terça-feira, 30 de junho de 2009

o inarrável despersonalizado?

Criou-o. Quem havia, este era o problema. O narrador (eu,será?)deu vida ou quase isso. O personagem, então, existia? Era ele um simulacro da realidade? E a realidade também não era também um simulacro de sua visão? E esta visão era alguma realidade?
O narrador se perdia junto com a personagem, que até este momento era o personagem, mas se perdeu em gênero. Agora, algo se feminizara? Ainda continuava alguém: homem, mulher,animal,ser, entidade? Espaço entre, isto indicava o indiscernível personagem?
Ou ele, ela, a coisa ou o nada era apenas a ficção da personagem? O narrador se fugia em seu próprio discurso. Onde estava? Seus dedos acaso criavam ou o mecher-se era daquele que queria ser feito. Mas aquela coisa que se move e tem ações pelas mãos do narrador, então é ela que lhe dá a voz. Contrariamente, ressoava o silêncio, o silêncio da abstração. Já era demasiado, tudo era nada materialista, e se via algo, se lia, se acompanhava uma história... história mesmo, ou para o dito, criado, tudo possuia materialidade? Porque o narrador é um arrogante e um intrometido, quer ser Deus por não possuir nenhum deus! - Quem é que quer ser deus aqui, nem eu mesmo te controlo, nem a mim mesmo me controlo... - e estas vozes sairam? Houve sequer uma conversa? O narrador é um monólogo, personagem de si mesmo? Ou ainda outro e outro e outro e... nem ao menos isso? e aquele que criou ou o trabalho da mão, o que é isto? Um arranjo próprio do sentenciado - personagem é o sujeito (e assim, o ser)de uma oração que o caracteriza? O personagem é uma sintático-semântica?
Melhor seria acabar com tudo isso, pois isso não vai... mas matar o personagem, como fazê-lo, será eterno ele como ideia e sucessivamente também o seu autor-autorado?
Apagou-o. E esqueceu-o, ou será que tudo se transformou em outra coisa, de traços novos e que continuam a se mudar... Pra se achar algum materialismo, as coisas se mataram... o morrer, isso, já não se sabe.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Nora?

É mais um dia amanhecido... grande coisa, diga-se de passagem. Mas há ainda quem acredite que o dia será maravilhoso. E, ainda bem, para a felicidade da antítese.
Nora notou-se naquela manhã, nunca gostara de espelhos, contudo, a janela não lhe deu escolha. Viu-se e deslumbrou-se. Após deslumbrar-se de como era, deu uma de narciso e quis pular no rio, só que, distraída, notara-se demais para perceber que pulara, na verdade, janela afora. Caiu em cima de um carro, ou fora em um pedestre, ou na rua mesmo? Esse é seu segredo. E não convém aqui contar os segredos íntimos de alguém. O que podemos dizer, porém, é que um adolescente que passava, observara toda a cena. Aliás, ele foi quem ligou pra polícia, ou terá sido os bombeiros que ligaram ou que foram chamados?

Isso não vinha ao caso. O importante foi o que os jornais comentaram, que isso é sempre mais importante do que qualquer acontecimento.Sim, o espetáculo do acontecer é sempre mais legal. Põe-se alguns dados pra dar uma sofisticada, coloca-se umas corezinhas bonitas, em tons agradáveis, sublinha-se palavras, nasce-se fotos quadradas com enquadramentos perfeitos em acutângulosidades mirabolantes e miraculosas e, disso, retira-se todo um substrato objetivo da veracidade de um acontecimento, veracidade com alguns detalhes a mais, bem dito, mas quem é que quer hoje em dia o cru , o banal de cair de uma janela? Não, é preciso se romanciar uma queda, mostrar cada milésimo de gravidade imposto na nela... só assim Nora será respeitada e sua morte valerá a pena – nem para o céu, nem para a terra: só para os leitores. E os leitores acham que é uma pena. Agora, onde está a área de literatura, o caderno mais-mais-mais, os classificados, a economia e o setor de esportes do jornal? - resposta: página 15. E não se esqueça de dar uma olhadinha na página 22, onde daremos dicas para uma melhor alimentação e para uma saúde perfeita.

