mulherada e de alguns homens. O
lugar tornou-se uma baderna. Aquela cena era um pastelão. Boa parte
das mulheres do Buffet queriam bater em Jean, os homens queriam
moralizá-lo à força, e o que restasse não estava nem aí e adoraram a
confusão, pois assim sobravam mais canapés e brioches e vinhos e
licores e quitutes e... é claro – o ponche.

A garota de jeans surgiu, de chofre. Puxou Jean do meio da confusão e
levou-o para um outro aposento. Disse algo a ele, mas Sans-cervell
estava muito ensimesmado com a coisa da coceira.
A moça compadeceu-se de Sans-Cervell. Notando seu estado, não teve
dúvida, tirou o gelo da taça em que bebia (não, ela não bebeu o
ponche) e jogou-o, com uma excelente mira, no vão da braguilha.
Aquilo doeu um pouco. O imapcto da batida, mais o frio do gelo,
queimaram a priori. Após, porém, uma sensação de dormência calou a
coceira.

Jean estava definitivamente agradecido.

Foi quando veio um homem na direção dos dois. Lá estava ele, único em
trajes originais. Vinha com uma enorme cartola, modelo 378, com
enlaçamento espacial 12 e fita isolante para aprumo.
Retirou a cartola num gesto e disse:

Boa zero horas e meia da manhã, dois coelhos numa cartolada só? - e
fez um movimento, como que sugerindo “ Podem entrar, a cartola é
pequena, mas é como coração de mãe, sempre cabe mais nenhum”.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Piso

pisar

pisar na grama

invadir lugares desabrigados

e enfrentar seus cães famintos



pisar

pisar na merda

andar com ela na sola

fedendo nos espaços públicos e privados

devolvendo o cheiro

oculto

das pessoas

a elas mesmas



pisar

pisar fora das nuvens

para não deixar que o ar

seja invisível

e sim a sensação do sopro

na espinha



pisar

pisar no solo

para que se sinta ainda

não somente as suas planuras,

mas, principalmente,

as suas pedras e rachaduras.