Norisberta, Nobrisberta, Nóaberta, Norberta, a etimologia vem de algum lugar, mas o cartório havia definido como Nora (para não definir genra - hahahaha - piadinha sem graça). Ninguém quis saber disso, no entanto, o importante da notícia era saber quantos litros de sangue foram jorrados. Se o pulo fora hollywoodicamente ou bollywoodicamente isso agradasse, mas quem é que se interessaria por um pulo estilo novela mexicana ou , quem sabe, "vale a pena ver de novo"? Bom, pra tudo se há interesse hoje em dia.

Marilda, ou Matilde, uma empregada do pequeno bairro de classe média baixa de Inferlândia, teve interesse. E aqui vai uma crítica ao escritor do texto: o senhor não é meu pastor, e tudo me falta, então não me venha com seus preconceitos de classe média barata, digo, sem nem de graça, por que a Matilde ou Marilda, pobre, negra, empregada tem que ser colocada como aquela que tem o gosto por novelas mexicanas e o escambau a quatro?

Nota:

O autor vem, por meio desta, se defender do ocorrido no meio do texto. Pede perdão, sente-se culpado, e só não quer ser preso por preconceito, senão teria mesmo é achincalhado tudo. Aliás, ele mesmo envia esta nota de repúdio a sua própria atuação e promete continuar o texto de maneira a contemplar democraticamente a todos, mesmo acreditando que a democracia posta da maneira que está é só muleta. Mas fazer o quê , né?


Nota 2:

O autor real deste texto lamenta a usurpação cometida pelo outro autor e seus comentários preconceituosos. Ele, o autor do texto real, quer apenas dizer que isto se trata de uma ficção e que a realidade aqui exposta é uma semelhante a possível da vida, (se é que estoutra possui, de fato, uma realidade), mas que não é , de modo algum, uma atitude preconceituosa, mas na verdade, apenas uma narrativa que quer tratar de alguns temas referentes à realidade de seu país, só isto e,sobretudo, isso.

Diagnóstico:

Meu nome é doutor Francisco( mas Chiquinho pros pacientes íntimos). Quero dizer que meu paciente não está em condições de escrever este texto. Isso se deve ao fato de ele apresentar sintomas do que se chama leigamente de esquizofrenia, mas como não temos ainda dados suficientes para forjar esta desculpa esfarrapada, trataremos de deixá-lo em observação, isto é, ele vai fazer o que bem entender e quando quiser que justifiquemos seus atos, alegaremos insanidade mental e estará tudo correto.

Atenciosamente,
Chiquinho


Maria Nora morta na rua dos desaparecidos. A vigilância sanitária foi levar o seu corpo e um bocado de lixo junto. Isso foi uma das matérias de jornal. A mais melodramática, quem sabe? Mas onde estava o fato, de fato, em todo esse discurso?

Norinha como era conhecida pelos seus vizinhos, após ingerir 34 comprimidos de...
Bom, eram comprimidos... teve um fim trágico se jogando pela janela do quarto andar de seu apartamento no bairro de Perdição, rua da boa morte. (aqui vemos que podem ser ainda mais melodramáticos).

Os residentes do prédio disseram ter visto ela antes do incidente. Niza Magalhães, 62 anos, disse : “eu tinha visto ela 1 hora antes de ela ter se jogado, ela estava bem e sorridente, não imaginaria nunca que ela pudesse fazer o que fez” e completou ainda: é triste quando uma pessoa tão jovem como ela morre, a gente que já viveu tanto e que está perto da morte, não entende como alguém no auge da idade faz isso... esses tempos andam muito malucos...”.

Aplausos para esta cena. Passemos adiante.

A residente do apartamento número 12 do edifício Vago-lume, no bairro de Cruz Jogada, Nora Vaz, jogou-se ontem do décimo andar. Pouco se sabe sobre o caso, mas alguns dos vizinhos dizem ter ouvido um barulho muito estranho em seu apartamento um pouco antes da queda: “Era como se alguém estivesse brigando, sei lá”- disse Eduardo Baleley, morador do apartamento 02 e vizinho de baixo de Nora.
A polícia disse que vai investigar o caso, mas já cogita a possibilidade de este ser, na verdade, um homicídio.

Esse tem um tom investigativo. Sentiu o suspense? Vamos ao próximo.

Repressão. Nora Lívia assassinada.

Nora Lívia, foi assassinada ontem, em sua casa, num bairro de classe baixa da zona leste de São Metralha. A jovem foi vítima de um atentado forjado por um grupo de policias que tentava impedir os movimentos sociais de seu bairro.

Uma semana antes, havia dado uma entrevista a uma revista, denunciando a prática extremamente autoritária da polícia, que desde o ano passado instaurara um regime de invasões constantes em seu bairro. A polícia alegava que o motivo destas invasões era acabar de vez com a dicotomia entre pessoas de bem e bandidos. Nora, que achava estes termos muito abstratos, acabou percebendo que ela também estava inserida na classe dos bandidos, uma vez que sua voz era contra a polícia e seu aparato judicial. Assim, Nora também tornou-se abstrata, de um dia para o outro.

Fomos conversar com o delegado responsável pelas supostas invasões, nenhuma delas retratadas pela mídia, ele nos afirmou: “nós somos a legião do idealismo, nunca iríamos entrar num lugar sem motivo. O caso é o seguinte, a ordem era pra que limpássemos a área, que tirássemos os bandidos do lugar. Chegando lá, olhamos as caras das pessoas e... olhando bem, percebemos que algumas delas tinham mais cara de bandido do que outras. Nas primeiras, metemos o cacete. Nas outras, demos porradinhas de leve, apenas pra que elas soubessem o que poderia acontecer, caso elas quisessem se tornar bandidas. Mas sabe que no fundo, achei esta nossa atitude muito violenta, mas o Estado sabe que quando precisa progredir a cidade, precisa de funcionários competentes, capazes de manter a lei e acabar com aqueles que querem acabar com ela”.

Conversando também com o porta da voz daquilo que chamamos Estado, ele nos disse que não há nada errado: “A polícia só foi até lá para garantir a ordem e retirar estes intrusos canalhas que assolam nosso país, estes vis bandidos que querem fazer com que as pessoas de bem sejam misturadas àquelas que produzem o mal, criando assim, uma miscigenação de raças que no futuro criará pessoas de meio bem e meio mal. Isto é uma vergonha!” (nota de rodapé - esta última expressão foi retirada de um jornalista famoso. Opus: jornal da noite, matéria 23).

E, por fim, falando com um morador local, que desejou não ser identificado, mas que devia ser chamar Pedro Gomes ou Gonçalves,obtivemos o seguinte relato: “é incrível que a policia venha aqui e nos trate como bandidos. Eu trabalho todo dia, pago minhas contas e ainda tenho que levar porrada quando volto pra casa, isso é uma palhaçada...eu sou pobre, mas sou gente, e de bem!”

Contemplamos apenas uma classe, passemos a outra.

Nora Schneiderman, professora de uma Universidade qualquer que tem grande valor para o país, morreu ontem asfixiada por uma bomba de efeito moral atirada pela polícia numa “manifestação pacífica” (é interessante, eles sempre colocam aspas quando querem moralizar – eu devo ter feito isso em algum lugar) contra a própria invasão da policia em sua Universidade.

Consultamos a reitora, funcionários, professores , alunos e o próprio espírito da professora, mas este último não quis se pronunciar, uma vez que a professora se afirmava como materialista e atéia.

O que conseguimos, contudo, a partir das entrevistas, foram algumas informações que chocaram até a nossa criatividade jornalística de gerar fatos: “O problema é essa reitora sem corpo que governa a Universidade sem saber o que está fazendo. Mas também o que posso esperar dela quando não é a sua mão invisível somente que empurra a polícia, como também a de seu conselho, a de uma Juíza que sabe-se lá o nome, e do próprio governador, que diz não querer se intrometer no assunto, mas alega que a polícia tem que entrar mesmo.”- colocou Danilo Frommer, aluno de um curso de uma das faculdades da Universidade.

Outro aluno, porém, afirmou que a polícia “entrou e deve continuar entrando e que quem tentar impedir tem que sofrer as conseqüências previstas pela lei”.

Já os professores, após uma discussão de sete horas, decidiram que deveriam mandar uma nota de repúdio às atitudes agressivas instauradas, infelizmente, no espaço acadêmico, fato que não mudou em nada a violência, nem chegou a atenuar realmente.

Outros professores, porém, ou não quiseram falar, ou apoiaram a reitora: “nós sofremos as conseqüências de esquerdismo fascista-comunóide-zarolho-e-psicopata- barbudo-e-mal-vestido que quer acabar com a nossa Universidade. Se atentarmos à produção de seus cursos, veremos finalmente que eles não estão fazendo muitas coisas para beneficiar a população. No fundo, o que eles querem é só fazer nada. Quer dizer, alguma coisa fazem, que é o mesmo que nada, greve.” Esquecemos também que houve uma parcela dos professores que disse não saber o que se passava, afirmando ainda, não querer nem saber e ter raiva de quem sabe (o que soa como um clichê até engraçadinho). Reivindicaram seus direitos de apatia e alegaram imperar na Universidade uma ditadura da voz e, às vezes, do berro ou do urro, que impede qualquer pessoa de ficar em paz com sua alienação ou com seu niilismo.

É tá bom. E...

A estrela, Nora Richards, morreu a poucos segundos atrás de um violento ataque cardíaco.
Segundo algumas más línguas, na noite passada Nora se encontrava muito baqueada depois de um pilecão muito loco que havia tomado. Após ter vomitado sobre a escada de seu enorme castelo (sim, ela gostava de ostentar ares de nobreza), a artista foi até seu quarto para repousar e esperar a maldita ressaca do outro dia vir. Qual não foi sua surpresa quando percebera que acordara morta. É uma lástima, talvez tenha dito. E completado, o mundo será um lugar mais triste sem mim.

De fato, foi. Bem, para seus tietes fanáticos. Um onda de pessoas acompanhou seu embalsamento ontem, às 0:00 horas (que fã que é fã nem pensa em dormir ou acordar pra cuspir- hahahaha -ai ai, mais uma piadinha...). Em dado momento, uma faixa foi esticada, como se fosse um tapete vermelho. Nela constava o seguinte dito: “Nora, estamos com você, mãe, estamos na TV! - Julio e Talita”.
"Tal manifestação só mostrou o carinho imenso que os jovens tinham por esta mulher", declarou, comovida, Bárbara Spiegel, melhor amiga da artista e herdeira do legado da amiga. Lamentou ainda: “o mundo perdeu um pouco de seu encantamento, pois nunca mais será o mesmo depois deste trágico evento... Nora , seja lá onde você está, que seja apenas lá, porque aqui tudo é uma merda.”

Onde paramos mesmo...? ah, sim... claro...

Não deixe de usar os produtos Nora, eles são os únicos com substâncias para lavar melhor a sua casa. Os resultados serão tão bons que até as suas vizinhas irão comprar... e mais ainda, talvez até o prefeito de sua cidade queira comprar para erradicar a sujeira das praças, começando pelas árvores, depois quem sabe até pelas pessoas, e enfim por tudo.
Compre agora que é bem baratinho e feito exclusivamente pra você e pra quem mais quiser comprar.E nunca se esqueça, o que você faz em casa, beneficia o que está fora dela. Ao comprar Nora, você estará também ajudando a manter sua cidade mais limpa.

Nora: a higiene começa com você.

Esta é uma boa forma de falar que todo mundo é sujo mesmo. Até tu, Nora? Quê que falta?

Nora, funcionária do INSS, vagabunda, ontem foi finalmente presa por incentivar seus amiguinhos a fazer greve,esta estabelecida devido ao aumento do expediente de trabalho. Como uma bom número (para eufemizar um pouco) de grevistas não queria se ferrar e ser taxado de bandidos, criminosos, e toda essa ladainha rotineira, eles deram no pé. Nora que tinha dificuldades para andar, mas que talvez sustentasse a ideia equivocada de que não era vagabunda a despeito do que sempre se diz do funcionário público, deu azo a vontade da perna de não se mover.
Foi morta pela manhã, pelo que parece. Mas quem é que sabe?

Constando tudo o que apresentamos até agora, os índices de mortandade do país têm aumentado e muito, mas, hoje em dia, alguém ainda que acredita em estatísticas? Isso é só balela. Se bem que pode até ser verdade... Quê importa? É necessário que haja notícia de morte e violência e tudo o mais...e quão maior o grau da porrada, mais as pessoas se assustam e isso, além de aumentar nossa audiência, legitima a sociedade a pedir que a polícia acabe logo com esta porra desses bandidos... agora vambora, que hoje eu tomo uma Nora e ainda atropelo alguém!!....hahahahahah!

Nora: se beber, não dirija.

- Medrosos, medrosos, medrosos...
- tira o pirulito da boca Norinha, vai acabar perdendo os dentes... - em breve , nos cinemas.

- Porra, não entendo nada do que estou lendo.
- E pra quê entender, Nora?
(aqui deve ser a parte da metalinguiça, né não Nora?)

-Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh...

- Calma Nora, é hora de dormir...

- Liga a câmera! Na manchete,página 1, amanhã, a gente diz que ela vai morrer.

Caderno cotidano:

Nota de falecimento (ou de existência ficcional):


Nora ? Você é viva?

Não percam amanhã novas notícias sobre o caso Nora de Aparecida.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

quem se acha

geralmente não se encontra

sobra a arrogância

de arrogar-se

um achado.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

o que choca

é o choque

na maior

massa amassada.

temores de violência

e o discurso democrático que garante espaço para a indiferença de todos

ou

para a porta aberta à punho

o desalojamento

e quem sabe, como promessa futura,

só para cair no abstratismo maligno

a arma dentro da boca

e "fica direito, vagabundo!"

não, não

muito apocalíptico

tomaremos é porrada aos poucos

algumas veremos

outras consentiremos

e mais outras

nos entalaram garganta adentro.

O que nos assusta

é quando o sangue jorra

só isso

mas não vemos todo o sangue escondido

que sai podre das veias

nódulo

das violências

sutis

que não percebemos

ou que criam esta ideia

quem sabe

de sempre perseguição...
enquanto acreditávamos

por um segundo

que nossa classe de filhinhos de papai

nos salvaria

da conduta do esculaxo

bem perto

com suas carabinas entupidas

o cão burrão se achega

e já está aqui

mas já não estava sempre?

não sentimos seus latidos

o cheiro de seus pelos encoletados

o fio caindo

de seu membro violento?


a urina chinesa no chão

misturada ao asfalto

que gera

senão a truculência?


raspamos nossos pés-fósforos na rua

e a urina

amarelíticamente

se plasma:

estamos no fogo

e por cima de nós o fumo

algumas pedras com cara de bala

por dentro

as bombas obtiveram efeito moral

sentimos seus efeitos

mas as explosões sempre existiram

veladas

nas decisões dos abstratos

de cujos rostos são apenas fotos

sem nenhuma materialidade

senão a de suas ordens descendo

(obrigadas pelas ordens de outros)

servas do stablishment...

que vivemos

agora?

reação?

alguns moralistas saíram de suas tocas

outros pediram permissão democrática pra se esconder

após 7 horas

a papelada autorizada

uma nota de repúdio

e piquetes picados...


fascistas parecem todos aqueles que tem corpo

então, aqui vai mais um fascismo

que é o de ir contra o fascismo maior estabelecido

isso em nada resultará

mas precisamos pelo menos ter a dignidade

de rir

e assumir

que estamos inermes

que não sabemos o que fazer

que só sabemos contra o que não concordamos

e que estamos difusos

Somos essa massa estranha e heterogênea

que talvez pudesse um dia

esperar utopicamente o nada

ou iremos nos apronfudando

além disso?

terça-feira, 16 de junho de 2009

posso

ser posse

do que penso



poço


do que possuo


peça

do que peço


peso

do que pulso.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

àquela revista.

Como frases escritas em banheiros

ouço as letras

conservando

num pequeno espaço de linhas

todo o fracasso

do que se intitula ordem, direito,correto

isso tudo

pela frustração

de não poderem logo

dinamitar o espaço não higiênico

de uma viela oposta

ao sonho de edifícios mais e mais altos;

de uma rua sem saída

à ilusão de dar um passo à frente no progresso;

de uma favela,

lugar onde o todo sonho de rica vida

se desmantela

na visão de um morro maior que um prédio.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

cartório culinário.

A pasta

da massa

formata

a lasanha burocrática?

Portal

...................................Dado de mão fechada aos existencialistas



Vão da porta

pouco importa

se porta

(em vão)

a saída

ou

entrada.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Merdopéia

I

Crio versos do cu

pra não escrever

de cabeça.

II

enrolo o rolo

no verso

cago

erros higiênicos

do cu

Limpo-os

no papel...

o que há entre a linha e o boga?

a matéria defecária

os pêlos crespos enrolados

e a resina úmida

do bosta-poema.

III

Queria fazer um poema materialista

onde cada palavra

se concretizasse em sentido de cimento

e estacasse

vigorosamente

como edifícios colossais de tijolo

mas como do cu

sai só bolo

da bosta crio algo

resposta de algum dolo:

faço destas fezes

a epopéia sadia

de nossa época,

donde o cu

é o protagonista.

IV
poemas em rolo

1
Antes do banho
o sossego da bosta.
2
Depois do banho
um punzim marrom.
3
papel higiênico
como absorvente
pra prevenir
a vida-cu.

V

o cachorro quente
me latiu as tripas
em sua homenagem

rolos e rolos e rolos

Fiz este então
pequeno pergaminho:

de merda.

VI

a vontade de cagar da freira
fez com que deus se abençoasse
em substância.

VII

me perguntaram
sobre a psicologia interior
o insight
o self
os de-dentros.
respondi
curto,grosso, roliço:

A única psicologia possível
é a que se faz
pelo ego
dos intestinos.

VIII

pelo laxante
será
a saída
da política?


IX

Elegia à merda

tu, que tantas vezes
fugiste do meu cu
sem que eu quisesse
agora
porque insistes
em meu ventre
lembrando que a vida
é este prazer e esta dor
de sentar-se
e esperar de repente
o imprevisível?

X

pronto
saíram todos
e
que
bela
cagada.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Uma das história do palhaço biffe bouffon

Biffe Buffon não entendia mais nada. Quem teria certeza de alguma coisa? Tirou do bolso um dicionário de etimologia de um autor desconhecido. Observou a palavra, ele estava certo, não se sabia com certeza nem mesmo da onde vinha a certeza.

Mas aquele era assunto frugal. O que se passava ao redor é que dava ares de imprecisão. Buffon, palhaço que era, não conseguia entender a piada.

Raridade.

Os trabalhadores e os que empregavam. O velho confronto. Greve grave. 4:30 da manhã, sol nem escorregado no céu ainda, e lá estavam todos. Remelas nos olhos e temperatura de guerra, no frio gélido da matina.

E chegou chegando de repente, dos invisíveis do dia, a gambezaiada. Um gambá escondido gritava “roubaram meu nome, roubaram meu nome”, mas o conflito sobrepujava o hálito de seu corpo, fazia de assobio o grito de sua voz.

Bom, mas lá estava a polícia. Protegido o corpo em sufixos: colete, capacete, cacetete e etcete. Quem poderia tirá-los destes sufixos e acertar um único golpe que pudesse chocar o CHOQUE até a raiz?

Pelo menos tentavam, os manifestantes.E para quê mesmo? Buscavam os seus direitos. 20 anos de tentativas frustradas de ter o seu direito vindo direto dos cargos mais altos. E foi por isso que quiseram invadir. Ou talvez alguém tenha dado um berro um dia e aquilo se metamorfoseou em dor do proletariado. E aqui vai parecer que é o narrador é conservador. Melhor então eu tirar o meu da reta, flauberar, deixar a história falar por si mesma.

Ouviram então o grito :

- Você quer nadar, burguesinha? – era um homem tentando manter a greve que havia sido aberta por um policial.

Aberta mesmo. O portão havia sido educadamente escancarado. Os policia declamaram que o lugar estava operando normalmente de novo. O detalhe, o lugar era uma faculdade, autônoma, cheia de si, apelando agora para instâncias maiores, mais autônomas( mais violentas?).

Enquanto isso, um garoto acompanhando de longe pensava: um dia entraram na classe de aula, darão porrada nos professores ... ou talvez até em nós alunos... sinistro...

E Buffon não entendendo, não entendendo. Olhar por todo e só via o todo desconjuntado, pedaços de argumentos válidos descendo pela cabeça, mas a piada não se fazia, não tinha sentido, nem sequer ía pra algum lugar, estagnava, piava piada parada.

Só vozes voando, berros roendo o ar, e a disputa política fugia. O barulho dos cacetetes era mais forte, os escudos enfrentavam melhor, os argumentos procuravam tocas para poderem murmurar até que escapassem sem dono, surgindo de um buraco apenas por um eco reivindicatório.

Logo logo, só existiam soldados ali. E onde era mesmo? O lugar parecia ser a terra de ninguém, conquistada agora pelo cinza policial.

Dentro do movimento dos manifestantes, acordos dissidentes. Um megafone de som conhecido e vindo do nada pediu: Vamos todos ficar unidos, nós do Sindicato dos... – ele pausou, talvez tivesse esquecido o nome, talvez não pudesse fazer aquilo, estivesse com medo de dizer o que precisava ser dito, decidiu:

- Deixa quieto, estou cansado. – e outro som substituiu: - é preciso que é preciso qué preciso que é preciso e alcançaremos um dia o é preciso! Greve atrevida, continuaria, apesar de tudo. E ainda assim, grevistas ainda tinham medo do depois mais tarde. Que fariam? Uma voz vociferava do alto de um prédio: Vós vos preocupais com o que comer, o que beber, pois eu vos digo : não só de pão viverá o homem, mas também de porrada, de cacete e de instâncias superiores para ferrar sua vida, papéis, leis espirituosas, aparatos de controles das massas e muito mais... – sumiu alguns instantes –
E

Voltou:
- Esqueci de dizer: abandonem vossas famílias – elas só castram e enchem o saco, depois de puxá-lo.

Alguém ligou a televisão: Não percam o último episódio de ontem de “os grevistas apaixonados” – era a reitora que assistia convulsivamente mais um episódio maravilhoso de sua novela das nove. Alguém fofocava, mas o que é que isso? Ela assiste lá, e a gente aqui, ah puta que pariu!

E chutaram uma porta de vidro. Buffon ficou com medo de ser jogado como tronco de árvore, no intuito de sua cabeça romper a janela e o pessoal entrar. Bom, pelo menos agora tava mais com cara de piada. Talvez até faria sentido.

E apareceram os alunos. Putos. Reclamando. Sempre reclamando. Ao lado deles, professores, quietos, sempre quietos. Um deles porém, deles quem, alunos ou professores? Tanto faz, um deles começou a espalhar algo que alguém de um partido ou da reitoria disse. E um alvoroço começou.( mais um?). E palavrões subiam, transcendentais, galgavam os espaços cósmicos das galáxias do mal.

A agitação aumentou.

O começo recomeçava.

Onde é que a história teve princípio? Era na era do capitalismo-baby? Quando ele cagava ainda na nobreza? E a exploração tornou-se outra e desembocou agora onde?
Bem na porta da reitora?

Não sei. Mas o fim deu na cabeça de Buffon. Ele, que não entendia nada do que se passava ali, nem percebera quando uma assembléia havia começado. As pessoas discutiam coisas sérias, mas grande parte do tempo o assunto era bem mais sério:

- Quem vota pra que se fique de pé?

Silêncios ecoantes.

-Quem vota pra que se fique sentado?

Eh...
-Quem vota pra ir embora.

Bem... eu não sei... e..

- Quem vota algo?

Ora...

- Quem quer pão quem quer pão muito pão pão pão?

As palmas começaram a subir. E as palmadas também, que era o que Buffon recebia por achar tudo aquilo muito engraçado. Uma revolta se instaurou quando ele não conseguiu mais se conter e peidou um pouco, até se cagar de rir.

O megafone, então, ressoou altissonante: Ele se enfeza de nós, ele ri, vamos quebrar os dentes dele pra que ele daqui pra frente só seja triste!

E lá foi Biffe, promovido de palhaço a homem bala, no circo cotidiano. Deu com uma janela, perfurou-a. Caiu de bunda na cara da reitora, escapou-lhe um gás. Ela lhe disse:

- Você anda saudável demais. E chamou a polícia.

E lá vieram as fardas, fartas das picuinhas de um universo bobo.Levantaram Bouffon do colo da reitora, colocaram-no as algemas, e ele com aquela cara de ovo. Criava piadinhas infames: “All gemas”- hahahahah-. E se acreditava um pinto. E ria de sua piada em estado de ovo frito.

Achegou-se no opala preto da polícia. Outra vez o início da história. Porrada. Porrada. Porrada. Pedras no vidro, paus nos cus, nas caras, policiais furiosos e com suas bombas. Buffon ria ria, e soltava. Escapava pelos fundos.

Finalmente, caiu no núcleo da sobriedade. E era jogado, um rockstar às avessas, pelo público. Uma porrada na cabeça, cadê todo mundo? Num momento tudo ficou longe, onde estava mesmo?

No começo de novo. Estivesse em casa, quem sabe, sobre o travesseiro. No hospital, depois de uma sova. Fim, começo, cada um tem seu preço. E os policiais continuavam a ronda, sirenes sempre alertas – todos sempre seguros.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Sacada Burguesa

A amplidão do mundo

e o perímetro

de uma sacada burguesa.

O desconhecido

e a promessa

de saúde

e segurança.

O caos, o acaso

sendo controlados

por papéis, polícias, instâncias

onde a administração

vira gerência

ou porrada.

Todos esses paralelismos nos levam

a esta vida frustada

de classe média almejante

que no fundo

define o nosso tempo,

mas que não pode nem ainda

afirmar para si mesma,

o seu imenso

nada.
E enquanto eu me preocupava em ser homem

Todos os grupos subjugados antes

hoje me olhavam com desdém

eu agora era só a fugidia imagem

de um conquistador barato de mundos

Minha cultura

fora algo de outrora

está doravante esquecida

alguns estilhaços

.............................................................................por aí

poucos farrapos de resistência sendo destruídos pelos que ontem chamavam-se de pequenos, de escravizados , de menosprezados

As vozes viraram verbo na carne (facas querendo os meus músculos)
e o prícipio não era aquele imaginado
tantas teorias se sobrepujaram umas às outras

e a realidade já não é aquela etérea única e longe
de nuvens feita
e de paraísos placebos das dores do mundo
e reinos que sobraram em castelos fetiches de cameras fotográficas turistas

Realidade. na realidade, o olhar ontem real já nem mais existe, será?

E a minha pele branca já não pode mais nem chorar
meus olhos azuis, águas navegadas do passado
meu corpo é só a caravela perdida
no triângulo em crepúsculo da história

E nesse instante, ainda posso dizer:

Homem?


II.

É preciso se criar outra maneira de dizer homem.

Mas quais opções obter
do desconfiado modo de dizer:

Humano.

III.

Mulheres que se fazem pelo ritual

vermelho

e os bêbes masculinos já são homens,

do parto?

e vejo-me no século

..................................a parte

junto a alguns idealismos
positivismos
e niilismos

fontes tão secas querendo um insular víveo.

ser homem num mundo de não-alguéns?

quê é isso?

IV

Não alternativa senão a violência?
O machismo acaso é um rifle na mão

tiros.................tiros............tiros

?

paudurescências?

e um pouco mais de músculos?

V

o crepúsculo do macho
na orla do céus sem estrelas
do nosso falso iluminismo de cada dia
o entardecer do mundo
no armagedom de um futuro sem revelações...
Abro a porta da casa
a casa cai
estou por baixo dos destroços
sou como um rato num labirínto de um laboratório de ciências
e , no entanto,
não me atraem o sino, nem a campainha
e já nem quero mais a comida
da experiência?